Falas de Jair Bolsonaro e de Arthur do Val andam de mãos dadas e partem do mesmo lugar: a misoginia
No mês da mulher, o Brasil convive com Arthur do Val como deputado estadual. É a confirmação daquilo que mulheres, no país todos, denunciam faz anos: a conivência das instituições brasileiras com a violência contra a mulher. Em pleno século XXI, com a justificativa de que iria colaborar com a Ucrânia na guerra atual, Arthur do Val expõe o que realmente o MBL deseja para o Brasil, um país em que as mulheres sejam e continuem pobres, para serem fáceis vítimas da lascívia de homens que, como ele, estão no poder e não tem nenhum compromisso com a igualdade de gênero.
Filiado ao partido Podemos, que tem como slogan “Juntos Podemos mudar o Brasil”, a fala de Arthur do Val representa o que há de mais abjeto na direita brasileira, o caráter impiedoso de quem não se importa com a dignidade moral e sexual de quem é oprimido pelo terror das armas, da desigualdade social, da violência policial e da fome. Não há interesse algum em mudar o Brasil, mas sim manter as estruturas de poder e de opressão que faz das mulheres uma de suas maiores vítimas.
Seu pedido de desculpas expõe ainda mais a falta de escrúpulos do seu movimento, do seu partido e dos seus apoiadores. Por se considerar jovem – apesar de contar com bem vividos 35 anos – entende que seu erro ocorreu em um momento de empolgação. No entanto, essa mesma direita brasileira que hoje em dia passa pano para sua fala e chega a afirmar que a indignação contra a fala de Arthur do Val é resultado do oportunismo político da esquerda, defende a menoridade penal, com a finalidade de que meninos de 16 anos respondam criminalmente por seus atos. Ou ainda, acreditam que meninas com 12 anos já sabem o que estão fazendo e são responsáveis por engravidar ou por serem estupradas. Ao que parece, de acordo com o MBL só se é jovem o suficiente no Brasil para errar e ser desculpado se você for branco e homem.
Trata-se de um movimento que até ontem defendeu e elegeu Jair Bolsonaro, defensor ferrenho da Ditadura Militar no Brasil. Uma Ditadura Militar que, nos dizeres do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade, perpetrou violência sexual e psicológica contra as mulheres como método político de controle e subjugação feminina. É importante também lembrar que, para Jair Bolsonaro, existem mulheres que merecem ser estupradas. As falas de Jair Bolsonaro e de Arthur do Val andam de mãos dadas e partem do mesmo lugar: a misoginia, o sexismo e a defesa da vulnerabilidade sexual de meninas e mulheres.
A institucionalização da violência sexual é um vergonhoso legado histórico do Brasil, já que a colonização em território brasileiro ocorreu através do estupro e da escravização de corpos indígenas e negros. Mais de 500 anos depois, a fala de Arthur do Val comprova que a premissa da qual partem os movimentos conservadores no Brasil é a mesma da colonização, a de que os corpos de mulheres não merecem compaixão, sequer nos momentos em que estão mais vulneráveis, como no caso das milhares de refugiadas ucranianas que, para o Mamãe Falei, são apenas corpos-territórios a serem invadidos e conquistados.
O 8 de março representa o dia de luta das mulheres em todo o mundo por uma sociedade livre de toda e qualquer forma de violência de gênero. No Brasil, os direitos das mulheres são reduzidos ano a ano, seja porque são rifados por uma esquerda irresponsável que se presta a subir no palanque com figuras que apoiaram o fascismo e o bolsonarismo, seja porque são mitigados pelas políticas conservadoras da extrema direita. Historicamente, não existe perdão por ser mulher no Brasil. Não coube perdão à Dandara. Não coube perdão à Esperança Garcia. Não coube perdão à Soledad Barrett. Não coube perdão à Dilma Rousseff. Porque não há perdão à ousadia de mulheres que ousam lutar pelo fim das desigualdades, da fome, da morte e da ditadura. No Brasil, o direito ao perdão é um direito concedido apenas aos homens brancos.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga