Pernambuco

eleições 2022

Em Pernambuco, 30 dos 74 deputados aproveitaram a janela partidária e trocam de sigla

Parlamentares fugiram das legendas que não formaram chapas competitivas; Oposição cresce, mas palanque do PSB é o maior

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Anderson Ferreira (PL) filia deputado Pastor Eurico (ex-Patriota); em Pernambuco o PL foi a sigla que mais ganhou adesões na janela - Partido Liberal/reprodução

No dia 1º de abril se encerrou o prazo em que é permitido aos parlamentares trocarem de partido visando a disputa eleitoral. Nacionalmente as siglas que mais ganharam adesões foram o PL, PP e o Republicanos, todas da base de apoio ao presidente Bolsonaro. Em Pernambuco, o melhor saldo também foi do PL, seguido do PSB e do Solidariedade. Também se beneficiaram o União Brasil, o PV, o PT e o Cidadania.

Entre os 25 deputados federais pernambucanos, apenas cinco mudaram de partido, entre eles Marília Arraes, que deixou o PT para ser candidata ao Governo do Estado pelo Solidariedade (SD). Já dos 49 deputados estaduais, mais da metade (25) mudaram de sigla na janela partidária.

Entre tantas mudanças de partidos, a oposição ao PSB cresceu.  Um exemplo são os três novos deputados do Solidariedade, que podem ou não se comprometer com a campanha contra o PSB e pró-Marília e pró-Lula. Situação similar ao do União Brasil, que tem candidato a governador, mas filiou três parlamentares que têm boa relação com o PSB. Há ainda o caso do PP, que formalmente está aliado ao PSB, mas na prática alguns deputados farão oposição.

Mas grosso modo a oposição “perdeu” dois nomes e ganhou entre três e sete parlamentares, garantindo um saldo importante. O PSB viu a bancada do partido crescer, mas os demais partidos governistas não.

Entre os 49 deputados estaduais, Danilo Cabral (PSB) deve ter apoio de 30; Anderson Ferreira (PL) deve ter apoio de 8 parlamentares; Miguel Coelho (UB) deve contar com apoio de cinco estaduais; Marília Arraes (SD) deve ter apoio de 3; Raquel Lyra (PSDB) de 2; João Arnaldo (PSOL) de apenas um mandato; e Jones Manoel (PCB) nenhum.

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Já entre os 25 federais, Danilo Cabral (PSB) conta com o apoio de 14 parlamentares além de si mesmo; Anderson Ferreira (PL) tem apoio de 4; Miguel Coelho (UB) tem três apoios; Raquel Lyra (PSDB) e João Arnaldo (PSOL) têm um, assim como Marília Arraes (SD). Entre os três senadores pernambucanos, dois Humberto Costa (PT) e Jarbas Vasconcelos (MDB) apoiam Danilo, enquanto Fernando Bezerra Coelho (MDB) apoia seu próprio filho Miguel.

Partido Liberal (PL)

O Partido Liberal (PL) tem Jair Bolsonaro candidato a reeleição na Presidência da República e, em Pernambuco, tem como candidato a governador Anderson Ferreira, ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, recém-licenciado. A sigla tinha apenas dois deputados estaduais e nenhum federal. Perdeu os dois estaduais que tinha, ambos migrando para a base de apoio do PSB.

Mas o PL conseguiu atrair outros 4 estaduais, um chegando da base do governo e três vindos de outros partidos de oposição. O partido forma agora a 4ª bancada da Alepe, igualada a do PT. Os Liberais também filiaram dois deputados federais, ambos evangélicos e da base bolsonarista: o Pastor Eurico (ex-Patriota) e André Ferreira (ex-PSC), este último irmão de Anderson.

Partido Socialista Brasileiro (PSB)

Já o PSB nacionalmente apoia Lula (PT) para a Presidência e no estado tem o deputado Danilo Cabral (PSB) como candidato a governador. O partido perdeu dois deputados estaduais, mas atraiu seis, com saldo positivo de quatro. O partido que governa o estado há 16 anos tem agora 16 deputados estaduais, maior bancada da Alepe com larga vantagem.


Danilo Cabral (PSB) filia Eriberto Medeiros (ex-PP) e Tony Gel (ex-MDB) / Partido Socialista Brasileiro/divulgação

Destaque para algumas filiações de Tony Gel (ex-DEM e MDB), ex-prefeito de Caruaru; Eriberto Medeiros (ex-PP), atual presidente da Alepe e que deve tentar vaga na Câmara Federal; Guilherme Uchôa Filho (ex-PSC), figura influente nos bastidores da política pernambucana e cujo pai, que presidiu a Alepe por 24 anos consecutivos; e não pode passar despercebida a filiação do deputado Marco Aurélio (ex-PRTB), bolsonarista "de carteirinha", que foi candidato à Prefeitura do Recife em 2020.

Solidariedade (SD)

O Solidariedade (SD), que não possuía deputados estaduais e era comandado pelo deputado federal Augusto Coutinho, pode ter mudado de direção em poucas semanas. Coutinho deixou a sigla, já que não conseguiu formar uma chapa competitiva para as disputas federal e estadual. Filiou-se ao Republicanos (Rep), de Silvio Costa Filho. O presidente nacional do SD resolveu entregar a sigla para a deputada federal Marília Arraes (ex-PT) se lançar ao Governo do Estado.

O Solidariedade, que costuma se aliar nacionalmente ao PSDB, este ano vai de Lula. E em Pernambuco o SD é base de apoio do PSB desde sempre, mas agora passa à oposição. Após a filiação de Marília, o SD ganhou três nomes da Alepe: Fabíola Cabral (ex-PP), Fabrizio Ferraz (ex-PP) e Wanderson Florêncio (ex-PSC). Os três tinham relação pacífica com o governo do PSB e um deles, Wanderson, integrava partido alinhado ao Bolsonarismo. Será interessante observar o nível de engajamento do trio nas campanhas de Lula e de Marília.

A ex-petista também filiou Júlio Lóssio, ex-prefeito de Petrolina e adversário local dos Coelhos; e firmou parceria, na região metropolitana, com o prefeito de Paulista, Yves Ribeiro (MDB), filiando o vice-prefeito Jorge Carreiro (ex-PV) para a disputa da Alepe. Marília, visando preservar seu espólio eleitoral (teve 190 mil votos para federal em 2018), vai lançar sua irmã Maria Arraes para a Câmara Federal.

União Brasil (UB)


Miguel Coelho (UB) filia deputado Romero Sales Filho (ex-PTB) / Romero Sales/divulgação

O DEM tinha três deputados estaduais, enquanto o PSL nenhum. Os partidos se fundiram, originando o União Brasil (UB). No processo, perderam a deputada Priscila Krause (filiada agora ao Cidadania), mas ganharam Romero Albuquerque (ex-PP), Romero Sales Filho (ex-PTB) e Alessandra Vieira (ex-PSDB), somando agora cinco parlamentares, a 3ª maior bancada da Alepe, pelo menos até dezembro. O partido ainda procura um candidato à Presidência da República, mas para o Governo do Estado seu candidato é Miguel Coelho (UB), ex-prefeito de Petrolina.

Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Verde (PV)

O Partido dos Trabalhadores (PT) perdeu a deputada federal Marília Arraes (agora no SD) e ganhou de volta o deputado estadual João Paulo, que passou os últimos 4 anos no PCdoB, mas é militante histórico do PT e foi prefeito do Recife (2001-2008). Agora o PT tem quatro estaduais, a 4ª bancada da Alepe. O partido está fechado com Lula para a Presidência e Danilo Cabral (PSB) para o Palácio do Campo das Princesas.

A tendência é de mudanças no PT este ano. Entre os dois federais – Marília e Carlos Veras – uma deixou o partido e o outro está tentando viabilizar sua candidatura ao Senado pela Frente Popular. Entre os deputados estaduais, João Paulo e Doriel Barros devem tentar reeleição. Teresa Leitão também tenta se cacifar para o Senado e, caso não consiga, pode ser candidata a deputada federal ou mesmo a vice-governadora. E Dulcicleide Amorim pode ser substituída na disputa da Alepe pelo seu esposo Odacy Amorim, o que levaria Dulci a disputar a Câmara Federal.

O Partido Verde (PV), que praticamente não existia em Pernambuco, se tornou mais atrativo após a formação de uma federação com o PT e o PCdoB nacionalmente. É um tipo de coligação com duração de quatro anos, funcionando em todas as disputas, em todos os níveis no território nacional.


