“O que está precisando aqui é moradia. Moradia digna, que a gente não tem”, pontua a manicure Janicleide Queiroz, que é moradora da Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, na zona sul do Recife há mais de 20 anos e precisou deixar a sua casa com marido e duas filhas após um deslizamento de barreiras em decorrência das fortes chuvas que aconteceram em Pernambuco no final de semana.
“Eu acho que não precisa uma barreira cair e matar ninguém para alguém vir aqui não. Só vai vir alguém quando a barreira cair e matar alguém para socorrer a gente? Eu acho que não tem necessidade disso não. Foi uma tragédia o que aconteceu aqui. Uma coisa chocante, porque muitas famílias morreram, muitas barreiras estão desabando, muita gente sem ter onde morar. Eu mesma sou vítima de uma barreira que caiu”, lamenta Janicleide.
Assim como a manicure, quase 5 mil pessoas ficaram desabrigadas na Região Metropolitana do Recife e na Zona da Mata, segundo informações da Secretaria de Defesa Social (SDS). Além das mais de 90 pessoas que morreram soterradas ou em decorrência das chuvas desde quinta-feira, levando 14 municípios pernambucanos a decretarem situação de emergência.
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Solidariedade
Em meio à tragédia, o que tem se destacado é a solidariedade. São diversas escolas, estádios de futebol, igrejas e outros espaços que se converteram em pontos de doações e abrigos. Entre eles está a Campanha Mãos Solidárias, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) junto com sindicatos, ONG's e movimentos populares e que já existia desde o início da pandemia e fornece alimentos para diversas comunidades. Agora, a campanha está distribuindo marmitas para os moradores da comunidade Vila dos Milagres em um anexo da Igreja Presbiteriana do Brasil.
“A gente está sentindo uma necessidade muito grande de doações, porque as doações que estão vindo não são suficientes para que a gente reproduza as marmitas, porque não são só aqui para os Milagres, a cozinha que a gente tem aqui. É para a cozinha central, é para o Monte Verde, para a Ceasa, para o Ibura de Baixo, para outras comunidades vizinhas a nós que não conseguiram se articular e montar uma cozinha por falta de condições ou de espaço”, destaca a moradora e coordenadora da Cozinha Popular do Ibura Josileide Lins da Silva.
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Mais chuvas
Em nota, o Governo do Estado informou a liberação de 100 milhões de reais para ações emergenciais de busca, salvamento, obras urgentes e infraestrutura nos municípios atingidos através das suas prefeituras, mas a chuva continua. Segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC) a previsão é de chuvas em todo o estado até o final de semana.
“Após a passagem do Sistema Ondulatório de Leste, a previsão é de chuvas com intensidade moderada na Mata Norte, na Mata Sul, na RMR e também no Agreste. No sertão, a previsão é de chuva com intensidade de fraca a moderada até sexta-feira. No final de semana, a tendência é de diminuição das chuvas em todo o litoral pernambucano”, aponta a meteorologista Zilurde Lopes.
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Visita de Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro veio até Pernambuco com cinco ministros. Ele sobrevoou as áreas atingidas pelas chuvas e foi embora após duas horas no estado. Em entrevista coletiva, foi anunciada a liberação de 1 bilhão em créditos extraordinários para o Ministério do Desenvolvimento Regional para ações de resposta e reconstrução.
Contudo, a visita do presidente não foi comunicada às autoridades locais. O governador Paulo Câmara comentou em entrevista coletiva no último domingo (29) que não havia sido comunicado da vinda de Bolsonaro e, por isso, não acompanharia o presidente.
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Edição: Vanessa Gonzaga