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Os festejos juninos não estarão mais nos currículos de nossas escolas

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A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) veio para tentar homogeneizar os currículos de nossas escolas. - Rovena Rosa/ Agência Brasil
A nova BNCC feita pelo MEC de Bolsonaro despreza a cultura e nossas manifestações populares

Nesse mês de junho, quando grande parte do país comemora as festas juninas, é muito importante resgatarmos como essa importante tradição popular faz parte e forja nossa cultura enquanto povo até hoje. As manifestações culturais dos festejos do mês de junho, em especial na nossa região nordeste aqui do Brasil, marcam tanto a nossa personalidade enquanto povo que essa época do ano nos mobiliza tanto ou mais que o próprio carnaval.

As festas juninas são um marco da reverência do povo brasileiro aos santos mais populares e venerados do país: o período que se inicia em 13 de junho, quando comemoramos o dia de Santo Antônio, e vai até o dia 29 de junho, dia de São Pedro. No meio desse período, temos o Dia de São João, comemorado na data do 24 de junho. Mas se hoje as festas juninas são marcadas por essa matriz religiosa do nosso catolicismo popular, nem sempre foi assim.

Na verdade, a origem dos festejos juninos não tem nada de religioso e também não vem daqui do hemisfério sul do planeta. Essas festas juninas têm origem pagã e elas nasceram no hemisfério norte como marco da chegada do calor, momento ideal para o início das colheitas. Eram festas para homenagear os deuses da natureza e da fertilidade, que pediam fartura nas safras dos cereais que se colhiam à época.

A popularidade dessa festa era tão grande que o ascendente cristianismo daquele tempo terminou por aderir àquelas festanças, dando a conotação religiosa àqueles festejos. Foi assim que, na nossa colonização portuguesa no Brasil, as festas juninas chegaram ao Brasil e assumiram o formato que temos até os dias de hoje.

O fato é que esse é um período que mobiliza nossa alegria por grande parte do país. Aqui no estado de Pernambuco, meu estado de nascença, comemoramos esses festejos com uma mobilização que pega muita gente pelo lado lúdico e da festa, mas que também mobiliza muita gente como o seu próprio ganha pão. São trabalhadoras e trabalhadores que estão dentro da gigantesca estrutura da produção cultural e artística do período, bem como da nossa culinária que marca essa festança.

No agreste pernambucano, os festejos juninos são marcados pelas bandas de pífanos, quadrilhas e repentistas, mobilizando milhares de brincantes, profissionais ou não. A nossa música e dança contagiantes não acontecem sem a comilança que marca o período: é tempo de cuscuz, pamonha, canjica, pé de moleque, milho assado e cozido…e tantas outras delícias feitas para matar a fome de multidões.

Toda essa nossa tradição nos foi repassada pelos mais velhos: nossos pais e avós são os responsáveis por nos inserir nesse meio cultural. Mas as escolas também são parte importante nessa tradição. Lá aprendemos as origens dessa linda festa popular. As comunidades educacionais, como o resto das estruturas da nossa sociedade, param para festejar o período. Enfeitamos nossas escolas, fazemos fogueiras e quadrilhas com todos da comunidade escolar. Vestimos nossas roupas coloridas e vamos para as ruas ocupar e colorir nossas cidades.

Acontece que a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que veio com a aprovação da Reforma do Ensino Médio, veio para tentar homogeneizar os currículos de nossas escolas. Tentará impor um currículo que não respeita nossa diversidade cultural. Acham que educação se presta somente para as crianças e jovens aprenderem matemática e línguas para serem bem pontuados nos testes padronizados nacionais e internacionais. A nova BNCC feita pelo MEC de Bolsonaro, que acabou de ter o seu último ministro da Educação Milton Ribeiro preso pela Polícia Federal, despreza a cultura e nossas manifestações populares, como as festas juninas das quais aqui estamos falando.

A escola que queremos e defendemos deve estar sintonizada com a nossa cultura popular e, por isso, a nova BNCC do ensino médio, proposta e aprovada ainda quando o ministro pastor e preso Milton Ribeiro estava no cargo, deve ser imediatamente revogada quando derrotarmos esse governo nas próximas eleições. As festas juninas deveriam estar nas disciplinas das nossas escolas, em currículos permanentemente em movimento, que valorizem a nossa cultura e as manifestações populares de todo o Brasil. 

Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Elen Carvalho