O mês de abril foi marcado pela luta pela terra em nosso país, conhecido como Abril Vermelho. O mês gira em torno do Dia Internacional da Luta Camponesa celebrado em 17 de abril em homenagem aos 21 agricultores e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que foram assassinados em 1996 no Massacre de Eldorado dos Carajás. Em respeito à memória dos homens e mulheres que morreram na luta pela terra, o movimento realizou a Jornada de Lutas pela Reforma Agrária.
O Nordeste é uma região que tem sua história marcada por muitos conflitos agrários e pela resistência dos sem terra. O Brasil de Fato Pernambuco conversou com a dirigente nacional do MST pelo estado da Bahia, Liu Durães para o programa Trilhas do Nordeste. Confira os principais pontos da entrevista:
Brasil de Fato Pernambuco: Qual o tema principal deste ano da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária? O combate à fome é um marco em 2022, após a pandemia?
Liu Durães: Para nós do movimento, sim. E acho que para toda a população brasileira. A fome é um marco porque mais da metade da população brasileira vivendo em uma situação de segurança alimentar, são mais de 100 milhões de pessoas. E mais de 20 milhões que estão de fato em situação de fome. A nossa marcha veio com o lema, a nossa jornada, “Reforma Agrária Popular por terra, teto e pão”. E essa é uma síntese do que nós estamos organizando para esse período, que é justamente fazer a luta dos trabalhadores e trabalhadoras na perspectiva de continuar existindo como sujeitos de direitos.
BdF PE: Conta para a gente como foi a experiência da Marcha Estadual pela Reforma Agrária no estado da Bahia.
Liu Durães: Nossa marcha teve oito paradas bastante significativas em espaços significativos. Entre eles, a SEPLAC, que foi um processo de ocupação e também o Mercado em Simões Filho, porque nós pegamos quatro dias de muita chuva. Chuva da hora que nós levantamos até a hora que nós chegamos. Então, foi um momento que reanimou profundamente a mística de luta de todos os marchantes e de todas as marchantes. Foi um momento em que a gente achava que a nossa militância poderia se desanimar, mas ao contrário. Foi um momento de animação e de determinação de luta. Porque quem sabe porquê luta, luta com alegria. E nós sabemos que essa marcha foi justamente porque ela é necessária para denunciar a fome, para denunciar a caça aos direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores.
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BdF PE: Quais são os principais encaminhamentos para a região Nordeste após esse período da jornada?
Liu Durães: Vários estados da nossa região Nordeste fizeram luta. Ocupação de INCRA, ocupações de terra, e o encaminhamentos é a nossa disposição de continuar lutando, de se organizar cada vez mais para que a gente possa não só fazer a denúncia, mas enquanto movimento ser um lugar possível para que as pessoas possam se organizar em luta para conquistar os seus direitos. Mas a ação geral do nosso movimento é continuar fazendo a solidariedade com a classe trabalhadora porque essa é uma determinação fundamental, é continuar na nossa campanha “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis", que nós temos uma definição de em 10 anos plantar cem milhões de mudas de árvores. E nós estamos muito firmes nessa determinação, e vamos continuar nesse período organizando o povo, organizando a semente, e organizando cada dia mais a nossa solidariedade.
BdF PE: A jornada também faz denúncias contra o modelo de produção de alimentos do agronegócio. O que o MST reivindica para solucionar esse problema e por que tem a ver com a Reforma Agrária Popular?
Liu Durães: A nossa denúncia é porque o agronegócio se gaba de ser um grande produtor, mas nós temos que nos perguntar: Produtor de quê? E principalmente: produtor para quem? Porque o que o agronegócio produz não está à disposição do povo brasileiro. Parte da nossa soja é importada para alimentação animal na Europa. Então, nós temos que denunciar que esse modelo de desenvolvimento rural que o Brasil tem sustentado, ele é insustentável. Ele não está a serviço do povo brasileiro. Então a nossa denúncia vem no sentido da necessidade de democratizar a terra, de enfrentar o latifúndio, para que a gente possa enquanto agricultura familiar, reforma agrária, quilombola, povos tradicionais, produzir mais alimentos saudáveis. Porque nós já somos responsáveis pela comida que se come no nosso país.
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Edição: Vanessa Gonzaga