Na próxima quarta-feira, dia 20 de julho, tem início o período de duas semanas em que os partidos políticos e federações partidárias devem realizar suas convenções para definir quem serão seus candidatos proporcionais (deputados) e majoritários (senadores, governadores e presidente) – ou definir quem apoiarão oficialmente. E, até agora, as chapas de Miguel Coelho (UB) e Raquel Lyra (PSDB), pré-candidatos ao Governo de Pernambuco, ainda não definiram seus candidatos ao Senado.
No caso de Miguel Coelho, do União Brasil, ele ao menos definiu sua vice: será a deputada estadual Alessandra Vieira, também do UB. Até poucos meses atrás, ela era filiada ao PSDB, partido pelo qual foi eleita para este que é o seu primeiro mandato. Natural de Santa Cruz do Capibaribe, Vieira casou-se com um político local, que foi prefeito de 2013 a 2020. Ela, além de primeira-dama, foi também secretária da Mulher no município. Seu irmão é empresário do ramo têxtil e proprietário da marca Rota do Mar.
Resultante da fusão entre DEM e PSL no início deste ano, o União Brasil é o 4º partido com mais deputados federais e, portanto, um dos partidos que mais deve receber recursos do Fundo Eleitoral este ano. Ainda assim, o ex-prefeito de Petrolina só conseguiu garantir o apoio do partido Podemos, do deputado federal Ricardo Teobaldo – cuja prioridade é se reeleger.
Leia: Quem larga na frente para 2022? Saiba quais os partidos mais fortes em Pernambuco
Em Pernambuco, direita ressurge com Miguel Coelho em novo “superpartido”
A ex-prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB) vive situação parecida com a de Miguel. No caso da chapa dela, sequer o vice foi confirmado ainda. Ao que tudo indica será mesmo a deputada estadual Priscila Krause (ex-DEM, hoje no Cidadania), um nome conhecido da direita na Região Metropolitana. O PSDB, apesar de tradicional, está em baixa desde 2018 e hoje tem apenas 21 deputados na Câmara Federal, sendo apenas a 9ª força na casa, com tempo de TV e orçamento mais modestos. Lyra ao menos garantiu o apoio do Cidadania de Daniel Coelho e Priscila Krause.
A cientista política e professora universitária Priscila Lapa, em entrevista ao Brasil de Fato, considera que as candidaturas de Raquel Lyra e Miguel Coelho disputam um mesmo espaço, o que contribuiu para que, separados, perdessem competitividade. “Eles dividem o mesmo perfil de eleitor e não conseguem demonstrar qual é a diferença entre eles. Nenhum dos dois conseguiu ser protagonista a ponto de inviabilizar a candidatura do outro”, diz ela.
Lapa vê pontos positivos nos nomes. “Um aspecto interessante é a experiência de ambos como gestores exitosos, com votações expressivas na reeleição. E apesar de virem de grupos políticos tradicionais, são figuras jovens. Mas são palanques enfraquecidos”, completa. Para ela, a entrada de Marília Arraes (SD) contribui para o esvaziamento das candidaturas de Lyra e Coelho. “Algumas lideranças que não são associadas ao bolsonarismo e nem ao lulismo acabaram indo para o palanque de Marília e levando seus aliados locais”, pontua.
Sobre o cenário geral das candidaturas de direita, ela considera que, “por estarem divididas, podem não conseguir se viabilizar para chegar ao 2º turno, especialmente se o nome de Bolsonaro continuar tão ‘reduzido’ em comparação a Lula".
E senador?
Na chapa de Miguel Coelho (UB), o nome do ex-deputado federal Mendonça Filho (UB) foi cogitado para ser candidato ao Senado. Mas após quatro anos sem mandato, parece pouco provável que ele corra riscos, abrindo mão de uma disputa relativamente tranquila para deputado federal. Outro nome cotado é o de Carlos Andrade Lima (UB), advogado milionário que foi candidato do PSL a prefeito do Recife. Ele é uma pessoa de confiança de Luciano Bivar (UB), deputado federal e pré-candidato a presidente da República.
Na chapa da tucana, cogita-se o nome do ex-senador Armando Monteiro Neto (ex-PTB, hoje no PSDB) para o Senado. Mas o caso dele é similar ao de Mendonça: derrotado em 2018, está há quatro anos sem mandato e a prioridade é garantir seu retorno a Brasília com o mínimo possível de riscos, numa candidatura a deputado federal.
