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Após alta de doenças respiratórias em crianças, Pernambuco abre 80 novos leitos pediátricos

Agora, 67 crianças com casos de SRAG estão na fila de espera por leito de UTI infantil e mais 4 bebês para UTI neonatal

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Na semana passada, o Estado registrou 150 solicitações de leitos infantis - praticamente o triplo da média da sazonalidade de 2021 - Agência Brasil/ Marcello Casal

Em razão do aumento dos casos de doenças respiratórias em crianças, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) de Pernambuco está abrindo 80 novos leitos pediátricos em unidades de terapia intensiva (UTI), aumentando em 75% sua capacidade atual. Desde meados de abril, o Estado têm registrado crescimento acima do esperado, até mesmo em comparação ao período pré-pandemia e considerando a sazonalidade, na incidência de quadros relacionados aos vírus que causam resfriados.  

Até a semana passada, a rede pública de Pernambuco contava com 233 leitos para crianças em bebês com quadros de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), sendo 106 de UTI e 127 de enfermaria. Em coletiva de imprensa realizada nessa quarta-feira (18), o secretário estadual de Saúde, André Longo, falou sobre o quadro epidemiológico e anunciou a abertura das 80 novas vagas.

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A soma conta com os primeiros dez leitos abertos na semana passada no Hospital e Maternidade Santa Maria, em Araripina, no Sertão. Mais 10 vagas foram criadas nessa terça-feira (17) no Hospital Eduardo Campos, em Serra Talhada, na mesma região do Estado.

Nesta quinta-feira (19), mais 30 leitos começam a ser implantados, nas seguintes unidades de saúde: UPAE Goiana (10), na Zona da Mata Norte; no Hospital Regional de Palmares (10), na Mata Sul; e na Maternidade Brites de Albuquerque (10), em Olinda, Grande Recife. 

Os próximos 30 deverão ser abertos até o início da próxima semana, no Hospital Maria Lucinda (10), no Recife; no Hospital Memorial Guararapes (10), em Jaboatão dos Guararapes; e no Hospital Jesus Pequenino (10), em Bezerros, no Agreste.

O secretário também divulgou que oito leitos de enfermaria do Hospital Maria Lucinda ganharam suporte ventilatório. Ao final da implantação, Pernambuco terá 313 leitos pediátricos para casos de SRAG - 186 de terapia intensiva e 127 de enfermaria.


O Hospital e Maternidade Santa Maria, em Araripina, abriu 10 novos leitos pediátricos na semana passada / Reprodução

"O número de solicitações de UTI para crianças teve aumento de 3 vezes em comparação ao período sazonal do ano passado. E isto é algo que extrapola qualquer planejamento. Neste cenário, o governador Paulo Câmara determinou a abertura de todos os leitos necessários. E, mesmo com a escassez de intensivistas pediátricos e neonatais – realidade de todo o país -, vamos abrir em duas semanas 80 novos leitos", afirmou o secretário na coletiva de imprensa.

André Longo ainda contextualizou que, no período de sazonalidade das doenças respiratórias de 2021, o Pernambuco tinha, em média, 53 solicitações por leitos de UTI infantis por semana. Na semana passada, o Estado registrou o triplo: 150 solicitações. 

Segundo últimas informações da SES, a taxa de ocupação geral dos leitos para bebês e crianças com SRAG da rede pública está em 75%. Nas unidades de terapia intensiva, o índice chega a 82%, e, nas enfermarias, a 70%. Os dados mais recentes da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado, consultados nesta quinta-feira (19), mostram que há 67 crianças com casos de SRAG na fila de espera por leito de UTI infantil e mais 4 bebês para a UTI neonatal.

Que doenças são essas?

A alta nas internações não é por conta da covid-19, mas sim de vírus que costumam acometer crianças nesta época do ano - o que se chama sazonalidade. De acordo com a SES, em crianças de até 2 anos de idade, o vírus sincicial respiratório (VSR) corresponde a mais de 40% dos quadros. Nas crianças maiores, predomina o rinovírus humano (HRV), responsável por 20% dos casos na faixa etária entre 3 e 5 anos e 66% na de 6 e 9 anos.

