No último sábado (26) o coordenador geral da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), Alexandre Henrique Pires, filiou-se ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Pernambucano do Sertão do Pajeú, mas vivendo no Recife já há alguns anos, Alexandre atua em organizações da sociedade civil há 20 anos, ajudando a construir políticas públicas de convivência com a seca e luta pelo fortalecimento da população rural e da produção de alimento sem agrotóxico. Biólogo e educador popular, ele é pré-candidato a deputado estadual.
O evento de filiação ao PSOL aconteceu na Feira Agroecológica das Graças, a mais antiga feira do tipo no Recife. O local foi escolhido, segundo Alexandre, por “representar essa conexão campo e cidade, essa conexão entre as pessoas através do alimento”. Ele pretende levar para a Assembleia Legislativa (Alepe) a defesa da “agroecologia como contraponto ao modelo hegemônico de agricultura capitalista”.
A produção de alimentos sem veneno e respeitando a natureza é, em sua avaliação, “um caminho de desenvolvimento econômico e social do estado, gerando trabalho e renda, além de contribuir para o enfrentamento às crises alimentar, hídrica e climática”.
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O ato político contou com a presença da deputada estadual Teresa Leitão (PT) e diversas lideranças do PSOL, como o as co-deputadas estaduais Robeyoncé Lima e Carol Vergolino, do mandato das Juntas; os vereadores Dani Portela e Ivan Moraes, ambos do Recife; o presidente estadual do partido, Thiago Paraíba; e a pré-candidata a senadora pelo partido, Eugênia Lima.
No evento também foi lançado o Manifesto Agroecologia Urgente, formulado por um grupo de agricultores, lideranças do campo, professores, estudantes e ativistas ambientais que aponta demandas e reivindicações de políticas públicas para o fortalecimento da produção de alimentos sem veneno e baseado na economia solidária em Pernambuco. O documento oferece subsídios para a campanha e possível mandato de Alexandre.
Pires atua como coordenador do Centro Sabiá, contribuindo na realização das feiras agroecológicas que acontecem semanalmente no Recife. Devido a legislação eleitoral, ele fica no posto apenas até o dia 31 de março, se licenciando sem remuneração por seis meses, até o fim do período eleitoral. Do posto de coordenador da ASA, ele se licencia de maneira definitiva.
A escolha pelo PSOL
Ele nunca foi filiado a um partido político, mas sempre militou no campo da esquerda, se posicionando em apoio ao PT e ao PSOL nos momentos eleitorais. E foi o PSOL que fez o convite a Alexandre para se candidatar. Antes de tomar a decisão, conversou com lideranças e organizações junto às quais atuou, como Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Sem Terra (MST), Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Pernambuco (Fetape), organizações não-governamentais que integram a ASA, além de grupos de mulheres e juventude.
Em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco o pré-candidato reconhece “o que o PT fez nacionalmente em termos de políticas públicas”. “Eu vi como isso mudou a fisionomia do mundo rural, do povo mais pobre, lhes permitindo uma vida mais digna”, diz Alexandre. Mas ele lamenta a aliança firmada pelo PT junto ao PSB. “É um caminho que o PT faz a cada ciclo eleitoral, mas olhando exclusivamente para as urnas, sem tanta interferência no programa político visando defender as populações que o PT representa”, criticou, afirmando que não acredita no projeto do Partido Socialista para Pernambuco.
“Temos que buscar votos da direita e do centro”
Alexandre Pires foi questionado sobre uma possível disputa, com outras candidaturas de esquerda, pelos mesmos nichos populacionais, a exemplo do deputado estadual Doriel Barros (PT) e da pré-candidata do MST, Rosa Amorim (PT), Alexandre disse não enxergar isso como uma “disputa”, mas uma “soma”. “São 49 cadeiras na Alepe, mas poucos deles acolhem nossas organizações e lutas. Precisamos ampliar nosso espaço e, para isso, precisamos disputar os votos da direita e do centro”, avaliou.
Ele considera que o maior desafio para a esquerda é “romper com a lógica do voto do centro”, que ele resume como a troca de emendas parlamentares que deputados destinam a prefeituras do interior, pedindo em troca que esses prefeitos sejam seus cabos eleitorais no pleito seguinte. “Temos que ir nos municípios e conversar com lideranças, mostrar que os deputados delas estão defendendo só os interesses de suas próprias famílias e grupos empresariais”, completa Alexandre, que deseja reduzir a influência que as elites de Pernambuco possuem na política.
Fechado com Lula
Alexandre avalia que o campo democrático popular precisa impor uma “derrota eleitoral intransigente a Bolsonaro”. “A defesa da agroecologia não vai encontrar caminho em governos ou partidos de centro e direita. Só encontra acolhimento numa gestão de esquerda”, resumiu ele, lembrando a criação do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no governo Dilma Rousseff (PT). “Portanto, é fundamental a gente elegermos Lula”, pontua, reafirmando que o PSOL apoiará Lula (PT) para a Presidência.
Para a sua própria campanha, ele considera que a região metropolitana concentra um eleitorado em média mais à esquerda e, portanto, podem até não o conhecer, mas certamente conhecem a luta pela alimentação saudável e pela agroecologia. “A população reconhece que a agroecologia cumpre papel importante para população urbana”, diz Pires.
Mas ele também vislumbra uma boa votação no campo. “Seja no semiárido ou na zona da mata, quando falo da pré-candidatura, os sinais que as pessoas têm me dado são de reconhecimento do meu trabalho”, garante ele. “Os agricultores querem uma voz no parlamento em defesa da assistência técnica e extensão rural voltada para a agroecologia”, completa.
Edição: Vanessa Gonzaga