Na noite deste domingo (19), a deputada federal e pré-candidata a governadora Marília Arraes (SD) realizou evento em Serra Talhada, no sertão pernambucano, para anunciar o deputado federal Sebastião Oliveira (Avante) como vice de sua chapa. Também estiveram presentes o deputado federal André de Paula (PSD), pré-candidato ao Senado; além de ex-prefeitos e pré-candidatos a deputados pela aliança. Oliveira integrava a Frente Popular, sob liderança do PSB, havia mais de 15 anos.
Sebastião Oliveira é nascido no Recife, tem 53 anos, é médico formado na UPE em 2002. No mesmo ano em que se graduou, foi eleito deputado estadual pelo PFL, sendo reeleito mais duas vezes, tendo mandato na Assembleia Legislativa até 2014. Durante o segundo mandato se licenciou para assumir a Secretaria de Transportes de Pernambuco (2007-10) no primeiro governo Eduardo Campos.
Com a aposentadoria do seu tio Inocêncio Oliveira, Sebastião foi escolhido para manter a cadeira em Brasília. Em 2014 foi eleito deputado federal, se licenciando para novamente ser secretário de Transportes. Foi reeleito federal em 2018. Por estar licenciado ocupando o cargo no Executivo pernambucano, Sebastião Oliveira não estava em Brasília em votações importantes nos últimos anos, como a PEC do Teto de Gastos (2016), a terceirização (2017) e a reforma trabalhista (2017).
Mas ele estava com o mandato durante a votação do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), sobre o qual Sebastião Oliveira se absteve (assista abaixo). Já no governo Bolsonaro, Oliveira votou a favor da reforma da previdência (2019), da “autonomia” do Banco Central (2021) e da privatização da Eletrobras (2021), projetos sobre os quais Marília Arraes (então no PT) foi contrária.
Em tempo: o candidato governista Danilo Cabral (PSB), apoiado por Lula (PT), foi contra estes dois últimos projetos, mas foi favorável ao impeachment em 2016. O pré-candidato a senador André de Paula (PSD), apoiado por Marília, também votou a favor do impeachment de Dilma e foi favorável a todos os projetos de acima citados. No vídeo acima, os votos dos deputados pernambucanos no processo de impeachment têm início às 8:59:30.
Durante o evento deste domingo, Sebastião Oliveira inclusive deu uma declaração equivocada sobre sua posição no impeachment. “Não sei dizer se sou de direita, centro, centro-esquerda ou esquerda. Mas sempre atendi quando fui solicitado para estar ao lado do povo pernambucano, como quando votei contra o impeachment”, declarou. Marília Arraes (SD) presenteou o novo aliado com um chapéu de palha em que se lê “Arraes + Oliveira”, similar ao que colocou na cabeça de Lula (na ocasião, dizia “Arraes + Lula”).
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Sobre sua saída da Frente Popular após tantos anos, Sebastião Oliveira afirmou que sentiu ter tirado “duas toneladas das costas” na última semana, quando conversou com o governador Paulo Câmara (PSB) e com o prefeito do Recife, João Campos (PSB), para solicitar que fossem exoneradas as pessoas que ele indicou para o governo e prefeitura. “Me senti um homem livre (...) para construirmos um lugar melhor para Pernambuco”. Ele disse que “o povo pernambucano está cansado desse lenga-lenga”, em referência às promessas do PSB.
Para Oliveira, o estado “ficou parado, estagnado” nos últimos anos. “O ciclo já foi virtuoso e nós participamos disso, com Inocêncio Oliveira e Eduardo Campos. Mas o ciclo se tornou vicioso”, avaliou. Ele foi duro ao dizer que o PSB faz “coisas impublicáveis para manter o poder em Pernambuco”. “Nós precisamos tirá-los para Marília construir um ambiente mais democrático”, pediu o deputado. “Hoje se gasta mais energia na manutenção do poder do que para cuidar das pessoas”, completou.
