A renda básica surge como uma das saídas para o enfrentamento à dominação de classe
Em meio a funcionalização da solidariedade, onde a doação de alimentos e cestas básicas se tornaram meio para adesão ideológica tanto pela esquerda quanto pela direita, a renda básica surge como uma das saídas para o enfrentamento à dominação de classe que encontra na pobreza a prova de sua existência.
Igrejas protestantes e católicas, sindicatos, ONGs, movimentos sociais, prefeituras e até empresas possuem hoje a ideia comum que a doação de cestas básicas é um meio de intervenção na questão econômico-política da fome. Doar comida é a tônica contemporânea. Historicamente, seria uma tarefa difícil retirar o peso político que esses diferentes segmentos tiveram no enfrentamento mais urgente do primeiro ano de crise sanitária da COVID-19 no Brasil e em Recife (PE).
Entretanto, o que fazer a partir de agora? Passaremos quanto tempo mais na situação de urgência?
A Renda Básica Recife é uma estratégia contra a urgência, contra o caráter mais bárbaro e desumanizante do modelo capitalista, necessariamente aliada a outras estratégias que passam a surgir no cenário político oriundas do campo progressista e socialista. Fruto de diálogos e atividades iniciadas desde 2020, o Comitê Popular de Renda Básica Recife (PE) propõe a implementação imediata de uma política de transferência de renda municipal no valor de R$135,00 mensais para as 123.000 famílias vivendo atualmente em situação de extrema pobreza em Recife.
Essa proposta de renda básica institucionaliza no campo da política pública municipal a solidariedade que emergiu com a doação de alimentos. O chamamento para essa pauta é uma forma de reposicionar ideologicamente essa questão econômico-política, trazendo uma nova programática, um novo tônus: o do direito social e o de que a pobreza não precisaria existir. Fortalecemos a consciência entre nós, classe trabalhadora, quando confrontamos a ideia liberal e conservadora há muito enraizada de que ricos e pobres sempre existiram e sempre irão existir.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga