Para os cristãos, a Páscoa é a celebração da morte e ressurreição de Jesus Cristo, figura central das religiões que seguem o cristianismo. E uma figura emblemática quando se trata da sua morte nos escritos da Bíblia é Judas Iscariotes, que traiu Jesus por moedas de prata e depois tirou sua própria vida.
No Brasil, essa figura é lembrada todo Sábado de Aleluia, data conhecida por ser o dia seguinte à crucificação de Jesus; na qual existe uma tradição de fazer a malhação do Judas, a punição do traidor de Jesus.
O costume consiste em montar um boneco representativo do Judas em tamanho real e exibí-lo pelas ruas da cidade com máscaras no rosto daqueles que estão “em procissão” levando-o. A prática foi trazida ao Brasil pelos portugueses a partir de 1500 e ganhou novos formatos a partir da cultura local.
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As máscaras utilizadas pelas pessoas que malham o Judas também tem um papel fundamental na tradição. “Eles vão mascarados para ninguém saber quem é quem. Quem é que está matando Judas? Tem que preservar a sua identidade. Então, da mesma maneira que Judas foi à noite, às escondidas, traiu Jesus, é da mesma maneira que as traições são feitas - às escuras. Então, as vinganças também não podem ser feitas às claras, porque se ela não der certo, aquele fulano pode atacar muito mais”, aponta o professor de história Severino Vicente.
A partir desse costume, nascem os grupos de Caretas, nome que vem das máscaras utilizadas pelos participantes que reproduzem a simbologia da malhação de Judas e que se popularizou. Eles começam a se organizar em janeiro, com a confecção das máscaras - que é indispensável nas festividades.
Uma dessas pessoas que tem orgulho em seguir esta tradição é José Santos, coordenação do grupo Caretas do Parque que sai pelas ruas de Assaré, no Ceará, há mais de 10 anos. “Nós fazemos ela [a máscara] com couro de bode, que é o couro daquele bode cabeludo, faz ela toda na mão e nós andamos com ela pra não mostrar mesmo o rosto”, destaca José.
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Em Santana do Sobrado, no interior da Bahia, a tradição acontece há tanto tempo que os 25 grupos atuantes na cidade organizam também uma competição de melhor fantasia.
“A gente reúne a brincadeira, sai na rua, pede esmola na sexta, brinca no sábado e no domingo; apresenta no domingo as fantasias novas e à noite queima o Judas, que simboliza o que? O que traiu Cristo, né? O símbolo da brincadeira é esse”, destaca Francisco Souza, coordenador do grupo Caretas Cavaleiros do Apocalipse
Manter viva essa e outras tradições, além de juntar a população e fortalecer os laços, conta a história do Brasil, que mistura um pouco de religiosidade com cultura popular.
Edição: Vanessa Gonzaga