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Direitos dos povos indígenas e o futuro da humanidade

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Os povos indígenas são guardiães de 80% da biodiversidade do mundo - Foto: Alass Derivas | @derivajornalismo
1,6 bilhão de pessoas dependem diretamente das florestas para obter alimentos

De 25 de abril até o 6 de maio, na sede das Nações Unidas, em Nova York, aconteceu mais uma sessão do Fórum Permanente sobre Questões Indígenas. Este encontro acontece em formato híbrido, com centenas de representantes dos povos originários e também com participação de comunidades que acessam o Fórum através da internet.

Apesar de que a maioria é de etnia indígena, também participam pessoas de outras raças que sabem da importância dos povos indígenas para toda a humanidade e para o futuro da vida na Terra. O tema é sugestivo: “Povos indígenas, negócios, autonomia e os direitos humanos”. O objetivo do encontro é aumentar a integração e promover a coordenação de atividades que ligam as questões indígenas com a ONU. 

Na abertura, Abdulla Shahid, atual presidente da Assembleia Geral da ONU, destacou que este encontro celebra a diversidade linguística e cultural que as comunidades indígenas representam. Afirmou que as comunidades indígenas têm muito a ensinar a toda a humanidade, especialmente na relação com a Mãe Terra e toda a natureza. Falou dos muitos desafios que eles enfrentam e reafirmou que governos e sociedades têm obrigação moral de proteger os direitos e bem-estar das comunidades indígenas. E concluiu: “Só se apoiarmos as culturas indígenas, poderemos preservar a biodiversidade da Terra e avançar no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”.

Ao fazer essas afirmações, o presidente da Assembleia Geral da ONU não estava se dirigindo ao presidente do Brasil, nem ao seu governo. Certamente, a ONU não tinha recebido ainda o relatório anual das pastorais da Terra e da pastoral indigenista que denunciam os 1.768 conflitos no campo brasileiro, ocorridos somente durante o ano de 2021, com 35 assassinatos, que envolveram povos indígenas, quilombolas, sem terra e todas as comunidades tradicionais. Não tinham ainda notícia do caso recente da criança Yanomami, de 12 anos, estuprada e assassinada por garimpeiros, nas comunidades Aracaça, em Amajarí, no norte de Roraima.

Um dos falsos pretextos que o governo atual e os ruralistas brasileiros alegam contra a demarcação das terras indígenas é de seria “muita terra para pouco índio”. Contra isso, neste fórum, o doutor Shahid confirmou: de fato, os povos indígenas representam menos de 5% da população global. No entanto, a ONU tem provas de que esses grupos tão minoritários são guardiães fieis de 80% da biodiversidade do mundo inteiro. 

Nesta assembleia, Dario José Mejía Montalvo, indígena colombiano, líder da Organização dos Povos Indígenas da Colômbia, foi eleito presidente do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas. Em suas primeiras palavras no fórum, ele denunciou que, em todos os países do continente, os povos originários sofrem ataques e são vítimas de perseguições, na maioria das vezes, exatamente por serem defensores da natureza e dos direitos da Terra, das águas e das florestas.  

Dados da ONU confirmam que 1,6 bilhão de pessoas dependem diretamente das florestas para obter alimentos, abrigo, energia, medicamentos e renda. Muitas comunidades e povos indígenas são beneficiados com sustento e refúgio oferecido pelas matas.  Ao mesmo tempo, protegem as matas. Atualmente, as comunidades indígenas são perseguidas por empresas de mineração, garimpeiros e grandes fazendeiros, justamente porque a presença de comunidades indígenas é a última defesa que resta para que as florestas fiquem de pé, os rios possam ainda se manter limpos e os biomas minimamente protegidos. A ONU denuncia que somente no ano de 2021, foram destruídos no mundo dez milhões de hectares de florestas, a maioria deles na África e na América Latina. 

Neste tempo em que as Igrejas cristãs celebraram a Páscoa, é importante recordar que os evangelhos falam da ressurreição de Jesus como início de uma renovação da vida para a humanidade, mas também para toda a criação, ou seja, a Terra e toda a natureza. Dom Pedro Casaldáliga dizia que a missão cristã é espalhar ressurreição. Isso pede de todas as comunidades cristãs, solidarizar-se aos povos indígenas e ser, cada vez mais, como eles, guardiães da Vida no planeta Terra.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga