Aos sete anos, Sued Nunes ganhou de presente do pai, que também era músico, um violão. A partir desse momento, ela despertou o interesse por cantar e chegou a se apresentar em barzinhos, igrejas e onde mais houvesse espaço na cidade de de Sapeaçu, no Recôncavo da Bahia.
Hoje, a jovem compositora e cantora de 22 anos, abraça os ouvidos do público de todo o país com uma música forte referenciada na ancestralidade e repleta das vivências do povo negro. O Brasil de Fato Pernambuco conversou com Sued no Trilhas do Nordeste. Confira os principais pontos da entrevista:
Brasil de Fato Pernambuco: Sued, você lançou o álbum “Travessia” no ano passado, mas conta pra gente primeiro um pouco da sua trajetória e o que te trouxe até aqui na arte.
Sued Nunes A música me trouxe até aqui. Quem eu sou hoje, devo muito a ela. E ela apareceu na minha vida desde pequenininha, desde os 7 anos, que foi o passo primordial que foi a atitude de meu pai ter me dado um violão. Ter começado a tocar e cantar também por conta disso. Mas eu acredito numa música que ela nasce desde o ventre. Minha mãe ouvia muita canção desde a minha gestação até o período em que me pariu, e eu tocava violão por conta de meu pai que era tocador de violão, e aí comecei a escrever. Cantei em bares, cantei em aniversários, formaturas, até entender que meu lugar de composição existia e me fazia ser sujeito da minha própria música.
BdF PE: Você é uma mulher preta, jovem, nordestina… Enxerga na arte esse lugar de fortalecimento dessas identidades? Quais são os principais desafios?
Sued: A arte foi o lugar mais libertador que eu já existi. Eu já existi em vários lugares, mas esse da arte foi um lugar diferente, porque você se permitir ser quem verdadeiramente é. Inclusive você pode até inventar personagens dentro desse universo artístico, mas eu existo muito por conta da arte. Acho que ela te dá uma liberdade de expressão, ela te permite cantar sobre celebrar sua história, é o que eu faço né.
Travessia é um exemplo de uma celebração de uma história sobre mim, de uma história ancestral e eu entendo os desafios nessa música porque não são todos os espaços que estão para a música preta, a música de identidade, a música que é em si política.
BdF PE: Quais são as suas principais referências no processo de construção do “Travessia”? Tem mais carinho por alguma faixa específica?
Sued: Tem uma coisa que é muito forte que são os movimentos, as coisas que acontecem em rodas. E aí eu te digo roda de samba, roda de rua, enfim. É palco de caruru, de sete meninos, aqui é palco de muita coisa, muita celebração em roda e isso faz com que a musicalidade seja muito trazida .
Os tambores, por exemplo, se a gente pensar Bahia e não pensar tambor a gente não tá pensando a Bahia. Então a referência muito grande que eu trago no meu álbum são essas rodas que são, por si só, um axé em forma espiritual, mas também o axé em gênero musical.
BdF PE: Você costuma trocar muito com artistas da sua geração? Como vê esse cenário atual da “Música Preta Brasileira”, como você costuma chamar…
Sued: Eu tenho essa concepção de sempre saudar, pedir licença, de reconhecer quem veio antes de mim. Mas, para além disso, eu tô dividindo esse espaço agora, que é o musical, da minha geração com outras pessoas e eu acredito numa música que é uma música de partilha, uma música de troca, ela é uma música de rede.
Então a gente troca muito com os artistas, eu acho que a gente tem que se fortalecer pra que a gente chegue mais longe, né? Tem até um provérbio africano que diz ‘Se você quiser chegar lá, você vá sozinho, mas se você quiser ir longe, vá acompanhado’. Vá em movimento, crie suas redes de partilha, crie suas redes profissionais e de afeto também porque tudo que se faz, quando se mexe com sonho, quando se mexe com a parte de dentro, também é afetivo.
Edição: Vanessa Gonzaga