O filtro de barro, o ‘radinho’ de pilha, a pintura da família e a figura do santo são objetos carregados de vínculos familiares e histórias sertanejas. Foi com a curiosidade por trás de cada objeto que Roberto Moreira Chaves reuniu as lembranças da família e transformou a sede da antiga fazenda do seu avô Quinca Moreira em museu, na Comunidade de Salgado dos Moreiras, município de São Gonçalo do Amarante, no sertão do Ceará.
A partir de uma coleção de fotografias lançada em 2004 com base em histórias contadas pelas avós, o Museu Quinca Moreira foi inaugurado em 2020. Atualmente já recebe objetos de diversas famílias e expressa o processo de ocupação da região, a riqueza e cultura sertaneja.
“A partir das narrativas delas sobre as histórias da família, eu fui aos poucos criando um álbum de fotografias. É interessante perceber que o álbum de fotografias lincava não só a família, mas histórias da região. Não existiam imagens de algumas pessoas, então comecei a associar objetos e documentos a essas pessoas”, explica o idealizador e diretor do museu, Roberto Moreira Chaves, que acredita que esses objetos contam a história da região. “Esse acervo foi crescendo e eu pude perceber que ele ia para além da história das famílias Moreira Barroso, de São Gonçalo do Amarante e a família Chaves Nunes, de São Luís do Curu. Ele tratava do processo de ocupação da região”, afirma.
Quinca Moreira era um antigo fazendeiro da região que doava terra para trabalhadores, que aos poucos constituíram a hoje chamada Comunidade de Salgado dos Moreiras. A Casa de Quinca, que era de taipa de mão, foi restaurada pela comunidade e hoje o museu envolve as famílias nos processos que vão desde a coleta de materiais até a recepção de estudantes e pesquisadores.
“O Museu é um museu-casa, então ele traz esses aspectos da casa. E aí você trabalhar toda a visita, a mediação da visita com o público é interessante porque traz todos os aspectos do sertão”, aponta o diretor. Com uma exposição permanente de mais de 6.000 itens, o Museu Casa de Quinca Moreira já foi premiado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - o Iphan.
Além das exposições, promove também oficinas, debates e outras atividades para a promoção da cidadania envolvendo desde idosos até crianças. “Um museu em uma comunidade rural acaba mudando a realidade da vida dessas pessoas. Hoje a gente conta com visitas não só da região, mas grupos de universitários, de escolas profissionalizantes de todo o estado do Ceará”, destaca o diretor, que conclui “A gente percebe que a comunidade tem outro olhar pelo patrimônio, pela preservação, a valorização dos mestres da cultura local que desenvolve algum saber”.
Hoje a comunidade de Salgado Moreira e seu entorno tem a história contada em fotografias e objetos, em um processo coletivo e de ajuda mútua que contribui com a preservação do patrimônio histórico do estado do Ceará. Para visitar, basta agendar pelo Instagram @museudequincamoreira ou pelo email [email protected]
Edição: Elen Carvalho