Após um longo período sem ouvir ecoar os gritos da torcida nas partidas de futebol, os torcedores voltaram às arquibancadas dos estádios pernambucanos. Mas os instrumentos musicais ainda estão impedidos de entrar. Uma proibição da Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco está impedindo a entrada de diversos itens, como guarda-chuvas, bastão de 'selfie', cartolina e objetos que emitam sons.
O torcedor do Clube Náutico Capibaribe e presidente da torcida organizada Centenários, Marcelo Vinícius, analisa a determinação no estado. “Aqui em Pernambuco parece que é uma jurisdição à parte, parece que é um mundo à parte, parece que futebol é mais violento ainda do que eles já querem colocar, não sei. Assim, a gente está nessa situação e não vê muita perspectiva”, pontua.
Criminalização das torcidas
Apesar da proibição agora ser total, já faz quase uma década que os torcedores veem a festa nas arquibancadas ser reduzida pouco a pouco, mas apontam que essas medidas não têm impacto na diminuição da violência nos estádios.
O assistente social Jonatas Soares frequenta o Arruda, estádio do Santa Cruz, desde 1993 e integra a torcida organizada Inferno Coral. “Vão fazer 10 anos de proibição, né? E nada mudou. Continua tendo briga, a mesma narrativa de que as famílias estão distantes. São 10 anos! Uma geração inteira de torcedores que não sabe o que é uma festa de torcida organizada no estádio, assim, e de maneira muito reduzida ainda, com o que a gente tinha na década de 90, 2000”, analisa.
Os torcedores enxergam a decisão da SDS como uma medida que reforça a criminalização das torcidas organizadas. Mesmo não negando que existem brigas entre as torcidas, o alvirrubro destaca que a maioria vai aos estádios para curtir o jogo. “Se você perguntar às torcidas o que elas querem, ao pessoal que não briga, a gente vai dizer que não quer isso e vai propor soluções. Se você propõe torcida única, basicamente pune eu que não estou brigando; pune a maioria, na verdade. Tem torcida organizada em Pernambuco que tem mais de 40 mil sócios, chegou a ter mais de 40 mil sócios. Esses 40 mil estão brigando? Se 40 mil estivessem brigando, Recife estava abaixo já”, aponta.
Porque os torcedores se organizam?
Apesar das torcidas discordarem sobre qual é o melhor time, tem algo que é unânime: o motivo que faz com que um torcedor se organize. Para os torcedores organizados, os grupos existem para compartilhar a paixão pelo futebol, viajar para assistir jogos, animar os times e fiscalizar a direção dos clubes.
“Existe a disputa ali da partida, dos jogadores; e tem outra disputa que é da festa na arquibancada. A disputa pela voz que vai cantar mais alto, quem vai fazer a festa mais bonita, então é isso que chama, né? Eu vou ali, porque eu quero fazer o meio de campo, eu preciso garantir a vitória e aquela sensação de você jogar junto”, destaca o tricolor Jonatas. O que concorda o alvirrubro. “A torcida organizada é pertencimento, é amizade, é família, mesmo. A gente tem que parar de colocar esse estigma que é só violência, porque se você colocar na conta mesmo, a violência é exceção”, conclui. Por hora, os torcedores ficam só com o desejo de voltar a ouvir suas batucadas e sua festa ecoar nos estádios.
Em nota, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) informou:
“Informamos que permanece vedado o ingresso de baterias, instrumentos musicais, apitos e porta-bandeiras, bem como outros objetos que representem risco à segurança. A restrição atende aos protocolos de segurança implementados desde a Copa das Confederações e da Copa do Mundo no Brasil. Qualquer objeto que represente ameaça à integridade dos torcedores poderá ser apreendido. A restrição se dá por questões de segurança e prevenção à violência, devido ao risco de esses objetos serem arremessados ou utilizados em possíveis brigas de torcidas.”
Edição: Elen Carvalho