Pernambuco

ORGULHO

Quadrilhas juninas são espaços de acolhimento e trabalho para a comunidade LGBTIA+

As juninas são espaços que representam cultura, tradição e festa, mas também levantam a bandeira da diversidade

Brasil de Fato | Recife, PE |
Para quem trabalha o ano inteiro em torno do São João, o respeito e a possibilidade de se sentir à vontade nesses espaços é ainda mais importante. - EBC

Que as quadrilhas juninas são uma tradição da festa de São João, todo mundo sabe. Principalmente nas cidades de interior do Nordeste, a festa representa a cultura da região a partir da música e da dança, mas também do figurino e até do teatro que isso envolve. E, cada vez mais, a comunidade LGBTIA+ ocupa esses espaços, não só pela festa, mas por sentirem que é um espaço que aceita cada um da forma que se apresenta.

É o que sente o bailarino e coordenador artístico Stênio Pablo, que se identifica como queer, e faz parte da junina Moleka 100 Vergonha, de Campina Grande, no sertão da Paraíba. “É engraçado que eu entrei bem quietinho assim, como se diz, pela brecha no armário, assim olhando. Mas eu não era tipo no tempo, eu era de boa sabe? Se perguntar, falava, mas também não contava. O pessoal hoje fala que eu sou uma diva, me transformei em uma diva. E isso me ajudou muito a ser quem eu sou hoje. Hoje eu consigo bater no peito e dizer ‘eu sou isso’”, destaca.

E como uma forma de fortalecer ainda mais essa valorização da comunidade LGBTIA+, existe um personagem na quadrilha que é a rainha da diversidade, que coloca uma representação de destaque para alguém que levante a bandeira da diversidade nas festas juninas. Na Moleka 100 Vergonha, quem assume este papel é o coreógrafo e bailarino Harrysson Ribeiro, que se apresenta como a drag queen Sula Star, no papel de Rainha G. 

“Eu danço quadrilha já há bastante tempo e a quadrilha transformou a minha vida de algumas formas. Hoje eu consigo trabalhar através das quadrilhas juninas como maquiador, como cabeleireiro, com bordados, fora a minha profissão que é professor e coreógrafo. Então, assim, eu sou uma pessoa bem realizada, bem feliz”, aponta

Nas juninas, o ritmo é intenso, o ano inteiro ensaiando para se apresentar na festa de São João. É um lugar no qual bailarinos, bailarinas, coreógrafos, coordenadores e toda a equipe passam mais tempo até do que na própria casa. Por isso, o respeito e a possibilidade de se sentirem à vontade nesses espaços é ainda mais importante.

“Somos bem respeitados onde passamos, onde levamos o nome da nossa junina e dentro da nossa junina. Então, eu sinto sim que eu sou bastante valorizado, sabe? E isso é muito mágico”, afirma Harrysson.

Para os quadrilheiros, as juninas são espaços em que a liberdade de ser quem se é não é questionada ou duvidada, permitindo a afirmação e expressão livre da identidade neste espaço e fora dele.

“Eu acho que livre arbítrio realmente é um livre arbítrio, que as pessoas elas chegam ‘ah, eu quero dançar como mulher, vou dançar de mulher’. Teve o caso de pessoas que começaram a dançar como homens e hoje dançam divinamente como mulheres, se tornaram mulheres. Conseguiram se enxergar!”, disse Stênio.
 

Edição: Elen Carvalho