POVOS DE TERREIRO

Vozes Populares | Programa "Meu Bairro Tem Axé" luta por aquilombamento urbano em Olinda (PE)

2ª edição do evento foi adiada após terreiros serem inundados com fortes chuvas na RMR; saiba como ajudar

Ouça o áudio:

Maxwell Lobato com a iyalorixá Mãe Jane de Oya, homenageada da 1ª edição do evento Meu Bairro Tem Axé - Foto: Arquivo Pessoal/Maxwell Lobato
Nós não somos sós, nós temos uma ancestralidade, uma história

A história da Cidade Tabajara já começa com resistência. Em 1975, uma grande enchente ocorrida no Recife e região fez com que famílias sem teto para ter onde morar começassem a ocupar essa área urbana, que fica entre os municípios de Olinda e Paulista.  

Neste solo, se apresentam dois cenários: um que é efervescente, pujante, e se manifesta através da arte, da cultura e da religiosidade. O outro é o retrato de uma população pobre, negra e periférica que enfrenta uma série de problemas estruturais e reivindica seus direitos em luta. 

Uma das formas para isso é através do programa Meu Bairro Tem Axé, que faz ações voltadas para os povos de terreiro. Maxwell Lobato, militante do Levante Popular da Juventude e filho do Ilê Oya Egunytá, explica que o projeto surgiu de uma inquietação quanto ao avanço do fascismo e do racismo no Brasil. "Nós enquanto jovens negros do Ilê e jovens militantes dos movimentos populares acreditamos que devemos estar organizados em um processo que garanta a promoção de saúde para a população de terreiro do nosso município".

Esse viés da resistência, enfatiza o militante, deve ser intrinsecamente associado à arte e cultura. Por isso, o programa leva ações artísticas oriundas das culturas afro e indígenas pela Região Metropolitana do Recife e, principalmente, na Cidade Tabajara. 

Quem faz o projeto acontecer?


O Meu Bairro Tem Axé se juntou a atividades como o Mãos Solidárias, do MST, e está executando dois projetos de feiras de saúde junto ao Levante Popular da Juventude / Foto: Reprodução

O Meu Bairro Tem Axé é um dos programas do Centro Cultural Quilombo de Pindoramas e acontece em parceria com diversas organizações populares, como o Levante Popular da Juventude, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM). 

Além disso, o programa também está sendo incentivado pelo edital Jovens Investigadores em Juventude e Saúde através da plataforma colaborativa Agenda Jovem Fiocruz (AJF). "A gente faz uma pesquisa sobre o quanto o Meu Bairro Tem Axé tem uma potencialidade para virar uma política pública de promoção a saúde da população negra e de terreiro".

Ele reforça, ainda, a necessidade de academia e comunidade andarem juntos. "Nós trazemos a oralidade para a academia, perpetuando ela como uma linguagem também acadêmica. A partir dessa pesquisa a gente acredita que consegue construir realmente um combate ao racismo", defende. 

"É preciso resistir com alegria"


A 2ª edição do evento traz como tema "Meu samba tem axé" e traz a força do samba de raiz, de terreiro e do samba de coco / Foto: Arquivo Pessoal/Maxwell Lobato

O programa se divide em ações contínuas com a comunidade - sejam de formação política, político-culturais ou de solidariedade - e culmina em eventos festivos. Isso porque Maxwell enfatiza: "é preciso resistir com alegria". Por isso, em novembro de 2021 aconteceu a primeira edição do evento que leva o mesmo nome do programa. 

Leia aqui: Em Olinda, primeira edição do “No Meu Bairro Tem Axé” homenageia terreiro na Cidade Tabajara

O evento é um momento de aquilombamento urbano, que busca construir consciência política e responsabilidade social e religiosa a partir de diversas expressões artísticas, como o maracatu, o afoxé, o coco de roda, a capoeira e muitas outras. A segunda edição acontece em alusão ao mês do trabalhador e da trabalhadora e ao 13 de maio, que marca uma abolição inacabada, como Max se refere. "A gente entende esses momentos festivos como fator catalizador de mobilização", afirma. 

O militante afirma que a juventude é o público prioritário do programa. "A juventude é o elo com passado, o futuro e o presente, então é a juventude que tem a força social, a disposição energética pra estar nas ruas". Isso, no entanto, não significa excluir as outras faixas etárias. Afinal, uma das nomenclaturas trazidas pelo Quilombo Urbano é a ideia de unidade geracional: deve ser para todas as gerações, mas com atividades pensadas para cada uma delas. 

Lançamento do Comitê Popular de Luta Mãe Jane da Tabajara


Comitê Popular de Luta recebe homenageia a liderança religiosa Mãe Jane da Tabajara / Foto: Divulgação

Sem esquecer o teor político da ações feitas pelo programa, a 2ª edição também será um espaço para o lançamento do Comitê Popular de Luta - Mãe Jane da Tabajara. Maxwell explica a escolha de homenagear a liderança religiosa. "Ela foi a segunda moradora a chegar nesse território. Então ela construiu um processo de luta e de resistência até os dias de hoje que possibilitou o acesso e a manutenção equipamentos públicos e das políticas públicas dentro do território". 

O lançamento reafirma a importância do processo eleitoral neste ano e se soma à luta pelo Fora Bolsonaro. O comitê tem como principal recorte a defesa dos direitos sociais e de livre expressão da população negra, povos e LGBTQIA+ de terreiro. 

2ª edição adiada: terreiros foram inundados pelas tempestades na RMR 

Esta segunda edição deveria acontecer neste dia 28 de maio. No entanto, foi adiada porque as fortes chuvas da região inundaram alguns terreiros da comunidade. Por enquanto, ainda não há uma nova data divulgada.

Nesse momento difícil, os terreiros precisam de doações para limpar e reorganizarem os espaços sagrados. Os itens necessários são: água sanitária, desinfetante, sabão em pó, vassoura, rodo, pano de chão, detergente e bucha de prato. Além disso, um Pix Solidário foi feito para quem quiser ajudar nesse processo: 

Telefone: (81) 99629-1585
Nome: Natasha Cristina Santiago de Oliveira
Conta: Mercado Pago

Para acompanhar o trabalho do programa e entrar em contato, basta acompanhar o perfil @nomeubairrotemaxe no Instagram. Ouça a versão em áudio no início desta matéria.

Edição: Vanessa Gonzaga