Em nota à imprensa divulgada pela SES, o pediatra e segundo vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe) explicou que a maioria dos casos provocam infecções leves, com tosse, coriza, febre baixa, e com uma resolução de 3 a 5 dias. “No entanto, mesmo não sendo uma característica em todos os casos, há quadros de maior gravidade. Indicamos que, se possível, evitem nesse momento lugares fechados e com aglomeração. Esperamos que em junho, esses números comecem a reduzir e desafogar o sistema de saúde", orientou.

O médico elencou ainda a importância de lavar as mãos e lavar as narinas com soro fisiológico como forma de reduzir a transmissibilidade dos vírus. "Só é necessário procurar as grandes emergências pediátricas em casos mais graves quando houver algum sintoma mais persistente, como febre de 3 a 5 dias e desconforto respiratório. Inicialmente, as famílias devem procurar as unidades básicas de saúde", finalizou.


Médica especialista preconiza o seguimento do calendário vacinal infantil / Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

Qual o motivo da alta de casos?

Além do VSR e do HRV, a vice-presidente da Sopepe, Rita Brito, cita ainda outros agentes infecciosos que vêm sendo observados nos últimos dois meses: metapneumovirus, adenovírus e bocavírus. “[Esses vírus] ocorrem de forma sazonal, que aqui no Nordeste é de meados de março até início de junho. Habitualmente temos aumento na frequência de doenças respiratórias na faixa etária pediátrica”, falou a pneumologista pediátrica em entrevista ao Brasil de Fato Pernambuco.

Mas, uma vez que a incidência dessas doenças está acima do que ocorre anualmente, até mesmo que no período pré-pandemia, a sazonalidade não abarca em totalidade o fenômeno. A médica diz que é possível que o aumento de casos esteja relacionado com a saída do lockdown, conforme as crianças retornam para as atividades presenciais e se expõem aos patógenos pela primeira vez.

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Isso é sugerido porque faixa etária geralmente acometida é de até três anos; desta vez, há um aumento de casos também em crianças de quatro e cinco anos. “Como as crianças passaram cerca de dois anos sem exposição a esse vírus, então as crianças menores de 5 anos estão sendo expostas pela primeira vez, e as crianças de 3 anos ou menos também estão sendo expostas. Houve uma somação no número de crianças que estão adoecendo por doenças respiratórias. É muito provável que isso seja responsável pelo aumento tão significativo de doenças respiratórias em crianças abaixo de cinco anos”, contextualiza.

Para esses vírus, não há vacina. Mesmo assim, é possível fortalecer o sistema imunológico protegendo-o contra outras doenças. "As medidas mais importantes para evitar que as crianças adoeçam é atualizar o calendário vacinal e comparecer às campanhas de vacinação (de coronavírus e da gripe), neste momento sobretudo”, pontua.

Ela também elenca a importância de se imunizar contra outras doenças respiratórias importantes (como pneumococo, difteria, coqueluche e sarampo) que podem retornar caso não haja adesão em massa da vacinação - possibilidade que tem deixado médicos em alerta.  

“Evitar lugares aglomerados, ambientes fechados, com circulação de muitas pessoas também são medidas interessantes para reduzir o risco de adoecimento respiratório”, conclui. 

Reforço de profissionais

Nesta quarta-feira (18), foi publicada no Diário Oficial do Estado a nomeação de 369 profissionais de saúde concursados, sendo 72 médicos, 129 analistas em saúde (profissionais de nível superior), 166 assistentes em saúde (profissionais de nível médio), e dois fiscais de vigilância sanitária. Dos médicos, 14 são pediatras e 46 são fisioterapeutas, que serão chamados para reforçar os plantões em unidades de referência em pediatria.

A SES também autorizou o reforço nas escalas de plantão de pediatria e de fisioterapia nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) estaduais. Em parceria com a Sopepe, irá fazer uma capacitação com os trabalhadores da rede estadual no sentido de "garantir uma maior qualidade no atendimento e mais segurança na assistência", comunicou em nota a pasta.

 

Edição: Vanessa Gonzaga