As medidas que estão sendo tomadas por este governo são absolutamente falhas
Com a covid-19, o termo pandemia se tornou mais popular. Mas, antes do coronavírus, o mundo já vivenciou diversas outras pandemias. Inclusive agora, em paralelo a covid-19, o mundo atravessa uma outra pandemia pouco falada, mas que já dura mais de quatro décadas: a de HIV/Aids.
O que define uma pandemia é, principalmente, o quão espalhada geograficamente no globo uma doença está. Hoje, não tem país sem HIV/Aids. Quarenta anos lidando com a doença trouxeram alguns avanços, mas se alguns anos atrás o mundo dava um passo à frente no combate à Aids, os números mais recentes trazem um alerta. O número de infectados, que seguia uma linha de queda mundial, tem recuado menos.
Em julho deste ano, foi publicado o Relatório Global sobre Aids 2022. Ele mostra que o número de novas infecções caiu apenas 3,6% entre 2020 e 2021, o que representa o menor declínio anual desde 2016. Sobre isso, a organização Gestos, que é referência em Comunicação e Aids no Brasil, publicou uma nota de preocupação.
A organização aponta que em um momento em que a ciência avança tanto, a pandemia poderia estar sob controle. Alessandra Nilo, Coordenadora Geral da Gestos, explica alguns motivos para o declínio na queda de infecções. Primeiro, ela cita a pandemia da covid-19, que inverteu as prioridades da comunidade científica, governos e sociedade civil. No entanto, esse não foi o único motivo. Segundo ela, a Aids não tem sido prioridade da agenda governamental do Brasil, algo intensificado no atual governo.
"No governo Bolsonaro, houve um decréscimo absurdo na produção de campanhas informativas sobre HIV e AIDS. Nós tivemos um desalinhamento das políticas de direitos sexuais e reprodutivos das nações que eram baseadas em evidência, passamos a estimular a abstinência sexual para o controle da reprodução e da vida sexual de jovens no Brasil", critica.
Ela aponta, ainda, a impossibilidade de um governo tomar medidas assertivas sem seguir a ciência. "As medidas que estão sendo tomadas por este governo não são medidas efetivas, porque não são baseadas em nada que signifique evidência científica. Portanto, são medidas absolutamente falhas, do ponto de vista da epidemiologia, do ponto de vista da política pública", enfatiza.
Gestos: três décadas lutando pela população soropositiva para o HIV
Com todo esse retrocesso, sociedade civil e articulações do terceiro setor têm sido fundamentais para fazer o enfrentamento da Aids. Para defender os direitos humanos das pessoas soropositivas para o HIV e das populações vulneráveis às Infecções Sexualmente Transmissíveis, a Gestos já atua há quase trinta anos. Consolidada em Pernambuco, a organização hoje tem incidência nacional e internacional.
Alessandra explica que a ONG possui dois grandes campos de atuação, o das políticas públicas e o da prestação de serviços. "Fazemos capacitações, incidência política, promovemos educação e fortalecemos o processo de estímulo à participação social", compartilha. Além disso, "nós temos toda uma área de serviços que nós oferecemos a jovens e adolescentes, com informações qualificadas sobre saúde e sexualidade. Temos uma linha de serviços para as pessoas vivendo com HIV/AIDS e que incluem serviço social, assistência jurídica e acompanhamento psicológico", completa.
A Gestos oferece testagem para ISTs, produz cartilhas educativas, promove debates sobre saúde, forma ativistas e também faz ações de solidariedade.
Mas para além de ações como essas, o relatório lançado escancara a urgência de ações governamentais e multilaterais para combater as inúmeras desigualdades que são determinantes para o controle da doença. Do contrário, a meta de erradicar a pandemia até 2030 se mostra distante. É contra essa possibilidade que a Gestos tem convidado todos e todas a se mobilizarem.
Para conhecer e acompanhar a atuação da ONG, você pode acessar este site ou seguir o perfil da organização no Instagram.
Edição: Vanessa Gonzaga