Pernambuco

LIBERDADE RELIGIOSA

Podcast "Povos de Terreiro" traz babalorixás e ialorixás para falar da identidade religiosa

A iniciativa do Centro Cultural Bom Jardim junto com o Governo do Ceará dá destaque às religiões de matriz africana

Brasil de Fato | Recife (PE) |
As comunidades de terreiro cumprem um importante papel como detentoras do patrimônio civilizatório dos descendentes de africanos no Brasil - Amanda Oliveira/GOVBA

Quando os conhecimentos ancestrais negros atravessaram o Oceano Atlântico, bordados nas peles dos povos escravizados, a fé se reinventou como possibilidade de vida ante o processo da colonização branca. Nos terreiros de umbanda, jurema e candomblé;  Exú abre caminhos para que toda casa seja encruzilhada de saberes coletivos através dos babalorixás e ialorixás.

As comunidades de terreiro cumprem um importante papel como detentoras do patrimônio civilizatório dos descendentes de africanos no Brasil, também como lugares de sujeitos portadores de direitos e de importância social com toda sua produção histórica, material e simbólica. Para introduzir essa discussão nas mídias, o Centro Cultural Bom Jardim, instituição voltada para a promoção da arte e expressões culturais do Governo do Ceará, criou o podcast “Povos de Terreiro” através da iniciativa “Conversas de Terreiro”. 

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O Centro Cultura Bom Jardim

“Essa ideia de ter uma Conversa de Terreiro é para tentar compreender e fomentar a cultura de terreiro dentro da periferia do grande Bom Jardim. A gente tem um mapeamento, um entendimento, que tem mais de 500 terreiros dentro do grande Bom Jardim. Tanto de candomblé, de umbanda, e tantos outros de matrizes africanas também, mas essa ideia de conversa de terreiro foi uma iniciativa de tentar trazer para dentro do centro cultural essas culturas que pulsam dentro das periferias”, destaca um dos fundadores do projeto, Eduardo Marques.

O co-fundador destaca a relação das periferias da capital cearense com as religiões de matriz africana. “As periferias de Fortaleza têm muitos terreiros de umbanda. Qualquer periferia de qualquer outro estado tem muito terreiro de umbanda que a pessoa se conecta ali com o divino, né? Então essa conversa de terreiro foi mais para isso, pra o Centro Cultural tentar se aproximar do povo de terreiro pra pensar um pouco de memória, como é que se deu a luta de terreiro dentro do grande Bom Jardim; como é que essas pessoas se organizam em seus momentos religiosos; como é que essas pessoas podem estar incluídas dentro de editais culturais; como é que a gente pode trabalhar com as mulheres de terreiro, com os homens; como a gente pode trabalhar a natureza”, conclui.

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Ialorixás e babalorixás no Podcast

No primeiro episódio já disponível, Pai Neto, um dos precursores dos povos de terreiro no território e que está à frente do Centro Espírita Umbanda São Miguel desde 1982 conversa com Janaína Silva, outra referência no Bom Jardim, mãe de santo do Palácio das Águas desde 2007.

“Eu espero que esse podcast seja um mecanismo, uma ferramenta, que possa se expandir e fortalecer, principalmente para as pessoas que estão adentrando na religião agora. Que isso sirva de informe, que sirva de foco, que isso sirva, até mesmo, para fortalecer o nosso território daqui de onde a gente está falando no grande Bom Jardim. Porque está falando na história das pessoas, está falando um pouco da identidade religiosa desse lugar, desse território”, destaca a ialorixá Janaína Silva.

O projeto, que iniciou nas conversas de terreiro, também está na preparação de um documentário sobre os templos religiosos no Ceará, que pretende ser lançado em dezembro. “Trazendo mais esse produto que vai além de produto, é uma missão de várias pessoas que estão aqui abertas tentando legitimar o seu espaço, sua cultura, sua representatividade e mostrar que, para além da espiritualidade, os povos de terreiro também é cultura, tem muito a nos ensinar”, destaca Isabel Mayara, do Centro Cultural Bom Jardim.

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Saiba mais

O podcast conta com 7 episódios que serão disponibilizados para acesso até dezembro no canal do YouTube do Centro Cultural Bom Jardim e nas plataformas streaming de áudio. Mas, em respeito ao Decreto nº 34.831, de 30 de junho de 2022, as notícias e as redes sociais da instituição estão inativas durante o período eleitoral, inclusive o acesso ao podcast, conforme informações do site.

Edição: Vanessa Gonzaga