Após desavenças na disputa por território eleitoral, Danilo Cabral e Clodoaldo Magalhães (agora no PV) selaram a paz / Danilo Cabral/divulgação

O deputado estadual Clodoaldo Magalhães, que estava em vias de ser expulso do PSB por desentendimentos com Danilo Cabral e outros, acabou ganhando o comando do PV no estado. Agora ele deve ser candidato a federal. O estadual Joaquim Lira (ex-PSD) também se filiou ao PV. Por estar federado com o PT e PCdoB, vai apoiar Danilo Cabral (PSB) no estado e Lula para a Presidência.

Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e Cidadania (CD)

O Cidadania (CD), comandado no estado pelo federal Daniel Coelho, não possuía deputados estaduais, mas ganhou Priscila Krause (ex-DEM). Ainda não foi decidido se ela será candidata ao Senado, a vice-governadora, a deputada federal ou se acabará tentando a reeleição como estadual. O CD formou federação com o PSDB. Portanto, em Pernambuco apoiam a candidatura da ex-prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), mas ainda não decidiram sobre a disputa presidencial.

Já o PSDB de Raquel, praticamente sumiu do mapa em Pernambuco desde as eleições de 2018, quando Bruno Araújo (ex-deputado federal, hoje presidente nacional do PSDB) perdeu a disputa pelo Senado e saiu sem eleger nenhum federal e apenas uma estadual. O partido sequer conseguiu formar chapa para a disputa de vereadores do Recife em 2020. Sua única deputada estadual, Alessandra Vieira, migrou para o União Brasil, mas o ninho tucano atraiu Álvaro Porto (ex-PTB), de modo que continuou com uma única cadeira na Alepe.

Os tucanos apostam também na força do ex-senador e ex-ministro Armando Monteiro Neto (ex-PTB), agora candidato a deputado federal; da delegada bolsonarista Patrícia Domingos (ex-Podemos), que foi candidata a prefeita do Recife e deve disputar uma vaga na Alepe. O PSDB também filiou Lucinha Mota, mãe da menina Beatriz, assassinada em Petrolina em 2015. Lucinha foi candidata a estadual em 2018 pelo PSOL, obtendo 16,3 mil votos. Com a maior projeção conquistada entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, ela espera ampliar a votação.


Raquel Lyra (PSDB) filia a delegada Patrícia Domingos (ex-Podemos) / PSDB/divulgação

Partido Progressista (PP)

O PP, comandado no estado por Eduardo da Fonte, manteve seus dois federais pernambucanos, mas sofreu grandes mudanças na bancada da Alepe, apesar do saldo negativo de apenas um (de 10 para 9). Dos dez, cinco parlamentares deixaram o PP, que conseguiu amenizar a perda atraindo quatro. O partido segue com a segunda maior bancada da Alepe e, apesar da aliança, o PSB não tem confiança no PP e espera seu enfraquecimento.

Nacionalmente o PP apoia Bolsonaro, mas na prática muitos dos seus parlamentares podem apoiar Lula. E em Pernambuco, o partido apoia formalmente Danilo Cabral (PSB), mas é provável que muitos políticos do PP façam campanha para Anderson Ferreira (PL). Figuras como o pastor Adalto Santos (ex-PSB), Clarissa Tércio (ex-PSC), Júnior Tércio (ex-Podemos), somados a Cleiton Collins (que permanece no PP), dão uma cara mais conservadora ao partido em Pernambuco.

Sem espaço

Alguns partidos simplesmente sumiram da Alepe. O mais surpreendente é o PSC, que tinha seis estaduais (3ª maior bancada da casa) e perdeu todos, além de perder seu dirigente e deputado federal André Ferreira. Tanto André, seu pai Manoel Ferreira e o deputado Alberto Feitosa foram para o PL de Anderson Ferreira. Wanderson Florêncio para o SD de Marília Arraes. Guilherme Uchôa (agora no PSB) e Antônio Fernando (no PP) “entraram” (agora formalmente) para a base governista do PSB.

Mas o PSD (-3), o PTB (-2), PRTB (-1), MDB (-1) e PCdoB (-1) também perderam suas cadeiras na Alepe. Enquanto PSOL, PDT, Avante e Republicanos, todos com apenas uma cadeira, não sofreram mudanças nas suas bancadas.

Edição: Vanessa Gonzaga