Na Comunidade Quilombola Queimada da Onça, em São Lourenço do Piauí, no Semiárido piauiense, uma família descobriu como ter uma produção agroecológica e ao mesmo tempo preservar a caatinga. Há 10 anos, apoiada pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Cáritas Diocesana da Diocese de São Raimundo Nonato, a família Bastos decidiu implantar o que eles chamam de agrocaatinga.
Esse sistema é uma forma de uso e manejo de recursos naturais que utiliza espécies perenes em associação com cultivos agrícolas e animais domesticados no mesmo espaço. O Sistema Agroflorestal (SAF), nome original do projeto, quando aplicado ao Semiárido, é uma estratégia de convivência com o bioma Caatinga e uma forma, também, de produção agrícola que cria possibilidades de produção de alimentos para o consumo humano e dos animais.
Para Valmiram Cardoso, técnico da Cáritas, “o sistema gera renda, gera ocupação para a família, por conta do trabalho que está sendo desenvolvido, e o que é mais importante é porque é um sistema que tem conservado recursos ambientais, recursos naturais e tem melhorado, inclusive, a qualidade do solo por conta das práticas que são desenvolvidas no agro ecossistema”.
Ele reforça, ainda, que isso tem feito com que a família tenha criado naquele território um microclima com atração de animais silvestres, com o desenvolvimento de plantas que já estavam, praticamente, desaparecendo do território e que começam a reaparecer em função das condições que foram favorecidas e estão, hoje, favoráveis para o agroecossistema.
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No SAF da Fazenda Xique-xique, a família produz diversos alimentos agroecológicos como o feijão, milho, abóbora, banana e mamão, além de hortaliças, que são comercializados em feiras agroecológicas na cidade. Na produção da fazenda existe também a integração de outras práticas como apicultura e a caprinovinocultura.
Para o agricultor Gean Bastos, a apicultura tem sido muito positiva. “Enxergar de volta isso no nosso SAF tem um papel fundamental na questão da manutenção das abelhas, tanto as abelhas nativas como as abelhas melíponas que a gente cria lá. Isso também é parte do processo que ajuda, beneficia, de forma econômica, porque as abelhas produzem o mel e o mel gera renda”, reforça Gean.
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Desde o início da aplicação do sistema, a família conseguiu recuperar a mata que cerca toda a área da sua casa e, com a extensão do mercado, a iniciativa também incentiva a permanência da juventude nas comunidades e nas produções agroecológicas.
Para Gean, dentro do Semiárido ainda tem poucas iniciativas de sistemas agroflorestais e a técnica precisa ser disseminada como forma de conviver com o ecossistema. “Com nossa Caatinga de forma que a gente possa reverter esse processo de desmatamento, um processo de perda da nossa Caatinga, que é tão sensível, mas que a gente pode encontrar uma outra forma de conviver mantendo a nossa mata em pé”, conclui.
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Edição: Vanessa Gonzaga