Pernambuco

CULTURA POPULAR

Tradicional Boi de Caruaru, o Tira Teima completa 100 anos e pede ajuda para concluir sede

A sede irá abrigar a Associação de Arte e Cultura Mestre Gercino Bernardo da Silva e o Centro Cultural Boi Tira Teima

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O Boi Tira Teima movimenta o Agreste pernambucano em todas as festas do ano ao brincar com a dança, a música e o fantástico - Secretaria Especial de Cultura

O movimento cultural Boi Tira Teima chega aos seus 100 anos em outubro. É o centenário do mais antigo e conhecido Boi de Caruaru, que movimenta o Agreste pernambucano em todas as festas do ano ao brincar com a dança, a música e o fantástico. Neste ano tão simbólico para o popular folguedo, o grupo quer comemorar seu aniversário com a construção de sua sede finalizada. E para isso, precisa de doações.

O atual mestre e coordenador do Boi Tira Teima, Roberto Gercino da Silva, de 63 anos, conta que o movimento não tem o dinheiro necessário para concluir a obra que está sendo feita no bairro de São José. É com sufoco que eles conseguem colocar o boi na rua. “A cultura popular é uma coisa difícil de se fazer. A gente insiste, mas não é fácil”, expressa o diretor.

Leia também: Websérie “Minuto na Jurema” desmistifica a religião de origem indígena

A ideia é que, no espaço, funcionem a Associação de Arte e Cultura Mestre Gercino Bernardo da Silva e o Centro Cultural Boi Tira Teima. É que as atividades do movimento não se resumem à festa: também incluem trabalho social na comunidade. “Queremos dar sequência ao trabalho de uma associação cultural com viés comunitário para atender o povo e suas necessidades”, afirma.

Essas ações atualmente são realizadas em uma tenda colocada de frente ao terreno da casa a ser reformada, que também foi uma doação. São cursos profissionais, aulas e oficinas de música, culinária, reciclagem, fuxico, entre outros. Por Caruaru ser um pólo de confecção têxtil, explica Roberto, há materiais de sobra para a prática do artesanato, assim como a boa vontade de quem se habilita a ensinar. Tudo para servir de renda e empoderar financeiramente as pessoas que vivem no território.

Aliás, o viés popular do Boi Tira Teima está em sua origem. “A tradição nasceu em 1922, a princípio com o intuito de o pessoal brincar carnaval. Pessoas menos favorecidas, agricultores, trabalhadores braçais, sapateiros resolveram inventar esse bloco e teve isso”, rememora. Seu fundador foi um senhor chamado Pedro Evangelista, no sítio Preguiça, na zona rural de Caruaru.


“A cultura popular é uma coisa difícil de se fazer. A gente insiste, mas não é fácil”, expressa o mestre do Boi Tira Teima / Secretaria Especial de Cultura

Hoje em dia, o boi corteja o público não mais só no Carnaval. Em toda festa, ele dá o ar de sua graça. “Em todos os eventos que possam existir na cidade e no estado. Semana Santa, Natal, no mês de junho… Em todo calendário cultural da cidade”, declara.

Filho do Mestre Gercino Bernardo da Silva, uma das pessoas que dirigiu o movimento, Roberto sabe a história do folguedo na ponta da língua. “Meu pai era brincante desde os 6 anos de idade e foi até a década de 70, quando passou a ser um dos donos”, diz. Mestre Gercino morreu em 2011, e o Boi Tira Teima ficou sob comando da matriarca da família, Dona Lindauva, mãe de Roberto, que também já faleceu. Desde então, Roberto é o mestre dos quase 50 brincantes que, de acordo com ele, hoje são praticamente todos da mesma família.

O Boi Tira Teima está completando cem anos, mas a tradição do Bumba Meu Boi remonta há muito tempo antes. "Quando os portugueses vêm para o Brasil, trazem os escravos para trabalhar. Eles por não terem diversão, à noite tiravam mato, cipó, madeira e faziam uma réplica daqueles bois com que eles trabalhavam lá [durante o dia]. Cobriam o boi e faziam uma fogueira na frente. Vestidos com aquelas peças, faziam evoluções como faziam nos países deles. Tocavam uma espécie de maracatu, e faziam dança ao redor da fogueira. E foi quando surgiu o fantástico”, contextualiza Roberto.

Leia também: Trilhas do Nordeste reestreia com Cozinhas Populares e quadro de interação com o público

O que em Pernambuco virou o Bumba Meu Boi, em outros recantos do país ganhou outros nomes. “Em outra região é boi-bumbá, em outra é boi de matraca”, exemplifica. “Cada região tem seus instrumentos e forma de evoluir.” Uma coisa é sempre igual, no entanto. O folguedo tem três linhas de personagens: fantásticos, humanos e animais. 

Quando se apresenta no palco, o Boi Tira Teima conta através da evolução a história folclórica de Catirina e Mateus. “Catinira estava grávida e teve desejo muito grande de comer a língua do boi mais bonito da fazenda em que moravam. Mateus, por amor de Catirina, para satisfazer a vontade dela e o filho não nascer com cara de boi, consegue realmente matar o boi, tirar a língua dele e dar para ela comer. Quando o patrão chega, solicita o boi, e Mateus vai atrás dos pajés, de veterinário, para ressuscitar o boi”, fala. As cenas que o público vê são simbologias para trazer o Boi de volta à vida. 

Saiba como ajudar

Interessados em contribuir com a propagação do Boi Tira Teima e o fazer da cultura popular podem ajudar com doações. Qualquer valor pode ser doado para o PIX da associação (CNPJ: 35166231000154). Para saber mais, o contato de Roberto Gercino é (81) 99936.1081 ou [email protected].

Edição: Elen Carvalho