Se engana quem pensa que na Caatinga falta vida e diversidade, observando apenas as terras secas e um longo período de estiagem. A fauna diversa e singular presente no bioma é composta por aproximadamente 1.300 espécies de animais, entre os quais mais de 300 são exclusivos da Caatinga. Esses dados são do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Lista Vermelha da Caatinga
As peculiaridades desse bioma fizeram com que os animais ali presentes apresentassem adaptações necessárias à sua sobrevivência ao longo da história da evolução da Caatinga. Por exemplo, muitos deles apresentam o hábito de se esconder do sol durante o dia, outros de fazer migrações no período mais intenso de estiagem. Outros possuem uma couraça mais resistente à perda de água, como é o caso do tatu-canastra. E, segundo uma pesquisa realizada pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Ceará, em parceria com instituições da sociedade civil, são eles que estão em extinção. A Lista Vermelha de Fauna Ameaçada do Ceará apresenta 128 espécies de mamíferos que precisam de cuidado.
“No Brasil, mundo afora, é utilizado o método internacional criado pela IUCE que estabelece parâmetros e critérios que você possa avaliar e analisar o estado de conservação desses animais. Então, é possível analisar o tamanho populacional, quantos desses indivíduos nós temos na natureza. Nós conseguimos chegar a esse número a partir das publicações científicas, pesquisas acadêmicas, dados morfológicos, genéticos, geográficos, os tipos de ameaça que é um dos principais pontos que recaem sobre a fauna ameaçada no Estado... Então, nós analisamos esses dados, o que temos de população, o que nós temos de distribuição e comparamos com os critérios que foram estabelecidos”, explica o biólogo Thiago Guerra.
Das mais de 100 espécies listadas, a anta também está em extinção e 28 espécies sofrem a ameaça grave. Entre elas, estão a onça-pintada, o tamanduá-bandeira, o queixada e populações nativas de bicho preguiça. “Extinção é uma coisa para sempre. Significa que aquela espécie vai desaparecer, ela não vai ter mais possibilidade de voltar ao habitat natural. Então, quando a gente diz que uma espécie está criticamente ameaçada de extinção, de acordo com as avaliações, quer dizer que ela pode desaparecer para sempre da natureza. E não tem como… não é reversível. Você não vai ali e compra uma onça, compra uma anta. Não tem isso disponível. Então quando a gente fala que o animal está em perigo de extinção, está criticamente ameaçado; significa que, se não for feita nenhuma medida protetiva, ele pode desaparecer na natureza”, alerta o biólogo.
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Uma saída é a refaunação
De acordo com Thiago Guerra, as ações humanas têm acelerado o processo de extinção dos animais, que ocorre naturalmente. As queimadas, o desmatamento, a caça indevida e a poluição são alguns fatores que afetam a vida dos animais. Para reduzir os impactos na biodiversidade, uma das ações protetivas que deve ser realizada é a chamada refaunação.
“Então, quando nós temos uma espécie-foco que pode estar sendo ameaçada de extinção, significa que toda uma área, toda uma região também está sendo influenciada pelo avanço das ameaças. E a refaunação ela parte de um princípio bem interessante que é identificar uma espécie que tenha um importante papel ecológico dentro do ambiente, então identificamos essa espécie e tentamos reintroduzir a um ambiente que ela já ocorria antes, mas não está mais e vemos a forma como isso vai afetar a ecologia, a fisiologia, desse ambiente”, explica Thiago.
Uma das espécies que ajuda na refaunação é o pequeno roedor “cutia”, presente no Ceará, e que trabalha como um distribuidor de sementes. Com a alimentação recheada de sementes, a “cutia” vai distribuindo-as por onde passa através das suas fezes. Dessa forma, a introdução de um grupo de cutias poderia recuperar habitats naturais auxiliando no retorno de outras espécies como primatas, aves e pequenos mamíferos.
Além da refaunação, um projeto de reprodução in vitro e clonagem de espécies ameaçadas também está em avaliação pelos cientistas do Ceará. Mas, até lá, os cientistas orientam que políticas públicas devem ser pensadas para proteger os habitats e a diversidade presente na caatinga.
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Edição: Elen Carvalho