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"Sonhamos com um Brasil diferente para os trabalhadores", diz presidente da CUT Pernambuco

A central sindical celebrou em todo o país os 39 anos de sua fundação nesse domingo (28)

Brasil de Fato | Recife (PE) |
"A gente sonha em construir um mundo muito diferente", diz o presidente da CUT Pernambuco, Paulo Rocha - Agência JC Mazella

Vistos como ameaça para a manutenção da ditadura militar, os sindicatos foram aparelhados e desmobilizados durante as décadas de repressão, tendo seus dirigentes perseguidos, presos e torturados. No lugar deles, outros líderes foram colocados pelo governo com a intenção de defender os interesses do Estado. Mas a pauta reacende e mostra novamente o poder da moção da classe trabalhadora como agente de transformação política no final dos anos 70, o que impulsionou a emergência de uma nova forma de sindicalismo. 

Entre greves históricas e o fortalecimento do movimento operário, a mudança se materializou também na criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que completou 39 anos nesse domingo (28). Em ocasião do aniversário, o presidente da CUT Pernambuco, Paulo Rocha, falou ao Brasil de Fato sobre o passado, o presente e as lutas que se projetam para o futuro dos trabalhadores. 

Pernambuco na formação da central

A CUT nasce nesse contexto de ascensão do novo sindicalismo, que propunha um contraponto ao modelo corporativista então vigente. Em 1983, sindicatos e associações de diversas categorias se reuniram no 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora em São Bernardo do Campo, São Paulo, onde elegeram como primeiro presidente o metalúrgico Jair Meneguelli. 

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A perspectiva, diz Paulo, era formar uma entidade com todas as confederações e federações sindicais do Brasil. “A gente precisava de um sindicato de base e de massa e que, portanto, se apresentasse publicamente, questionasse o patronato e denunciasse as perdas que estava tendo naquele momento na ditadura. Não era possível com cada sindicato separado, sem discutir um com o outro. Não tinha articulação, precisava juntar tudo”, relata. 

Cerca de 5 mil delegados e delegadas de todo o Brasil estiveram presentes. “Teve gente que saiu do Acre, do Norte, que levou cinco dias para chegar”. Pernambuco também marcou presença. “Trabalhadores do campo, metalúrgicos, trabalhadores da educação, bancários, associações como a das domésticas”, cita.

Para além das pautas trabalhistas…

As categorias se uniram com a compreensão de que era necessário haver uma espaço pautado pelos novos princípios e que aglutinasse todos os trabalhadores “Até havia uma central sindical na época, mas não representava a visão política que o novo sindicalismo tinha”, pontua Paulo.

A diferença fundamental, define o dirigente, é o entendimento de classe. As pautas não se limitam apenas aos objetivos imediatos de melhoria das condições de trabalho, mas abrangem também o acompanhamento da política em todas as instâncias de poder.


CUT Pernambuco celebrou os 39 anos da organização com evento na área central do Recife nesse domingo (28) / CUT Pernambuco/ Danielle Pimentel

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“A gente tem uma visão política do que quer construir para a classe trabalhadora: um Brasil muito diferente do de hoje. Não dá para ter 125 milhões de pessoas na insegurança alimentar - mais da metade da população brasileira. No Brasil que a gente quer, não cabe a destruição do meio ambiente. Tanta gente passando fome, e algumas pessoas em plena pandemia virando bilionárias às custas da morte e fome de muita gente. A gente quer um Brasil em que as pessoas tenham calçadas para ir ao trabalho, e não para morarem. Ruas para irem trabalhar e se divertirem, e não para pedirem esmolas. Em que negros, negras, transexuais, LGBTQIA+ quando sejam parados na blitz, não tenham receio nenhum”, afirma.

…mas que têm a ver com o trabalhador

Por isso que, para lutar por esse projeto de país, a CUT incentiva os militantes a se envolver politicamente, fala Paulo. “A gente percebeu que muitas vezes conquistava as coisas e no parlamento as perdia. Foi um aprendizado muito rápido que tivemos, de que temos que ter uma perspectiva mais ampla. O que está rolando no mundo do trabalho se relaciona com o que está acontecendo no Congresso Nacional.”

O movimento dos trabalhadores foi um dos que pressionaram pelo fim da ditadura militar e pelas diversas conquistas em Direitos Humanos na Constituição de 1988. “A CUT, junto com movimento sindical, de saúde, foi importante para a fundação do SUS [Sistema Único de Saúde]. Junto com os trabalhadores da educação, conseguimos o ensino público”, aponta Paulo. 

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Retrocessos

Em contraponto com as vitórias, exemplos mais recente mostram por outra via como as decisões dos representantes do Legislativo e Executivo impactam a classe dos trabalhadores: a Reforma Trabalhista, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019, e a da Previdência, aprovada em 2017 ainda no governo de Michel Temer (MDB). “Toda essa desgraça é decidida no Congresso. A gente tem que ter atenção nos dois campos. A gente tem que ter atenção ao que está acontecendo na fábrica, na escola, no campo, mas também atenção o que está acontecendo no mundo político”.

Essas reformas foram viabilizadas graças ao golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2016, avalia o sindicalista. Desde então, os movimentos têm contabilizado perdas de direitos que se acumulam ao longo dos últimos seis anos. Para os sindicatos, não foi diferente - sobretudo com os ataques diretos de Bolsonaro. 

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“Ele tentou acabar com o movimento sindical e com a Justiça do Trabalho. Ele se vangloria de ter reduzido o número de ações trabalhistas – mas claro! A reforma trabalhista impediu as pessoas de entrarem na justiça”, critica. 

“As pessoas saem do trabalho, perdem contato com o movimento sindical, deixam de contribuir financeira e politicamente. São milhões de pessoas desempregadas, mais outra quantidade enorme de pessoas que não são mais consideradas desempregadas porque não têm condições de procurar emprego. Isso enfraquece o sindicato.”

O que está por vir 

Em meio a uma campanha eleitoral decisiva para mudar ou não os rumos do país nos próximos anos, muitos desafios se apresentam para o presidente que ocupar o cargo em 2023. A CUT não se abstém de ter um posicionamento quanto ao que esperam das candidaturas:

“Vamos brigar para que no próximo mandato a gente tenha um presidente e um Congresso que tenham afinidade com a pauta da classe trabalhadora. Isso significa fazer um revogaço do que Bolsonaro e Temer fizeram. Rever e acabar com a Emenda Constitucional 95 que congela por 20 anos as despesas com saúde, educação e serviços públicos, aprofundar as relações de emprego, reduzir a jornada de trabalho, rever o escalonamento do IR”, elenca.

E quem seriam esses candidatos? A resposta tem a ver com o ideal do qual Paulo Rocha fala no início da entrevista. “A gente sonha em construir um mundo muito diferente, e esse mundo entra em debate em todas as eleições. Temos candidaturas que querem mudá-lo, e são as de esquerda. A avaliação histórica nossa é que a direita não vai produzir essas mudanças”, declara.

Edição: Vanessa Gonzaga