Maria das Neves Vasconcelos é mãe de Matheus, um jovem de 24 anos com transtorno do espectro autista e paralisia cerebral. Ele precisa de ajuda para quase tudo. O cuidado é tradicionalmente uma tarefa feminina, e com a pandemia esse trabalho pesou ainda mais sobre as mulheres.
Segundo dados de uma pesquisa da Organização de Mídia, Gênero e Número em parceria com a Sempre Viva Organização Feminista (SOF), em 2020, 50% das mulheres passaram a exercer a atividade do cuidado.
Maria das Neves conta como é o dia-a-dia de cuidados com o filho. “Hoje temos que cuidar dele de tudo, em todos os sentidos: dar banho, trocar de roupa, dar alimentação, medicação; tudo é feito pela gente. A família não tem vida própria. Eu cuido dele, a irmã auxilia, o pai auxilia e ainda temos uma pessoa extra para auxiliar ainda. E assim mesmo não falta o que fazer, sempre tem alguma coisa para fazer”, diz.
Matheus estuda na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), em Petrolina, no sertão pernambucano. Além do atendimento multidisciplinar às pessoas com deficiência, a Unidade Petrolina tem realizado oficinas de biscuit e fuxico para garantir um momento de socialização para os responsáveis enquanto esperam as crianças saírem das aulas ou dos atendimentos.
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Em sua a maioria formada por mulheres e mães, a oficina possibilita a quem dedica todo o seu tempo ao cuidado receber um pouco de cuidado também. “A ideia surgiu justamente de ofertar às mães, às famílias, uma perspectiva que pode ser também de geração de renda, mas são momentos também terapêuticos, digamos assim, ou também de convivência entre famílias que compartilham de realidades parecidas ou diferentes, porém num mesmo contexto que é o da pessoa com deficiência”, destaca a assistente social Simone Alencar da Silva, que trabalha na Apae Petrolina justamente no contato com as famílias dos pacientes.
A oficina acontece duas vezes por semana na Apae Petrolina e os responsáveis já vem mostrando progresso. Com a mesma habilidade com que cuidam, utilizam o biscuit para fazer pequenos arranjos de flores e folhas.
Para Maria das Neves, é um momento de lazer. "Como a gente não tem muito lazer em função dos nossos filhos, essa oficina veio bem a calhar, porque é um momento em que a gente está juntas, mas não está tendo preocupações com a vida particular dos filhos e a gente está ali num momento de lazer, que é um momento terapêutico e de trabalho manual, mas que serve de lazer. A gente brinca, a gente ri, alguém conta uma piada, o outro conta uma coisa engraçada, a gente canta, ri", conclui. Quem deseja saber mais sobre as ações da Apae Petrolina pode entrar em contato através do Instagram @apae_petrolina_pe.
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Edição: Vanessa Gonzaga