Pernambuco

CHUVAS

Um mês após as chuvas em PE, moradoras voltam para casa mesmo com o risco de deslizamentos

As famílias se sentem esquecidas e, sem esperança, retomam suas vidas nos mesmos lugares já comprometidos pelas chuvas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Edilene mora na Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, uma das áreas mais atingidas na capital pernambucana - Olívia Godoy

"Eu sei que muita gente morreu, né? Mas tem os que estão vivos que estão passando por esta situação, que também é descaso. É um descaso o que a gente está vivendo". Edilene da Silva é uma das 10 mil pessoas que perderam sua casa no final de maio, após os deslizamentos e alagamentos provocados pela falta de infraestrutura para o período chuvoso na zona da mata e na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco.

Edilene mora na Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, uma das áreas mais atingidas na capital pernambucana. Ela teve que deixar sua casa por orientação da Coordenadoria de Defesa Civil do Recife (Codecir) por risco de deslizamento. “É um descaso muito grande com o pobre, e eu não estou falando aqui de política não. Eu estou falando de direito, direito do ser humano. Porque cada ser humano que se preze tem um cantinho para viver e a gente é trabalhador. Se a gente está lutando é pela nossa dignidade, que é direito nosso de ter um lar, ter uma vida; e agora estar assim numa situação dessas”, disse Edilene.

Um mês se passou, e algumas pessoas que moram em áreas de risco começaram a voltar para as suas casas, mesmo sabendo da ameaça de deslizamentos no local. Este é o caso de Crislaine Ramos da Silva, que é mãe solo e está organizando a casa para voltar com a sua filha de 4 anos. “Eu estava na casa da minha irmã, que é barreira também, né? Que a casa da minha irmã foi atingida da barreira. Mas risco por risco, eu prefiro voltar para a minha casa. Não tenho condições de pagar aluguel, aí eu estou ajeitando, comecei a ajeitar hoje para voltar amanhã. Minha casa está atrás da barreira. É uma das mais perigosas, que é a mais alta, mas vou ter que voltar”, afirma a moradora.

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Elisângela Borges da Silva prepara a sua casa para voltar mesmo sabendo do risco, pois não tem outro lugar para onde ir / Olívia Godoy


Elisângela Borges da Silva se encontra na mesma situação, está com o marido e a filha em uma casa cedida por uma vizinha, mas já está se organizando para voltar para a casa após ter perdido tudo no último deslizamento. “Encheu de lama aqui até na beira da cama, melou a casa todinha. Perdi meus móveis, né? E a casa a Codecir condenou, mas não resolveu nada”, afirmou Elisângela.

Segundo dados divulgados pela Gerência de Análise Criminal e Estatística, da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), 55% das vítimas das chuvas no período eram mulheres, como Edilene, Elisângela, Crislaine e tantas outras que vem lutando pela própria vida e pela das suas famílias.

Para a moradora Crislene da Silva, irmã gêmea de Crislaine, que teve parte da sua casa soterrada, mas permanece nela, os moradores e moradoras da Vila dos Milagres continuam precisando de ajuda. "A nossa vida é assim, minha fia, de luta. Muita luta e muito sofrimento. E a gente quer alguém para nos ajudar, para ajudar a gente a sair dessa situação", destaca.

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Em nota, a Prefeitura do Recife informou que mais de 32 mil famílias foram cadastradas no Auxílio Municipal e Estadual (AME), das quais cerca de 10 mil já foram beneficiadas. Ao todo, os recursos chegam a R$75 milhões entre verbas da prefeitura e do governo, e até o momento foram desembolsados cerca de 25,5 milhões de reais. A reportagem também entrou em contato com o Governo de Pernambuco, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta reportagem.

Edição: Elen Carvalho