Nascida e criada em Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife, Carolina Patrícia dos Santos, de 44 anos, é um rosto conhecido na comunidade. Mãe de sete, ela entrou na militância no início dos anos 2000 e se consolidou como uma importante liderança do bairro. Depois de quase duas décadas de doação às pessoas do território, é a vez de Carol receber apoio. Os movimentos populares se juntaram para retribuir sua dedicação e organizaram uma vaquinha para custear a reforma há muito necessária da casa onde ela mora com os filhos.
O imóvel tem 22 metros de comprimento e 10 de largura, uma área dividida em dois quartos, uma cozinha e sala pequenas e um banheiro. Erguida há 19 anos, no terreno herdado da avó, a estrutura está precária: as paredes estão todas rachadas, ameaçando o colapso da casa, e o telhado, furado, molha a família quando chove. Não há caixa d’água, geladeira, armários, pias ou chuveiro. Carol conta que a comida é armazenada em um móvel e, sem torneiras, a água chega em canos. Para tomar banho, ela os usa para encher um balde.
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“A pilastra está se abrindo, os ferros estão todos expostos. Essa casa precisa ser toda derrubada. Ela está toda mal feita, eu iniciei uma construção desde 2003 e não consegui concluir. A qualquer momento ela pode cair”, diz. Quando descobriram a situação em que Carol vivia, os integrantes dos movimentos populares dos quais ela também faz parte tomaram a iniciativa de criar a campanha de financiamento coletivo 'Casa para quem é casa' para ajudá-la a conseguir uma habitação digna.
A história de Carol na militância começou em 2004, quando teve contato com a ONG Turma do Flau, que acolhe crianças em vulnerabilidade social. “Em 2006, minhas meninas mais velhas entraram nessa ONG e eu virei uma ‘mãe do Flau’. Na época, uma mãe ficava a cada mês na cozinha. Me chamaram e eu fiquei; a partir daí, as diretoras perguntaram por que eu não ia ser educadora. Precisei voltar a estudar para poder estagiar lá, e depois disso me tornei educadora”, relembra. Na Turma do Flau, ela coordenou projetos e até hoje trabalha com o público infantil.
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Em 2010, seu caminho se cruzou pela primeira vez com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), quando participou do Grito dos Excluídos e fez campanha com a Consulta Popular sobre uso de agrotóxicos. Depois disso, entrou na Marcha Mundial das Mulheres, onde hoje faz parte do Núcleo Soledad Barrett.
Em uma reunião das mulheres da Turma do Flau, em 2018, surgiu o projeto de fabricação de vassouras a partir de garrafas PET. Carol encabeça a fábrica onde desde 2020 é feita a produção que gera renda e autonomia financeira às artesãs. “No início, éramos 5 mulheres, hoje somos 20 na fábrica e ao todo somos 25, contando com a secretaria da Marcha Mundial das Mulheres”, revela. Também a partir da pandemia, a militante se engajou na Campanha Mãos Solidárias - que providencia alimentação às populações em vulnerabilidade em Pernambuco -, comandando a atuação do grupo no território de Brasília Teimosa. A pessoas e organizações que desejam ajudar na reforma da casa podem contribuir pelo link da Campanha "Casa para quem é casa".
Edição: Vanessa Gonzaga