Exigimos a apuração do que ocorreu com o MEC nesta gestão do Governo Bolsonaro
A Semana Santa, ocasião em que celebramos nas sociedades cristãs a Paixão de Cristo, marca o período de sua morte e ressurreição. A nossa tradição religiosa traz, assim, o vislumbre do renascer mesmo após o perecimento e o aparente fim da matéria. E na história cristã, a Semana Santa se inicia ainda no Domingo de Ramos, quando Jesus Cristo, uma semana antes de sua crucificação, entra triunfalmente em Jerusalém, sendo acolhido pelo povo com ramos de árvores nas mãos e, para recebê-lo, folhas de palmeiras ao chão. Essa cena provoca a fúria e raiva das elites de sua época que, não suportando ver o poder que aquele líder exercia sobre as pessoas de seu tempo, decidem matá-lo exatamente sete dias depois.
A educação pública brasileira viveu seus períodos de glória quando a pauta e agenda educacionais do país davam conta de desafios históricos de nosso povo. Sempre discutida a partir do diálogo social com todos os setores organizados da sociedade, a política educacional do país viveu um período de pouco mais de uma década em que o debate público estava ancorado em muitos avanços. As conferências de educação, as conquistas do Piso Salarial Nacional do Magistério e de uma política nacional de formação dos funcionários da educação (PROFUNCIONÁRIO), a instituição de um fundo de financiamento para toda a educação básica (FUNDEB), a abertura de novas universidades e o crescimento do acesso ao crédito estudantil, além de muitos outros avanços e conquistas foram realmente o Domingo de Ramos da educação brasileira.
Vivíamos, de fato, um período promissor de conquistas educacionais para o nosso povo. Isso tudo foi interrompido, em 2016, com o golpe político contra o mandato da ex-Presidenta Dilma Rousseff. As elites brasileiras não suportavam ver os filhos e filhas da classe trabalhadora entrarem nas universidades públicas ou se formarem em nível superior nas faculdades espalhadas pelo Brasil afora.
Os poderosos brasileiros, aqueles que sempre usufruíram quase que exclusivamente das melhores escolas e universidades do país, não toleraram ver os Institutos Federais como exemplo de um Ensino Médio Técnico Profissionalizante voltado para a grande maioria empobrecida, em cada canto de nosso imenso território. Tampouco gostavam de ver a expansão das universidades públicas brasileiras para as áreas periféricas de nossas maiores cidades.
Esse longo período de morte da educação brasileira começou quando se decidiu implementar, ainda no governo golpista de Temer e de seu Ministro da Educação Mendonça Filho, a Emenda Constitucional nº 95/2016, que limitou os gastos em todas as áreas sociais do Brasil. Continuou depois com a aprovação de uma Reforma do Ensino Médio que criará, em um futuro próximo, uma escola para os ricos e outra para os pobres.
A longa morte de nossa educação perdurou ainda mais quando da eleição de Jair Bolsonaro, que assumiu um projeto educacional degradante para o país: militarização das escolas, fomento às perseguições pelo Movimento Escola sem Partido, troca constantes de ministros que, sem nenhum comprometimento com a educação pública, elegeram as educadoras e educadores brasileiros como inimigos da nação.
Estamos vivendo ainda esse longo e agonizante período de morte da educação. Agora, ao nos aproximar da Semana Santa, descobrimos que um ex-ministro da Educação, como os falsos fariseus da época de Cristo, usava a fé do povo para se aproveitar e locupletar os recursos da educação. As Bíblias por ele distribuídas foram profanadas para serem usadas como instrumento de seu envaidecimento e promoção pessoal. Os falsos fariseus de hoje, os mesmos que tentam matar a educação de nosso povo, usam a palavra de Deus em vão. O ex-ministro Milton Ribeiro deve ser investigado o mais urgente e rapidamente possível.
Os educadores de todo o Brasil estão em campanha para que todos os crimes cometidos por esses vendilhões e lesas-pátrias sejam devidamente apurados. Quem defende a educação, não teme a investigação! Estamos em campanha nacional para que os senadores e as senadoras, de todos os estados da Federação, assinem o pedido de abertura de uma CPI do MEC. O Congresso Nacional não pode se furtar a cumprir essa que é uma das suas maiores atribuições institucionais, que é a de investigar o Poder Executivo.
Só depois de uma rigorosa apuração, e a devida imposição de penas aos responsáveis pelos crimes que estão vindo à luz nesse momento, é que podemos falar, enfim, de um renascimento da educação brasileira. Exigimos a apuração do que ocorreu com o MEC nesta gestão do Governo Bolsonaro, em especial a do ex-ministro Milton Ribeiro. CPI do MEC já! Fundamental que toda a sociedade brasileira se some à luta dos educadores e educadoras nesse momento. Visite a página na internet da CNTE e veja como ajudar na pressão aos senadores de seu estado! A educação pública urge renascer das cinzas a que foi submetida por aqueles que desonram até a palavra de Deus.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga