Cerca de 150 mil vestígios arqueológicos foram encontrados nas obras do Habitacional Pilar, na comunidade que leva o mesmo o nome e integra o Bairro do Recife, uma área central e histórica da capital pernambucana. Os achados já vêm sendo considerados uma das maiores descobertas arqueológicas urbanas da história do país.
Os vestígios remontam a diversos momentos da história do Recife. Um exemplo é a batalha do Forte de São Jorge, construído no século 16, e foi palco da resistência pernambucana sobre o domínio holandês. Durante a pesquisa, foram encontradas 135 ossadas e diversos de objetos como materiais bélicos, cerâmicas e frascos.
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As escavações estão sendo feitas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) desde 2015, sob a gestão da arqueóloga e professora da instituição Sueli Luna, que destaca a diversidade de materiais encontrados. “A gente tem materiais desde o final do século XVI até o século XXI- onde a gente está agora. Então, a gente tem em um único lugar uma história condensada desses quase 500 anos. E isso é realmente uma coisa muito importante”, aponta a pesquisadora.
A universidade tem atuado junto com a Prefeitura do Recife e a Fundação Apolônio Sales, para garantir não só a preservação da história que aconteceu há quase 500 anos no local, mas também a continuidade dela.
“Não é só a questão da pesquisa que nos interessa, é a gente dar condições de que a pesquisa seja feita e que não interfira no que vai ser o futuro dessas famílias que vão estar aqui. Existem coisas que podem ser conservadas, é o que a gente está retirando para levar para laboratório, para analisar, pesquisar; e existem outras coisas que a gente registra, mas podem ser suprimidas para que a vida continue””, explica a arqueóloga.
Escavações x Construção de habitacional
A Comunidade do Pilar abriga cerca de 2.500 famílias que vivem sobre uma região que foi palco de batalhas históricas e que aguardam o fim das obras do habitacional para acessar o direito tão batalhado à moradia. Iniciado há quase 10 anos, o projeto previa a construção de 588 unidades voltadas para os moradores da região a partir de recursos do então programa Minha Casa, Minha Vida, que foi substituído pelo Casa Verde e Amarela. Contudo, uma década após o início das obras, ainda faltam 160 unidades a serem construídas.
Ayla de Oliveira é moradora da comunidade do Pilar e fala da importância da valorização da comunidade para o Recife Antigo. “O Recife Antigo só acontece porque aquelas pessoas moram lá. Para ter uma parte de ilha de negócios, precisa existir moradia, pessoas, serviços, cuidado. Quando todo mundo sai de lá, as pessoas que ficam lá ocupando com seus cachorros, com suas plantas, cuidando da água, cuidando das crianças”, destaca a moradora, que também é realizadora audiovisual e já produziu um documentário sobre a comunidade.
Mas o trabalho dos pesquisadores ainda não terminou. Os materiais encontrados são enviados para o Núcleo de Ensino e Pesquisa Arqueológica do Departamento de História da UFRPE, onde eles são higienizados e catalogados. Quanto às escavações, ainda falta concluir o trabalho em quatro áreas, mas em uma delas ainda não existe previsão de início.
A reportagem do Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato também com a Prefeitura do Recife para saber sobre a previsão de entrega das unidades do habitacional, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Edição: Vanessa Gonzaga