Pernambuco

SAÚDE

PE vive nova onda de covid em meio a casos de leptospirose, arboviroses e doenças respiratórias

Com vacinação da 3ª dose estagnada, número de casos diários da covid-19 voltou a ultrapassar a faixa dos mil no estado

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Pernambuco soma 947.742 casos confirmados da doença (58.673 graves e 889.069 leves) e 21.784 óbitos. - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Febre, perda de olfato, cansaço, dor de cabeça e dor no corpo - quando a terapeuta Vivian Leite, de 24 anos, começou a sentir esses sintomas, agiu rapidamente para realizar a testagem para a covid-19. Na tarde seguinte, na quinta-feira (9), o resultado comprovou sua suspeita: positivo para SARS-CoV-2. Só naquele dia, Pernambuco registrou 1.166 diagnósticos de covid-19, voltando a ultrapassar a marca dos mais de mil novos casos em 24 horas. 

O estado vive uma nova onda da doença, segundo o médico Filipe Prohaska, infectologista chefe da triagem de doenças infecciosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) da Universidade de Pernambuco. E com o desafio de enfrentá-la concomitantemente com a alta de outras enfermidades relacionadas a agentes infecciosos: leptospirose, arboviroses e doenças respiratórias.

O último boletim da Secretaria Estadual de Saúde (SES) de Pernambuco, desta terça-feira (14), dá conta de mais 925 novos casos, sendo que só onze (1%) são quadros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), enquanto os outros 99% são leves. Também foram registradas cinco mortes, ocorridas entre 1 de setembro 2020 e a última quarta-feira (8). Com isso, o estado soma 948.667 casos confirmados da doença (58.684 graves e 889.983 leves) e 21.789 óbitos desde a chegada da pandemia

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Já vacinada contra o coronavírus com as duas doses mais o reforço, Vivian foi uma das pessoas que apresentou um quadro leve da covid-19. Mas não é a primeira vez que teve doença: antes da imunização, em 2020, teve um caso com sintomas mais significativos. 

“Foi bem pior naquela época. Eu ficava realmente muito cansada, a dor de cabeça foi muito maior. Febre eu tive por dois dias seguidos, e muita moleza. Ficava cansada o dia todo, com muito sono, tosse eu tive bastante. Acho que a vacina deu uma ajudada a diminuir esses sintomas”, afirma. 

Mesmo que a maioria dos quadros hoje sejam leves, os números voltam a acender um sinal de alerta. Para Filipe Prohaska, alguns motivos podem estar associados à ascensão dos indicadores: “A gente está somando várias situações. Com o fim da obrigatoriedade do passaporte vacinal, poucas pessoas foram tomar a terceira dose da vacina. A gente sabe que, para a [variante] Ômicron, a eficácia da vacina é muito maior com três doses que com duas. A Ômicron também tem capacidade de transmissibilidade bem maior. Além disso, teve a retomada das atividades, com que se tem maior exposição das pessoas”, elenca.


Vacinada com três doses, a terapeuta Vivian Leite apresentou um quadro leve da covid-19 / Cortesia

Atualmente, 83,72% das pessoas elegíveis estão imunizadas com duas doses ou dose única (esquema vacinal completo) em Pernambuco, de acordo com dados do Governo Estadual consultados nesta terça-feira (14). Porém, enquanto isso, a cobertura vacinal da primeira dose de reforço está estacionada em 49,6%. No Recife, 76,25% do público-alvo está com o esquema vacinal completo, ao passo que 51,96% tomou o primeiro reforço. 

Essa estagnação da vacinação não estaria relacionada à falta de imunizantes, diz Prohaska. Só entre essa sexta-feira (10) e segunda-feira (13), o Estado recebeu 300 mil doses de vacina contra a covid-19. Desde o início da campanha, em 18 de janeiro de 2021, Pernambuco recebeu 23.556.633 doses e aplicou 19.963.742, de modo que há um excedente de vacina.

“O grande problema anteriormente era a falta de vacina. Agora temos uma situação diferente. Há vacinas disponíveis, os grupos estão comunicados da possibilidade de se vacinar. O que tem limitado é a busca da população de ir atrás da dose complementar. A busca caiu bastante”, fala o médico.

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É nesse contexto que o passaporte vacinal deixa de cumprir um papel importante de incentivo com o fim de sua obrigatoriedade. “Como isso foi revogado, acabou havendo um relaxamento, tanto do Estado como da população. Tem que se criar estímulos para que as pessoas entendam a necessidade dessa dose adicional. Uma pena que estamos em um ano em que isso está muito politizado, o que acaba trazendo desinformação e complica o entendimento da importância dessas doses vacinais”, avalia. 

Com a queda na procura pela terceira dose, a baixa é sentida também na quarta dose. A cobertura vacinal do segundo reforço no público-alvo está em 23,5% em Pernambuco. Mesmo assim, o infectologista reforça que, para priorizar a imunização máxima da população, o foco deve estar em aumentar os números da terceira dose. 

Leptospiroses, arboviroses e doenças respiratórias agravam sufoco da Saúde em PE

Referência no tratamento de doenças infecto-parasitárias, o Hospital Oswaldo Cruz está sentindo o impacto do crescimento no número de casos da covid-19, e também de outras doenças.  

“Estamos passando por uma situação muito complicada. Não só a demanda de covid tem aumentando, como a demanda de leptospiroses e arboviroses, devido aos problemas de enchentes com as chuvas. As arboviroses aumentando tem feito com que as Unidades de Pronto Atendimento [UPA] ficassem muito cheias, e que os hospitais de sentinela tenham que conviver com as três patologias de forma simultânea”, afirma Prohaska.

Pernambuco também está vivendo uma crise de leitos pediátricos, com a alta inédita de casos de doenças respiratórias em pacientes infantis. Há 66 crianças e 10 bebês na fila de espera por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais seis crianças aguardando leito de enfermaria na rede pública de Saúde, de acordo com os dados mais recentes da Secretaria de Planejamento e Gestão de Pernambuco, consultados nesta terça.

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“Na Pediatria, é visível que toda a rede estadual tem tido dificuldades. Até porque abrir leito pediátrico é uma demanda bem mais complicada, tem que ter equipes e materiais bem especializados. Somado à covid, tem um grande número de doenças virais [acometendo esse público] - H1N1, vírus sincicial respiratório (VSR), adenovírus. Aí tem uma demanda simultânea bem maior nessa faixa etária. Sazonalmente, já se tem esses problemas, mas, em um ano como esse, acaba sendo um problema bem maior que nos anos anteriores”, comenta o médico.

O panorama apresentado evidencia a necessidade de aumentar a cobertura vacinal das doenças para as quais há imunizante. “E além da vacinação, a gente tem que voltar com as políticas públicas, não só de saneamento, mas de métodos diagnósticos para ir além da covid e de todas essas patologias que, ano vai, ano vem, estamos sempre tendo que enfrentar”, defende.

Edição: Elen Carvalho