MÉDICOS POPULARES

Vozes Populares | A favor do povo e contra o negacionismo: conheça os médicos populares

Rede de médicos populares busca refutar, em prática cotidiana, a ideia de que toda a classe médica é conservadora

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Em visita fora da agenda oficial, fala negacionista do presidente Jair Bolsonaro foi aplaudida por gestores do Conselho Federal de Medicina - Foto: Reprodução de vídeo
Esse evento com o presidente é vergonhoso

Na última semana de julho, uma visita, fora da agenda oficial, do presidente Jair Bolsonaro ao Conselho Federal de Medicina, causou revolta em várias médicas e médicos brasileiros. Na ocasião, o presidente da República fez um discurso antivacina, contra uso de máscaras e no qual também defendeu a cloroquina. Ele foi aplaudido pelos gestores da instituição.

A Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares lançou nota de repúdio afirmando que o Conselho Federal de Medicina não representa a classe médica brasileira.  Nesta edição do Vozes Populares, conhecemos a  Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e entendemos mais sobre as implicações da relação de Bolsonaro com a autarquia. 

Conheça a rede

A Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares é uma organização que surgiu em 2015. As médicas e médicos integrantes desta rede defendem um Sistema Único de Saúde público, integral, equânime e de qualidade; lutam por uma sociedade que não seja produtora de doenças e desigualdades sociais e também cobram que o Estado desempenhe com eficácia seu papel de proteção da vida das pessoas.

Aristóteles Cardona Júnior é médico de família e comunidade, professor na Universidade Federal do Vale do São Francisco e membro da Rede. Ele explica qual o contexto de surgimento da organização. “A rede surge no momento da criação do Mais Médicos, quando a gente viu boa parte da corporação, especialmente entidades como o próprio Conselho Federal de Medicina, tendendo a se manifestar contrariamente aos interesses da população. E, naquele momento, a Rede surge como uma tentativa de mostrar que existem médicos e médicas que têm um olhar diferente, que não concordam com uma visão conservadora, reacionária”.

O médico conta sobre como a rede têm se articulado ao longo dos últimos anos. “A gente se organiza em vários estados, procurando não só debater e trazer questões importantes, como também influenciar em espaços onde haja a participação de médicos, fazendo ações de solidariedade. E, hoje, a gente, em comum acordo com vários outros movimentos semelhantes, como a Associação de Médicos e Médicas Pela Democracia, e alguns outros que a gente viu surgindo ao longo desse tempo, mostra que existem médicos e médicas que têm muito compromisso também com pautas e questões próximas dos interesses populares ”.

Visita de Bolsonaro ao Conselho Federal de Medicina

A rede é autora da nota de repúdio contra o apoio do Conselho Federal de Medicina ao discurso negacionista do presidente Bolsonaro. Aristóteles comenta quais as implicações dessa relação do conselho com o discurso de Bolsonaro. “Essa é uma questão que é muito importante. A gente precisa refletir cada vez mais sobre o papel do Conselho Federal de Medicina. De uma maneira geral, esse papel seria o de regular a prática médica em nosso país. Ou seja, garantir uma boa prática profissional, garantir uma prática profissional respaldada em ciência, diante da nossa realidade. Mas o que a gente tem visto durante esse governo, mas especialmente durante essa pandemia, é o inverso". 

Para o médico, é condenável que um espaço preservado para a defesa da ciência seja destinado para uma manifestação negacionista, mesmo depois de tantas mortes durante a pandemia. "Esse evento com o presidente é vergonhoso. Ressalta um momento muito negativo da nossa prática médica no país". 

A ideia de que toda a classe médica é conservadora é algo que a Rede procura também refutar a partir da sua prática cotidiana. “A gente sabe que criou-se muito essa imagem de que o profissional de medicina é alguém conservador, e a gente quer mostrar que não, que existe uma forma de enxergar diferente, existe uma resistência nessa construção na nossa área e que a gente sente que ganha cada vez mais força no momento em que o Brasil luta para que a gente viva em defesa da nossa democracia e que a gente volte a viver em um contexto cada vez maior de democracia”.

Você tem curiosidade de conhecer um pouco mais da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares? Você pode encontrá-los no Instagram: @medicospopulares e no Twitter: @RedeMedPop

Edição: Vanessa Gonzaga