Sebastião, assim como André de Paula (PSD) e outros líderes da Frente Popular têm externado insatisfação com o tratamento recebido. “Quando Eduardo Campos morreu, parece que rasgaram sua cartilha e jogaram fora”, disse o pré-candidato a vice-governador. Ele considera que Marília “carrega o sentimento que Eduardo transmitia”. Ela, que é prima do falecido, por desavenças políticas tornou-se desafeto do ex-governador nos seus últimos meses de vida. Mas tem sido recorrente seus novos aliados a compararem com Eduardo. Ela própria tem reivindicado o nome do primo em sua campanha.
Liderança relevante do Sertão do estado e herdeiro político de uma outra liderança, Sebastião garante que “Marília será a melhor governadora de todos os tempos para Serra Talhada”. “Ela mudou de agremiação partidária [do PT para o Solidariedade], mas não mudou os princípios democráticos. Ela defende as bandeiras do povo”, garantiu Oliveira, que desde 2019 é colega de Marília na Câmara Federal. “Peço apenas que olhe com carinho para o interior. Que coloque a máquina para moer para quem mais precisa”, disse ele.
Marília espera novos dissidentes da Frente Popular
Marília Arraes se disse orgulhosa pelo novo aliado. “Sebastiao será ‘co-governador’. É um homem com firmeza de caráter, que conhece as dificuldades e potencialidades de Pernambuco e tem compromisso com o estado”, afirmou. Ela também opinou, usando o exemplo de Lula e Alckmin, que o momento pede a união entre “pessoas com pensamentos diferentes”. “Uma construção ampla para combater a miséria, a fome, o desemprego e a estagnação”.
De olho em atrair dissidentes da Frente Popular e também dos outros grupos de oposição, Marília discursou contra a perseguição a prefeitos opositores. “O dinheiro não chega para quem pensa diferente. E quem se prejudica é o povo”, disse ela. “Pernambuco tem praticamente uma polícia política de perseguição a adversários no estado”, disparou noutro momento. “Eduardo [Campos] tinha muitas qualidades e muitos defeitos, como todo ser humano, mas esse grupo aí só herdou os defeitos”, avaliou a pré-candidata.
Arraes menciona que muitos aliados do PSB estão insatisfeitos, “mas poucos tiveram a coragem desses dois”, elogiou, dirigindo-se a André de Paula (PSD) e Sebastião Oliveira (Avante). Sobre uma possível migração também do PP de Eduardo da Fonte, ela se mostrou positiva. “Temos expectativa que muitos venham, inclusive o PP. Nunca deixamos de conversar com ninguém, seja da oposição ou da Frente Popular”, afirmou, avaliando que “ainda há muito para acontecer” até agosto, quando as chapas serão oficializadas.
A pré-candidata ao governo também criticou o fato de o PSB supostamente querer exclusividade sobre o uso da imagem de Lula (PT). “Quem quer que Lula vença eleição, vai querer que todo mundo vote nele. Quem a gente puder unir, agregar para votar em Lula, a gente vai trazer”, disse ela.
Como de costume, Marília lembrou que a posição do PSB pernambucano sobre o PT e Lula não é constante. “Eles mudam de opinião ao sabor do vento. Já nós estamos com Lula no bom e no ruim”, disse ela, que citou ainda os ataques que sofreu na eleição municipal do Recife em 2020, quando foi derrotada por João Campos (PSB). “Eles têm uma máquina de fake news igual à do bolsonarismo. Atacaram a mim, minha fé e minha família. Mas agora meu couro está grosso”, desafiou.
Ex-PFL diz ser senador de Lula
O pré-candidato a vice também defendeu o nome de André de Paula (PSD) para o Senado, opinando que “os senadores que lá estão [Humberto Costa, PT; e Jarbas Vasconcelos, MDB] não terão boa vontade com Marília Arraes. Por isso precisamos eleger André”, avaliou. Marília completou. “Não temos como andar com uma perna só. Tem que ter duas pernas: uma aqui no estado, que serei eu, e outra é André em Brasília”, disse ela, que espera ter força política “para cumprir o passivo de promessas de tantos anos de estelionato eleitoral cometido por esse grupo que está aí”, atacou.
Pré-candidato ao Senado na aliança, André de Paula (PSD) também fez muitos elogios a Sebastião. “Correto, leal, um homem público decente, trabalhador, cumpridor de compromissos. Marília não poderia te rum parceiro melhor”, avaliou. Após ter tentado ser Senador pela Frente Popular, mas preterido pelo PSB em nome de Teresa Leitão (PT), ele agora se diz “convencido de que foi um livramento”. “Vou morrer grato à Frente Popular, porque eles me deram a oportunidade de estar ao lado desta mulher”, propagandeou.
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André de Paula confirma chapa com Marília Arraes, que defende “experiência” em voto para Senado
Historicamente ligado a partidos conservadores e com histórico de votações à direita no Congresso Nacional, André de Paula prometeu “defender o governo do presidente Lula” no Senado. “Meu partido vai cumprir um papel importante na governabilidade nos próximos anos. E eu vou estar lá”, acredita. De Paula se mostra confiante na vitória da aliada. “Nunca vi nada parecido em 40 anos de vida pública: o povo quer votar em Marilia Arraes”, disse.
Palanque forte em Serra Talhada
Oliveira também comemorou ter conseguido unir no mesmo palanque os ex-prefeitos serratalhadenses Carlos Evandro (Avante) e Luciano Duque (ex-PT, hoje Solidariedade), adversários locais da política. Carlos Evandro é do grupo de Sebastião Oliveira e foi prefeito de Serra Talhada, tendo Duque como seu vice, mas ambos se tornaram adversários. Em 2012 o candidato do grupo foi Sebastião Oliveira, mas Luciano Duque (então no PT) também foi para a disputa e saiu vencedor, sendo reeleito em 2016 contra Victor Oliveira, sobrinho de Sebastião.
Em 2020, Duque fez sua sucessora Márcia Conrado (PT), atual prefeita da cidade, eleita contra Socorro Brito (Avante), esposa de Carlos Evandro. Duque é aliado de Marília desde o primeiro momento, tendo deixado o PT para se filiar ao Solidariedade junto com ela. E com o embarque de Sebastião Oliveira, os adversários locais se veem juntos no mesmo palanque. Já Márcia Conrado (PT) seguiu a orientação do partido e está apoiando Danilo Cabral (PSB).
Irmão de Sebastião e presidente estadual do Avante, Waldemar Oliveira é o nome da família para disputar a Câmara Federal este ano. Em discurso no palanque, disse que “o povo quer mudança”. “Fomos aliados do PSB desde Eduardo Campos. Já se vão 16 anos, mas esse ciclo chegou ao fim. A saúde vai mal, a infraestrutura está terrível”, exemplificou. Mas ele considera que a eleição “não será fácil”.
O ex-prefeito Carlos Evandro reforçou a unidade pela eleição de Lula. “É o nosso comandante maior. Quem votar contra Lula, não é verdadeiramente nordestino”, disse ele. “Quando fui prefeito, ele deu muita ajuda para Serra Talhada, principalmente em infraestrutura e educação”, recordou, mencionando os campi da UFRPE, IFPE, a Transnordestina e a adutora do Pajeú. Também ex-prefeito, Luciano Duque (SD) afirmou que Marília e Sebastião “foram os [deputados] que mais ajudaram Serra Talhada destinando emendas que permitiram que a prefeita atual pudesse realizar obras”, pontuou.
O evento no auditório do Hotel São Cristóvão durou cerca de uma hora e meia e contou com prefeitos da região do Pajeú, além de vereadores e lideranças políticas que apoiam a candidatura de Marília, entre os quais dissidentes de outras candidaturas, como vereadores do PT e mesmo dirigentes municipais do PSB no sertão.
Edição: Elen Carvalho