Para quem ainda está com a esperança das imagens, das cores e da irreverência do Carnaval, fica o decreto: só teremos Carnaval, talvez, em 2023. Isso porque não temos condições sanitárias favoráveis para a realização da festa, devido à pandemia de covid-19 e suas variantes.
Com isso, diversos estados do país tiveram que cancelar mais uma vez as festividades. No Nordeste, que é famoso em abrigar o Carnaval das multidões, apenas Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe devem adotar o ponto facultativo no feriado que iria até seis de março. Em Salvador, onde acontece um dos maiores carnavais do país, a alegria saiu das ruas e permanecerá em casa. O governador da Bahia, Rui Costa, decretou o expediente normal nas repartições públicas. A medida se repetiu em Pernambuco, onde até as festas particulares foram proibidas.
Além dos foliões, quem sente essa mudança são os blocos de rua que, há bastante tempo, movimentam as cidades levando cultura e muita animação. O bloco Ilê Aiyê, de Salvador, criado em 1974 foi o primeiro com o objetivo de africanizar o Carnaval soteropolitano, se firmando como polo de protesto ao racismo e tomando espaço para a representação do negro e das raízes africanas na cultura nacional.
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É o que aponta Vivaldo Benvindo, fundador e organizador do bloco Ilê Aiyê. “O ilê faz um trabalho social desde a sua fundação. Criamos uma escola através de Mãe Hilda, que começou dentro de um terreiro do candomblé, depois veio a banderê. Então, nós, há aproximadamente quase 40 anos viemos fazendo o papel do governo”, relembra o fundador.
E não é só para os brincantes e os blocos de rua que as festividades e a folia tem feito falta. Segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio (Fecomércio), o último Carnaval, realizado em 2020, movimentou cerca de R$8 bilhões na economia brasileira. Parte dessa renda veio dos ambulantes que agora estão sem trabalhar.
“Várias famílias aqui da comunidade que é a pessoa que vende um tira-gosto, a pessoa que bota um isopor na porta ou na janela pra vender uma cerveja. Vende um feijão, vende um mocotó e várias comidas baianas por aqui e várias coisas que se comercializam aqui na comunidade... Então, tudo isso, essa comunidade, está toda impactada”, destaca Vivaldo.
Esta realidade se propaga por outros estados do Nordeste, como em Pernambuco, onde também não vai ter festa. Sem desfile de blocos, maracatu ou coco de roda, o Carnaval é simbolizado com um pouquinho de decoração. Em tempos normais, a Avenida Conde da Boa Vista estaria lotada de foliões no sábado de Carnaval para acompanhar o maior bloco de Carnaval do mundo: o Galo da Madrugada. Uma figura que costuma ficar de pé na Ponta Duarte Coelho, no Centro do Recife, e observar lá de cima milhares de pessoas passando ao seu redor. Mas este é o segundo ano em que Recife não vai acordar com o canto do Galo.
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“A gente se sente meio frustrado, naquela expectativa de não estar fazendo aquilo que a gente gostaria de estar fazendo. Agora mesmo fica todo mundo nas redes sociais até brincando como se fossemos ter o desfile, tudo numa forma de tentar preencher essa lacuna, esse vazio que a gente tá tendo aí”, lamenta Rômulo Meneses, presidente do Galo da Madrugada.
Ainda que no meio de um cenário que não combina nada com a alegria do Carnaval, a esperança segue sendo companheira dos foliões e das foliãs que esperam o ano inteiro para chegar fevereiro. O sentimento é de que ano que vem vai ser diferente e a contagem começa agora.
Edição: Vanessa Gonzaga