A vida da população LGBTQIA+ já é cheia de desafios, mas são ainda maiores para aqueles que vivem no campo. Sem registro oficial, acompanhamento de institutos especializados ou organizações não governamentais, eles tem dificuldade para identificar e combater de situações de desigualdade. Muitos são alvo de violências que sequer são notificadas pelo Estado e municípios.
“A gente não tem acesso a psicólogo, a pessoas que sejam responsáveis por essa causa. Para você ter uma noção, a gente nem sabe quem são essas pessoas. A gente vive tão isolado. Aqui na zona rural é o homem e a natureza, existem esses sujeitos na zona rural, porém é totalmente diferente de quem vive na cidade”, destaca o técnico em agroecologia Ademir Pereira, que faz parte da pesquisa e já sentiu isso na pele por se identificar como um homem gay.
Por observar esta realidade, o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) em parceria com o Centro Sabiá e o Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (CETRA) produziram uma pesquisa pioneira entitulada “As Condições de Vida da População Rural LGBT+ da Região Nordeste”.
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Rafael Toitio é professor do IF e coordena a pesquisa que pretende levantar dados sobre a população LGBTQIA+ que vive no meio rural. “Além da gente não saber nada sobre ela - não tem dados sobre como ela vive, sobre a questão do trabalho, sobre a questão do emprego, questão de saúde - também não tem nada falando sobre as formas de preconceito, as formas de violência. Então, foi muito devido a esse apagão de dados que a gente tem no Brasil em relação a essa população, que a ideia surgiu”
Por outro lado, os dados que existem são registrados pelas próprias organizações que levantam a bandeira do movimento LGBTQIA+. De acordo com os dados divulgados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), por meio do Relatório de Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil, o Nordeste foi a região que mais matou a comunidade no país em 2021.
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"Eu acredito que quando a pesquisa estiver pronta, que as organizações receberem os dados e os próprios movimentos LGBTQIA+ receberem esses dados, juntos poderão fazer essas políticas públicas. Juntos eles vão poder construir para levar às pessoas que vão fazer leis”, destaca o técnico agroecológico Ferreira Lima, que também faz parte da pesquisa.
Até o momento, mais de 300 pessoas já responderam à pesquisa, que segue até o fim de maio. Até lá, os LGBTQIA+ do campo que quiserem responder e participar do questionário podem acessar o site.
Edição: Vanessa Gonzaga