Leia também: Frente Popular define Teresa Leitão para o Senado
André de Paula confirma chapa com Marília Arraes, que defende “experiência” em voto para Senado
Há uma possibilidade real de que Miguel e Raquel lancem para senador nomes sem competitividade, apenas para “tapar buraco” na chapa. “Veja como é difícil formar um palanque nesse cenário de uma oposição tão dividida”, comenta Priscila Lapa. Sobre Mendonça Filho (UB) e Armando Monteiro Neto (PSDB), ela lembra que ambos “são figuras que há muitos anos falam sobre a necessidade de unir a oposição. Mas foram engolidos por essa geração que está reivindicando a vez”.
É importante destacar que a candidatura ao Senado é a segunda vaga mais cobiçada na formação das chapas, tendo menos valor apenas que a candidatura a governador. O fato de duas candidaturas que possuem 10% ou mais de intenções de votos ainda não terem conseguido nomes para o Senado, mostra que os próprios deputados que integram as chapas não depositam tanta confiança nas mesmas.
Bolsonarismo está resolvido
Já a chapa de Anderson Ferreira (PL) está mais tranquila. Só resta definir o/a postulante a vice, vaga um pouco menos prestigiada e que normalmente é deixada para última hora, na tentativa de acomodar aliados. Ferreira tem a força econômica e publicitária do partido que hoje detém a maior bancada federal do país. Para completar terá no seu palanque o atual presidente da República – que, ainda que tenha elevada rejeição em Pernambuco, conta também com um grupo de apoiadores comprometidos com o ideário bolsonarista. Ainda assim só conseguiu o apoio do PSC.
A aposta da chapa é no abraço total com Bolsonaro para garantir a ida de Anderson Ferreira ao segundo turno e a eleição de Gilson Machado (PSC) para Senador. Músico profissional, da banda Brucelose, Gilson foi ministro do Turismo de Bolsonaro e vez ou outra dava uma palhinha tocando sanfona nas “lives” do presidente. Diferente da disputa de governador, em que há um 2º turno onde a rejeição tem grande peso, na disputa para o Senado não há dois turnos. Quem tiver mais votos na 1ª rodada, leva a vaga. Gilson espera levar vantagem na união dos bolsonaristas.
E a cientista política vê mais possibilidades para Gilson Machado (PSC) do que para Anderson Ferreira (PL). “Gilson acaba se tornando um candidato claramente bolsonarista e sem as implicações do que acontece na disputa para governador”, diz ela. Lapa considera real a possibilidade de, este ano, o eleitor vincular o voto para Senador ao voto para presidente, diferente dos últimos anos em que o senador é “arrastado” pelo voto para governador. “Pelo destaque que ganhou o Senado a partir da CPI, talvez a eleição deste ano seja mais influenciada pela lógica nacional do que pela local”, opina ela.
Sobre a disputa para o Palácio do Campo das Princesas, Lapa lembra que cidades importantes do estado, inclusive o Recife, conferiram votações expressivas para Jair Bolsonaro (PL). “Esse eleitor conservador existe e talvez esteja mais entusiasmado que noutras épocas. Ele não pode ser subestimado”, diz a cientista política. Mas ela não considera esse perfil majoritário. “As pesquisas e mesmo as eleições recentes mostram um predomínio de um eleitor progressista e de esquerda”, avalia.
Sendo assim, a estratégia de associação ao bolsonarismo pode não ter o efeito esperado. “Investir apenas nessa pauta de costumes, desse caráter conservador, algo que é característico do Anderson (PL) e da família Ferreira, até dá certo nas disputas proporcionais, mas acho insuficiente para vencer uma eleição majoritária”, diz ela. “É preciso demonstrar muito mais força do que simplesmente colar o discurso ao de Bolsonaro”, afirma Lapa.
Ela menciona o momento econômico negativo do país e também de Pernambuco, destacando que as prioridades da população são outras, que não as chamadas “pautas morais”. “A pauta econômica e do combate à pobreza vem com força. E nessa pauta Lula se dá melhor. Não há comparação entre o que Lula entregou para a região e o que Bolsonaro entregou”, diz ela.
A cientista política aponta que faltou a Anderson Ferreira (PL) fazer parte importante do trabalho de casa. “Se além da conexão com o bolsonarismo ele tivesse montado um palanque maior, com apoio de prefeitos e vereadores no interior do estado, a candidatura dele seria mais competitiva”, avalia Lapa. “Mas ele não conseguiu e agora já não há mais tempo”, conclui, ponderando ainda que parte da culpa é do conjunto da oposição, que entrou “esfacelada” para a disputa. “Boa parte das lideranças que poderiam estar com Anderson, já estão com Raquel ou Miguel”, completa.
Edição: Elen Carvalho