Pernambuco

BONECOS

Pioneiro de bonecos gigantes no Recife, Teatro de Bonecos Lobatinho sofre com o abandono

Fundado em 1979, o teatro difundiu a técnica pioneira de bonecos gigantes e marionetes de espuma criada por José Dias

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Após mais de 40 anos de história, acervo de bonecos do teatro enfrenta as marcas do tempo - Lucila Bezerra/ Brasil de Fato PE

Em Pernambuco, um dos símbolos do Carnaval e da cultura popular são os bonecos gigantes. Apesar dos mais conhecidos serem os de fibra de vidro, existem outras técnicas que também já fizeram parte dos festejos populares.

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No bairro do Vasco da Gama, na zona norte da capital pernambucana, foi onde nasceu uma técnica pioneira de bonecos gigantes e marionetes de espuma criada pelo artesão José Dias, que faleceu em 2004. Mas o legado do que ele criou segue vivo através das mãos dos seus sucessores e o artesão Ednaldo Santos é um deles.

“Inovadora essa técnica dele e acredito que única devido ao material, porque é um material que se encontra em qualquer lugar do mundo. Todo mundo precisa de um colchão, todo mundo tem um colchão. Se a pessoa pegar o próprio colchão e despedaçar ele, ela consegue construir um boneco a partir dessa técnica de José Dias”, afirma Ednaldo, que aprendeu a técnica com o mestre há mais de 20 anos e trabalha até hoje a partir dos ensinamentos dele.

A parte material do legado de José Dias era o Teatro de Bonecos Lobatinho, fundado em 1979, onde existiam apresentações com bonecos gigantes e marionetes. Foi lá que o mestre ensinou a muitos jovens, como Ednaldo. Mas, desde 2017, o teatro fechou suas portas e seu acervo, que já alegrou muitas crianças e adultos, vai se deteriorando com o impacto do tempo.

“Nunca tivemos apoio, todo o prédio que foi confeccionado por José Dias, foi construído por ele foi por recursos próprios, foi suor, foi tijolo a tijolo, foi andar a andar”, destaca Ednaldo, que lamenta. “O lugar que mais deu oportunidade, não teve oportunidade. Não teve oportunidade alguma, apoio algum. Então, fica difícil, né?”, questiona o artesão.

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Os bonecos gigantes tem origem europeia, mas fazem parte da cultura pernambucana há mais de um século. A técnica original utilizava de papel machet, mas os artesãos pernambucanos passaram a buscar materiais mais leves, como a fibra de vidro e espuma. A preservação dessa história e tradição é tão importante quanto a da memória dos seus artesãos. 

“O universo dos bonecos gigantes a gente localiza dentro do frevo, e o frevo é patrimônio imaterial do Brasil, patrimônio imaterial da Humanidade. Então, a gente precisa cada vez mais reforçar o conhecimento de como se faz bonecos, de onde desfilam, do porque da intenção de criar essas figuras”, como aponta o historiador Luiz Santos, que é coordenador de conteúdo do museu Paço do Frevo.

Apesar de não estar mais aberto ao público, a oficina do Teatro Lobatinho continua funcionando e Ednaldo permanece lá como único artesão. Ele também atende na sua própria empresa, a Mister Boneco.
 

Edição: Vanessa Gonzaga