O mini documentário ‘Guerreiras quilombolas do Castainho: Nossa ancestralidade nos guia’ estreou como parte da programação do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no Agreste de Pernambuco. A produção, exibida gratuitamente no cinema do SESC, seguida de debate, faz um retrato da comunidade quilombola do Castainho - a primeira a ser reconhecida em Pernambuco - a partir do olhar do coletivo de mulheres organizado no território. O filme foi realizado com incentivo da Lei Aldir Blanc e deverá ser exibido em outras sessões, inclusive dentro da própria comunidade.
O Grupo Guerreiras Quilombolas do Castainho foi formado em 2015, trabalhando a princípio a reafirmação da identidade negra e a geração de renda pela comercialização de itens relacionados à cultura da comunidade. Inicialmente, a venda era da mandioca e de seus produtos beneficiados, já que a plantação do tubérculo é a principal atividade econômica de lá.
Mas o grupo expandiu e hoje é composto por cerca de 50 mulheres que se auto-organizam politicamente, participam de atos, fazem artesanato, fomentam a cultura, desenvolvem formações e reivindicam melhorias para Castainho. O coletivo mobiliza as quilombolas em reuniões mensais.
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“Ocupar o FIG com essa história e a versão das mulheres é extremamente importante”, classifica Ângela Pereira, uma das pessoas que compõem a equipe de Direção Geral do filme. A inserção é especialmente relevante quando se avalia o quadro geral do município de Garanhuns, onde Castainho fica situada.
“[É] Uma cidade que é conhecida como uma ‘Suíça pernambucana’ e acaba reproduzindo demais o racismo, que tende a dizer que as pessoas negras na verdade estão nas comunidades quilombolas - sem reconhecer também que ela tem 60% de população negra -, às vezes usando só esse espaço como algo pontual da cultura sem dar condições dignas de existência”, levanta, aludindo ao coco, ritmo do qual a comunidade é referência.
“As mulheres relatam como são vistas na cidade como ‘os negros do Castainho’, até hoje é assim. Antes, saiam com massa de tapioca para vender e o pessoal ficava apontando e rindo. Embora tenham se passado vários anos de reconhecimento da comunidade, da titulação, ela ainda é muito negligenciada. É sempre preciso estar se mobilizando para conquistar seus direitos”, acrescenta.
O grupo Guerreiras Quilombolas nasceu no contexto do desenvolvimento de uma Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase em Saúde da População do Campo pela Universidade de Pernambuco (UPE). Ângela, inclusive, participou dessa formação e morou dois anos em Castainho. Sete anos atrás, ela e outros profissionais buscaram estimular a construção do coletivo feminino, relembra.
“A gente sabe que as mulheres vivem em situação de vulnerabilidade e invisibilidade - pela violência, pelo machismo -, então a ideia era fazer com que elas primeiro fortalecesse a identidade de mulheres quilombolas e, a partir disso, elas tentassem juntas criar mecanismos para enfrentar esses processos”, contou.
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“Elas só precisavam de um pontapé e um estímulo maior porque já tinham experiência de organização. Algumas já faziam parte da Comissão Pastoral da Terra, do Movimento de Trabalhadores Sem Teto, e tinham a própria experiência na associação quilombola”, diz, reforçando o protagonismo das quilombolas.
A ideia do documentário surgiu, então, como mais uma forma de visibilizar essas mulheres e suas narrativas. “Historicamente, elas têm papel importante nas comunidades, mas a voz que ressoa acaba sendo a dos homens - inlcusive na ocupação dos espaços como associações quilombolas. Elas estão sempre lá, participando, na lida diária, na produção de agricultura, na comercialização também, mas acaba que não têm muita visibilidade”, conclui.
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Edição: Vanessa Gonzaga