Começou na última sexta-feira (15) a trigésima edição do Festival de Inverno de Garanhuns. Com mais de 15 dias de festa, o FIG conta com a presença de 800 atrações em 25 polos. Esta será a retomada do evento, que teve sua última edição em 2019.
Carla Montanha é poetisa e foi selecionada pela primeira vez para fazer parte da programação oficial. Como garanhuense, ela aponta que é muito especial fazer parte do festival que ela sempre participou como espectadora.
“É uma fala de todos os artistas garanhuenses, porque quem nunca teve oportunidade de ir a um show, por condição financeira, mesmo, aí chega lá e está seu artista, né? Aquela pessoa que você admira, se espelhou na sua carreira, e tem esse contato que é possibilitado pelo festival de inverno. Isso é muito importante. Isso marca a vida da gente como fazedor de cultura que a gente é hoje”, afirma.
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Apesar da alegria da volta da festividade, os artistas locais denunciam a baixa quantidade de atrações de Garanhuns na programação do evento. O coletivo de artistas, produtores e fazedores de cultura da cidade contabilizou que, das 800 atrações divulgadas, apenas 40 seriam da região, o equivalente a 5% do total.
A partir disso, os artistas fizeram uma carta à prefeitura do município e à secretaria do estado pautando questões como a baixa representação dos artistas locais e também da cultura popular, como o reisado e as comunidades quilombolas e também questionam os critérios para seleção.
O violonista e poeta Adalberto é um dos artistas que faz parte do movimento, mas não foi selecionado para a programação oficial. Ele é garanhuense e é referência na cena cultural da cidade.
“Dessas 40 propostas, nós temos algumas poucas em literatura, 2 em dança e o resto é em música. A gente não tem em cultura popular, a gente não tem em audiovisual, a gente não tem em fotografia, a gente não tem em artes plásticas, em artesanato. A gente não tem! E tem propostas classificadas em todas as linguagens, mas a gente não tem representação nelas. Ao menos a gente não conseguiu identificar”, aponta o cantador.
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Diante disso, os cerca de 60 artistas do coletivo tornaram sua indignação pública nas redes sociais e em um documento, disponível na plataforma Avaaz, sob o nome “Carta Aberta sobre a necessária presença de artistas de Garanhuns no FIG 2022”. Entre as propostas, eles pedem que 20% da programação nas próximas edições seja de artistas do município em todas as linguagens.
“É histórica a invisibilização dos artistas daqui de Garanhuns no Festival de Inverno, qualquer pessoa que pegasse as 29 programações com a 30ª de agora vai ver como se dá a participação dos artistas aqui da cidade. É um Festival de Inverno de Garanhuns, não é um Festival de Inverno em Garanhuns. Se é, muda o nome; se for esse o caso”, aponta Adalberto.
O coletivo se reuniu no início da semana com a prefeitura da cidade e a secretaria de cultura do estado, que se dispuseram a ouvir as demandas dos artistas, que aguardam resposta.
Carla Montanha destaca o papel da mobilização dos artistas e do coletivo. “É muito mais sobre favorecer e mudar a situação que bater de frente ou pensar nisso como um ato de enfrentamento; eu acredito que não é por essa linha que a gente está traçando. E sim por legitimar, por escutar, por viabilizar e tirar essa invisibilidade desses artistas que são grandiosos”, destaca a poetisa.
Em nota, a Prefeitura de Garanhuns se posicionou sobre os depoimentos dos artistas. Confira a nota na íntegra:
“A Secretaria Municipal de Cultura vem esclarecer os questionamentos feitos através de carta pública emitida por um grupo de artistas garanhuenses, em relação à composição da grade de programação do 30º Festival de Garanhuns (FIG). Antes de tudo, é importante destacar que a Prefeitura de Garanhuns abriu, em maio de 2022, um edital de convocatória para artistas de Garanhuns e Região, onde mais de 176 propostas foram habilitadas e analisadas sob a perspectiva do mérito cultural e viabilidade da proposta. O intuito do edital foi justamente servir como ferramenta democrática e garantir a participação dos artistas do município na grade oficial do evento.
Em levantamento comparativo com edições anteriores do FIG, realizadas nos anos de 2017, 2018 e 2019, é possível constatar a ampliação no número de artistas que compõem a grade oficial do evento. Nos anos anteriores, uma média de 30 artistas estavam distribuídos nos polos do FIG; quando em 2022, no primeiro FIG com a coordenação e apoio da gestão do prefeito Sivaldo Albino, foi possível chegar a mais de 80 artistas participando de atividades culturais nos 25 polos previstos.
Dentro da convocatória, no segmento de música e patrimônio cultural estarão presentes nomes como Gonzaga de Garanhuns, Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco; Mestre João Tibúrcio, Orquestra Sanfônica Mestre Dominguinhos, Nino Alves, Nando Azevedo, Forró Pesado, Mourinha do Forró, Andrea Amorim, Amor Eterno, Kiara Ribeiro. Além de apresentações de teatro, artes visuais, exposições fotográficas, espetáculos de dança, oficinas e workshops que também estarão contemplados nesta edição.
Neste contexto, também é importante destacar que foi aberta convocatória exclusiva para os artistas que vão integrar a programação do Festival Gospel de Garanhuns, atendendo aos mesmos critérios de seleção utilizados para os artistas dos demais polos. Desta forma, em complemento às propostas habilitadas em todos os polos, o FIG também possui uma cota de artistas convidados, para que possam complementar a grade de programação.
O empenho em fazer desta edição a maior, melhor e mais intensa do FIG também fica evidente quando se leva em consideração os investimentos realizados pelo Governo Municipal e Estadual, que atuam alinhados na contratação de artistas, ampliação do número de polos e logística para garantir a realização do evento. Desta forma, a Prefeitura investiu 3,5 milhões de reais para realização do festival, além de outros 400 mil no Festival Gospel, que busca fomentar o turismo religioso na cidade.
Estes investimentos representam um compromisso assumido em ampliar o número de dias do FIG e, assim, oportunizar a contratação de mais artistas e também movimentar outros segmentos como o comércio varejista, bares, restaurantes, lanchonetes, pousadas e hotéis da cidade. Além disso, esta edição do festival inova ao levar atividades culturais aos distritos de Iratama, Miracica e São Pedro, além de promover o resgate do polo localizado na Comunidade Castainho.
Por fim, a Secretaria de Cultura esclarece ainda que em nenhum momento se negou a manter o diálogo com o grupo de artistas em questão, deixando inclusive o canal de comunicação aberto, para uma reunião, tão logo seja divulgada a grade completa de programação do FIG. Assim, a pasta reafirma o seu compromisso em fazer uma gestão democrática e participativa, ao lado da classe artística de Garanhuns, sempre priorizando o diálogo aberto e transparente.”
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Edição: Vanessa Gonzaga