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Páscoa para nós e para o mundo

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" À medida que nos unimos à causa dos povos originários e todas as pessoas marginalizadas por este sistema cruel que domina o mundo, testemunhamos que um novo mundo é possível" - Foto: Kauê Teren
Que a justiça e a paz possam brilhar nas relações humanas e na nossa comunhão com a mãe Terra

Parece estranho falar em Páscoa para o mundo, cada vez mais sufocado pela crueldade de uma elite sem coração que organiza a sociedade de modo a sacrificar milhões de pessoas. A imprensa ocidental denuncia os crimes do governo russo na Ucrânia e cala o genocídio provocado pelo império dos Estados Unidos, responsável pela maioria das 28 guerras que destroem o mundo atual. O governo chinês acusa o serviço de inteligência norte-americano de fabricar armas biológicas e usar até aves migratórias para espalhar epidemias mortais em países que o império considera indesejáveis. 

Nestes dias, a partir desta sexta-feira, 15 de abril, as comunidades judaicas celebram a Pessach de 2022, que chamam “A Festa da nossa libertação”. As Igrejas cristãs se incorporam a esse mesmo espírito e também celebram a Páscoa. Em todas as tradições religiosas, é o único caso de duas religiões diferentes celebrarem a mesma festa e ao mesmo Deus, embora com formas e até significados diversos. De fato, as Igrejas retomam a memória do Êxodo bíblico, mas celebram e dão a essa festa o sentido do memorial da morte e da ressurreição de Jesus, como fonte de libertação total e de vida nova para toda a humanidade.

Falar em Páscoa para o mundo não significa pensar que este vá ser transformado por algum milagre ou deva ser incorporado a alguma tradição religiosa. A Páscoa teve o seu início na celebração da primavera no antigo Oriente Médio. Tribos festejavam a lua cheia e dançavam ao ar livre, saboreando as primícias da colheita ou do rebanho de ovelhas. Em hebraico, o termo Páscoa significa passos. Conforme a Bíblia, essa celebração anual da vida, tornou-se a comemoração da vitória do povo hebreu que, pela força do Espírito, se libertou da escravidão. Jesus celebrou a Páscoa doando a sua vida e abrindo a toda a humanidade a possibilidade de viver a liberdade dos filhos e filhas do amor divino. 

Não se pode reduzir a Páscoa apenas à celebração religiosa. Não foi essa a tradição bíblica e nem deve ser essa a visão cristã. Os evangelhos chamam de “reino de Deus” o mundo transformado, de acordo com o projeto divino de amor, justiça e paz.  Diariamente, os cristãos oram, não para que Deus os conduza a um mundo à parte e sim: “Venha a nós o teu reino”. 

No Brasil atual, mais de 20 milhões vivem com insegurança alimentar. A cada dia, aumenta a população jogada nas ruas das cidades como refugiados em campos de concentração. Cada ano, o 19 de abril é consagrado pela ONU como o dia pan-americano dos povos indígenas. Em Brasília, representantes dos povos originários acampam para denunciar o permanente desrespeito da sociedade dominante aos direitos dos indígenas, assegurados pela Constituição de 1988. À medida que nos unimos à causa dos povos originários e todas as pessoas marginalizadas por este sistema cruel que domina o mundo, testemunhamos que um novo mundo é possível e nos dispomos a caminhar juntos, para que a justiça e a paz possam brilhar nas relações humanas e na nossa comunhão com a mãe Terra. Já idoso, Dom Pedro Casaldáliga ensinava: “Nossa missão é espalhar pelo mundo a ressurreição". 

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga