Eu não sou suplente do meu marido, eu sou uma sindicalista
Você tem ideia do quanto a coleta de coco babaçu movimenta comunidades tradicionais brasileiras? O babaçu é um tipo de palmeira que cresce de forma extensiva em diversas áreas da América Latina, e aqui no Brasil, principalmente em estados do Norte e do Nordeste.
Ele é conhecido pela sua versatilidade: o babaçu pode ser utilizado na alimentação, indústria farmacêutica e até mesmo como matéria-prima para a produção de biocombustível. O seu fruto, o coco, é coletado por elas: as mulheres quebradeiras de coco. Elas integram um grupo de cerca de 400 mil mulheres espalhadas em comunidades camponesas do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará, que hoje se juntam em torno do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB).
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Maria Alaídes, do Maranhão, é coordenadora geral do MIQCB e conta sobre o papel do movimento. "O nosso objetivo maior dentro dos princípios da resistência é trabalhar três eixos principais: a terra, o território e babaçu livre". Quando a liderança fala sobre o babaçu livre, ela quer dizer que há uma luta para garantir o livre acesso para entrar e sair dos territórios e coletar o babaçu. Isso porque a maior parte dos babaçuais está em grandes fazendas e, com isso, as quebradeiras precisam lidar com diversas ameaças ao seu ofício, como o cercamento do território por fazendeiros e grileiros e o avanço do agronegócio.
E foi para enfrentar essas e outras ameaças que essas mulheres viram a necessidade de se organizarem e protagonizarem um movimento organizado. Hoje, fazem isso através do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu. As quebradeiras se reconhecem como guardiãs da floresta de babaçu e afirmam: "floresta em pé é floresta com mulher!".
Maria Alaídes conta sobre a necessidade do movimento ser protagonizado por mulheres. "Em 1990, nós fomos pras ruas. Nós compreendemos que direitos só vinham se a gente fosse buscar, que a gente só se liberta da cozinha quando a gente se disponibiliza a sair". Ela demarca a importância de serem vistas não como sombras dos seus maridos. "Eu não sou suplente do meu marido, eu sou uma sindicalista. Eu sou uma representante da associação e sem medo de fazer gestão. Eu sou uma pessoa que produzo e comercializo meus produtos porque também tenho capacidade de produzir", defende.
Através de anos de luta, o movimento das quebradeiras têm alcançado também conquistas importantes. A mais recente, no final de março, foi uma conquista histórica: a regularização do primeiro território tradicional, na comunidade de Vila Esperança, no Piauí. Lá vivem 67 famílias de quebradeiras de coco, que hoje finalmente tiveram o reconhecimento de seus direitos territoriais.
Quer conhecer mais sobre como as quebradeiras de coco se organizam e sobre seu trabalho? Acompanha o Instagram @miqcb_ ou acessa o site: www.miqcb.org/. Ouça o Vozes Populares na íntegra através do áudio anexado no início desta matéria.
Edição: Vanessa Gonzaga