De raízes religiosas, as festas do Divino Espírito Santo foram trazidas pelos portugueses por volta do século XVI e hoje são realizadas em diversas partes do país. Em cada lugar, elementos populares foram incorporados à festa, como o levantamento de mastros, queima de fogos e a representação de figuras da realeza, como a Imperatriz e o Imperador.
No Maranhão, essa tradicional festa tem destaque na cidade histórica de Alcântara, a 22 quilômetros da capital São Luís. Em uma mistura de sagrado e profano, a festa centenária acontece ao longo de doze dias, período em que os participantes são tratados como nobres da realeza e oferecem missas e fartas refeições à comunidade, regadas a muita música e bebidas típicas.
Leia: A diversidade cultural do São João maranhense vai além do bumba meu boi
Cristianismo
“Ela se diferencia e se destaca das demais Festas de Divino tanto do Maranhão quanto de outras partes do Brasil justamente pela quantidade de dias. Ela tem doze dias de duração e durante todos esses doze dias acontecem rituais, celebrações, folias”, explica Haroldo Júnior, chefe da Casa do Divino. “É uma festa totalmente católica, esse é um outro aspecto que a faz diferenciar das demais Festas do Divino. Porque, por exemplo, no Maranhão existem diversas outras festas, mas geralmente elas são realizadas em terreiros de religiões de matrizes africanas”, destaca.
Durante o período da festa, as figuras simbólicas do reinado percorrem as ladeiras com roupas luxuosas e convidam todos para os banquetes e festividades. Outro diferencial apontado pelo festejo realizado em Alcântara é a presença das caixeiras, senhoras idosas com profundo conhecimento dos rituais, que acompanham os cortejos com batidas características e marcam a abertura e o encerramento das cerimônias.
Leia: Festa que marca os festejos juninos no Maranhão, Bumba Meu Boi começa cortejos em todo o estado
Acolhimento
“Durante esses doze dias reina uma Imperatriz ou um Imperador, que são pessoas da comunidade, escolhidas para esse reinado e essas pessoas escolhem adolescentes que vão representá-los, que são vestidos de príncipes e princesas. É escolhido um grupo de festeiros que são os mordomos. Além da Imperatriz ou do Imperador tem um mordomo-régio, que é uma espécie de vice”, relata Haroldo.
Apesar da pouca estrutura hoteleira, os turistas são acolhidos pelos próprios moradores em suas casas, reforçando o espírito de partilha e comunhão que dão vida aos festejos. “Cada festeiro dispõe de uma casa que recebe a comunidade durante os doze dias de festa, onde são servidos doces, chocolates, licores, comida, tudo gratuito para a população e os visitantes, no sentido de partilhar o Divino Espírito Santo”, afirma o chefe da Casa do Divino.
A Festa do Divino de Alcântara acontece todos os anos na quinta-feira de Ascensão ao Senhor até o domingo de Pentecostes, quando os postos da realeza são entregues aos novos festeiros. Com pouco mais de 20 mil habitantes, a cidade recebe milhares de turistas, que aproveitam para conhecer as belezas naturais de Alcântara, repleta de história e praias paradisíacas.
Edição: Elen Carvalho