Na semana passada, novos temporais provocaram enchentes na região metropolitana do Recife. Uma mulher idosa sofreu um acidente de carro em um túnel que estava interditado e morreu afogada. Desde maio deste ano, já foram registradas mais de 100 mortes.
Todos os anos, famílias que moram em zonas de risco vivem com o sentimento de preocupação e em estado de alerta. É o caso de Bárbara Ferreira, moradora do Vasco da Gama, na zona norte do Recife. Ela, que teve a casa deteriorada por conta das chuvas, chegou a receber proposta da Defesa Civil para que se mudasse para um abrigo. No entanto, ela afirma que por conta da distância e da superlotação, ela continua vivendo com sua família, formada por ela e seus quatro filhos.
Assim como Bárbara, outras mulheres têm que encarar o risco de perder a casa toda época de chuva. Enquanto o poder público não oferece uma solução permanente para a situação, grupos se organizam nos bairros. É o caso da Associação Pernambucana das Mães Solteiras. Segundo Marli Marcia, presidenta da associação, as pessoas que vivem nessas condições não têm como reformar as residências, por isso são obrigadas a conviver com o medo. Por isso, ela defende que exista um programa de governo que reforme casas e seja mais sensível às necessidades da população.
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Janicleide Queiroz, moradora da comunidade Vila dos Milagres, no Ibura, viveu de perto o medo de perder o teto e as vida. Ela quase teve sua residência atingida por uma barreira enquanto saía de manhã cedo para comprar pão. “Vim na direção de casa e encontrei meu esposo correndo com minha filha nos braços, que a barreira tinha caído atrás da minha casa”, relembra.
Ela afirma, ainda, que prejuízos são econômicos e psicológicos e que tem sido a solidariedade com ações em sua comunidade que tem lhe dado forças. No Ibura, ela Janecleide encontrou apoio no projeto Mãos Solidárias, que tem uma cozinha popular solidária. Joseleide Lins, voluntária responsável pela cozinha, conta que com o acontecimento das fortes chuvas desse ano, 12 pessoas da comunidade morreram soterradas, daí a necessidade de apoiar as famílias.
“Desde já, a gente começou com uma cozinha produzindo 1200 marmitas por dia. Onde a gente busca poder acalentar um pouco da fome de cada um desses que hoje estão aí, necessitados”, reforça Joseleide. As marmitas são diariamente distribuídas na comunidade de Vila dos Milagres e em outras do Ibura.
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Ações do governo
Um decreto do governo de Pernambuco publicado na última terça-feira (02) comunicou que as famílias afetadas pelas chuvas no estado terão descontos na compra de eletrodomésticos por meio do Programa Reestruturação de Lares em Pernambuco. Outras medidas adotadas foram o Auxílio Pernambuco, benefício de pagamento de R$1.500,00 em parcela única para famílias desabrigadas, desalojadas pela chuva, ou que tenham sofrido prejuízos financeiros em decorrência dos temporais, além de uma pensão de um salário mínimo a familiares de vítimas fatais.
Entramos em contato com a Defesa Civil, com a Casa Militar e com o governo de Pernambuco, mas não tivemos resposta até o fechamento desta reportagem.
Segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), a previsão é que não haja fortes chuvas nas próximas semanas.
Edição: Vanessa Gonzaga