MARÇO DAS MULHERES

Vozes Populares | Conheça o Coletivo Helen Keller, grupo feminista de mulheres com deficiência

Coletivo conta com mulheres das cinco regiões do Brasil e realiza encontros virtuais

Ouça o áudio:

Helen Keller contraiu uma doença chamada "febre cerebral" em 1882, ainda bebê, o que a deixou sem visão e sem audição - Foto: Divulgação
Em grupos feministas, muitas até escutam, mas não é uma pauta levada adiante e abraçada

[Audiodescroção: Em fotografia preto e cinza , sentada,aparece Helen Keller. Ela nos olha  sorrindo levemente e segurando um livro  aberto e grosso. Tem os cabelos ondulados e presos, usa um vestido de manga preta e um colar. Ao fundo uma estante com livros e objetos de decoração. Fim da descrição.]

Você já ouviu falar no nome Helen Keller? Helen Keller foi uma importante figura na luta pelo voto feminino. Nascida no Alabama, nos Estados Unidos, Helen discursou para a classe trabalhadora, escreveu 12 livros e também atuou como defensora das pessoas com deficiência. Ainda que essa não seja a característica que lhe define, Helen Keller também era surdocega. Ao longo de sua vida, conseguiu um grande respeito enquanto ativista e teve muitas realizações, sendo até nomeada ao Nobel da Paz em 1953. 

Foi também por unir a luta feminista com a luta pelos direitos das pessoas com deficiência que a ativista serviu de inspiração para o coletivo que a homenageia em seu nome. O Coletivo Helen Keller surgiu da necessidade de pontuar a diversidade dos corpos com deficiência dentro do movimento feminista, como também da importância de demarcar o gênero na vivência da deficiência. 

Natália Rosa é jornalista popular, feminista e mulher com deficiência. Ela vive em Recife e participa do coletivo junto com mulheres do Brasil inteiro, inclusive do Nordeste. "São mulheres que também, assim como eu, reconhecem essa invisibilidade do movimento feminista em pautar a a luta da mulher com deficiência", afirma. 

Leia aqui: Artigo | Mulheres com deficiência e a luta contra o patriarcado e o capacitismo

A jornalista chegou a fazer seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre o tema "A invisibilidade da mulher com deficiência no movimento feminista", e fala sobre o que falta para o feminismo ser mais inclusivo. "Dar mais espaço. Até mesmo quando a gente entra em grupos feministas em que a maioria não tem deficiência, muitas até escutam, mas isso não é muito levado mais adiante, não é uma coisa que que seja abraçada", diz. 

Além disso, entre as mulheres com deficiência também há uma diversidade de realidades que precisam de espaço para serem reconhecidas. "Mulheres com deficiência também são negras. Embora muitos não não queiram reconhecer, também são LGBTs, também são mães", defende. 

Natália ainda explica que às mulheres com deficiência é negado também o direito da autonomia para fazer escolhas sobre a própria vida, como, por exemplo, ser mãe. "Fica sempre aquela questão social 'ah, como é que você vai cuidar de uma outra criança se você não cuida de você mesma?', tratando uma mulher com deficiência como uma eterna criança".

Leia aqui: O direito de “ser” é permitido às mulheres com deficiência?

Criação do Coletivo Helen Keller


Objetivo do guia é informar sobre os direitos das mulheres com deficiência; ele traz militantes e pesquisadoras que são referências na luta PCD / Foto: Divulgação/Coletivo Helen Keller

Enquanto as mulheres com deficiência não se enxergam representadas pelos movimentos feministas, elas se articulam entre si para se fazerem ouvidas. Em 2018 foi iniciado o coletivo, que é composto por mais de 50 integrantes espalhadas pelas cinco regiões do país. Em parceria com outras entidades, o grupo atua na execução de projetos, participação em eventos, manifestações e no desenvolvimento de campanhas virtuais pelas redes sociais. 

Algumas das pautas prioritárias são a participação política das mulheres com deficiência, o acesso digno à saúde, educação, segurança pública, trabalho e à autonomia econômica. "A gente está [atuando] nesse enfrentamento ao governo Bolsonaro. Ele tem tentado derrubar muitos direitos das pessoas com deficiência de um modo geral, e a gente sabe o quanto isso atinge mulheres", e cita a tentativa da volta das escolas especiais. 

Leia aqui: Bolsonaro retoma escolas especiais dos anos 1970 e segrega alunos com deficiência

Para além dessas questões, são muitas as reivindicações das mulheres com deficiência, que são diversas e possuem necessidades diferentes de acordo com o contexto em que vivem, raça, orientação sexual e uma série de outras demarcações sociais. 

Quer saber mais sobre o que elas têm a dizer? Acompanha nas redes sociais: @coletivohelenkeller. Ouça o programete na íntegra no começo desta matéria. 

Edição: Vanessa Gonzaga