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Um pequeno gesto para o Recife, um grande passo para o Brasil

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Honraria que seria dada a Michelle Bolsonaro (centro) foi negada pela maioria da Cãmara - Reprodução
Aqui, minha gente, o bolsonarismo não se cria

A última sessão legislativa da Câmara Municipal do Recife foi emblemática. O debate, na verdade, começou dias antes com a previsão da votação de duas medalhas de mérito, denominadas respectivamente José e Olegária Mariano, casal abolicionista que emprestou nomes para as maiores honrarias patrocinadas pela Casa. 

As pessoas que seriam agraciadas com as comandas, porém, nem de perto mereciam tais homenagens: o (ainda) presidente jair bolsonaro (com letras minúsculas mesmo) e sua companheira michelle, esta muito mais conhecida por ter recebido cheques do assessor Fabrício Queiroz do que por qualquer feito de relevância. A medalha ao presidente foi retirada de pauta pelo próprio autor. A outra foi derrotada republicanamente no plenário por 16 votos a 9.

Na praxe do legislativo municipal, medalhas do mérito, assim como títulos de cidadania, costumam ser vistos com leniência pela maior parte de quem exerce mandato hoje em dia. Momentos em que estas homenagens são negadas são raros. Raríssimos. Também por isso tão simbólica esta vitória que deu o caminho das pedras para o que precisa ser nossa atuação nas próximas semanas.

A começar pela mobilização popular. Ao longo dos últimos dias, movimentos sociais, coletivos, militantes partidários, sindicatos e a chamada ‘esquerda desorganizada’ fez sua tarefa. Através das redes sociais, milhares de pessoas cobraram de seus representantes uma ação simbólica que afastasse a possibilidade desta honraria ser concedida. Só o Simpere, que reúne professoras e professores da rede municipal de ensino, coletou mais de 30 mil assinaturas contrárias às medalhas. 

Antes mesmo da reunião começar o clima estava quente. Centenas de pessoas contrárias às proposições chegaram cedo para disputar lugares das galerias e ocuparam rapidamente um lado inteiro do plenário, enquanto uns 20 ou 30 bolsonaristas dividiram o outro lado com as assessorias legislativas. Do lado de fora, os poucos apoiadores do miliciano usavam as ferramentas que conhecem para tentar criar um fato político: o xingamento e a violência. Não, não prevaleceram.

À medida em que os discursos se sucediam, já dava pra perceber o que iria acontecer. Discursos eloquentes de mulheres de esquerdas se sucediam, intercalando-se com falas em que se defendia a medalha “para qualquer mulher” ou “por cavalheirismo”. 

Foi uma sessão em que eu falei pouco ao microfone. Passei boa parte do tempo mediando conflitos, buscando virar possíveis votos e fazendo contas pra garantir a vitória que simboliza o que precisamos para o Brasil. Entendendo que não há disputa possível dentro de um ambiente democrático enquanto a milícia estiver no poder, a maior parte da diversa bancada da base do governo do PSB votou junto com a oposição à esquerda. A união tática fundamental para dizer para Recife e para o Brasil aquilo que todo mundo já sabia: aqui, minha gente, o bolsonarismo não se cria.

Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga