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Não são casas, são gente

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"A Prefeitura do Recife, para implementar um 'moderno' projeto urbanístico, tenta passar por cima de mais de 50 moradias"
"A Prefeitura do Recife, para implementar um 'moderno' projeto urbanístico, tenta passar por cima de mais de 50 moradias" - Foto: Divulgação
Não é difícil encontrar na comunidade casas marcadas à revelia de quem mora nelas

Imagina você estar de boa na casa em que mora há décadas. Imagina você feliz naquela cozinha revestida de azulejo que demorou tanto tempo pra poder pagar. Imagina você, no seu sofá, vendo na televisão as peripécias das subcelebridades que caçam cliques e publis enquanto participam de provas de resistência e festas que viram a noite. Aí imagina que vem uma pessoa, em nome da prefeitura. Ela bate na tua porta e te faz uma proposta: quer te tirar de casa. Te manda procurar outro canto pra morar. Diz que você não tem o que pensar. Se não sair por bem, sai por mal. Em troca, te oferecem um valor que chega a ser mais de dez vezes menor do que o imóvel vale no mercado.

O que é que você faria?

Esses dias fui bater perna, junto com uma turma que trabalha comigo, pelas ruas da comunidade Vila Esperança. O território, que é uma Zona Especial de Interesse Social, fica entre Casa Forte e Apipucos, pertinho da avenida 17 de agosto. Na beira do Capibaribe, bem onde a Prefeitura do Recife, depois de quase 10 anos, retomou as obras da Ponte Jaime Gusmão. Bem onde a Prefeitura do Recife, para implementar um 'moderno' projeto urbanístico, tenta passar por cima de mais de 50 moradias.

Não custa lembrar: moradias dignas, na porta de bairros nobres, que estão naquele lugar há décadas. Moradias como a do motorista de transporte escolar que gastou tudo que tinha para fazer um primeiro andar onde pretende alojar a filha recém casada. Como a da senhora idosa que vive no bairro há mais de 50 anos numa linda casa de varanda, onde hoje o filho e a nora tocam uma comedoria onde a cerveja só sai gelada e a moela de galinha é de comer chorando de alegria. 

Não é difícil encontrar na comunidade casas marcadas à revelia de quem mora nelas. Letras e números em vermelho indicam imóveis que 'precisam' ser removidos para que o prefeito diga que o Recife está 'virado'. 'Virado' pra o lado de quem?

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga