Tradição milenar que ultrapassa gerações, as mestras de coco são também lideranças que atuam dentro e fora das apresentações em busca de não deixar a tradição das rodas de coco morrerem em suas comunidades.
A morte da mestra pernambucana Aurinha do Coco, que faleceu no mês de janeiro, aos 63 anos, acende o debate sobre o legado da cultura popular e do esforço dos grupos para manterem a tradição das suas comunidades vivas.
No quilombo do Ipiranga, no município do Conde, litoral sul da Paraíba, o coco de roda já ultrapassa gerações. Filha da Mestra Lenita e neta do Mestre Zé Pequeno, Ana Rodrigues presenciou que em meio à reivindicação pela terra do quilombo, nascia a resistência do povo que deu início ao coco de roda na comunidade.
Ela relembra que o coco é uma das memórias da sua infância. “Minha mãe era mestra e eu era contramestra, ela cantava e eu ajudava ela a cantar. E aí estava toda minha família envolvida, porque meu padrasto tocava, meu irmão tocava, juntamos aqueles outros amigos... Minha tia dançava, então era uma coisa bem familiar, mas tinha outras famílias também”, recorda.
As mestras trazem relatos de vidas singulares que têm em comum, além do gênero feminino, a força, a pele negra e a arte como forma de vida. Para elas, a paixão pelo coco de roda é sinônimo de luta pela vida e valorização e preservação da cultura popular.
Na vida de Ana, o coco não é só memória. Há sete anos ela é a Mestra Ana do Coco e carrega esse legado com o Grupo Novo Quilombo lá na comunidade. A história se repete também no Sertão do São Francisco, na cidade de Juazeiro, na Bahia, onde é uma mestra que também comanda a roda do Samba de Véio da Ilha do Rodeadouro.
Ovídia Sena é outro exemplo vivo da força da mulher negra nos manifestações culturais. Ela, que trabalhou anos como professora, teve também o desafio de ensinar as letras e danças para os mais jovens da comunidade “No momento que nós estamos ali naquele movimento do samba, isso me dá aquela fortaleza. É um dos movimentos muito fortes aqui na nossa comunidade e pra mim também".
Esperançosa com o futuro do grupo, que é abraçado pelos jovens e crianças, Ovídia acredita que o Samba de Véio da Ilha do Rodeadouro permanecerá vivo paras as próximas gerações “Eu quero que esse movimento não seja morto na nossa comunidade e sim levado à frente”, conclui.
Edição: Vanessa Gonzaga