Em entrevista exclusiva para o Brasil de Fato Pernambuco, o deputado federal Danilo Cabral (PSB), candidato ao Governo do Estado, classificou como “erro” e “equívoco” a posição do seu partido na votação sobre o impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016. Apesar de passados seis anos, seu voto “sim” tem custo eleitoral até hoje. Danilo tem apoio oficial de Lula e do PT, mas a base eleitoral do partido o critica pelo voto.
Danilo foi o primeiro da série de entrevistas do Brasil de Fato com os candidatos ao Governo de Pernambuco. Ele cobrou explicações de sua adversária Marília Arraes (SD) sobre votações no Congresso e pela ausência dela nos debates. O candidato também prometeu um programa de estímulo ao emprego em que o Governo do Estado pagará parte do salário de trabalhadores contratados pela iniciativa privada, elencou obras prioritárias, prometeu abrir 11 CEASA's no interior e cozinhas comunitárias servindo refeições gratuitas em todos os municípios. Sobre reforma agrária, propôs apenas “diálogo”.
A ordem das entrevistas foi definida de acordo com a disponibilidade dos candidatos. Foram convidados os oito candidatos que alcançaram ao menos 1% nas intenções de voto da pesquisa do instituto Ipec do último dia 15 de agosto. São eles: Marília Arraes (SD), Raquel Lyra (PSDB), Anderson Ferreira (PL), Miguel Coelho (UB), Danilo Cabral (PSB), João Arnaldo (PSOL), Jones Manoel (PCB) e Cláudia Ribeiro (PSTU).
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Danilo Cabral é deputado federal em 3º mandato e candidato pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), apoiado pela coligação Frente Popular, que reúne nove partidos. Cabral já foi secretário estadual de Educação, das Cidades e de Planejamento nas gestões de Eduardo Campos e Paulo Câmara; secretário de Administração da prefeitura do Recife, na gestão João Paulo; e vereador do Recife, sempre pelo PSB. Ele é natural de Surubim, no Agreste, e é concursado do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE). Confira algumas falas do candidato sobre os temas abaixo.
Voto no impeachment (assista abaixo)
"O PSB já se posicionou sobre isso, através do nosso presidente Carlos Siqueira. A posição que nós tivemos foi errada. Mas sou filiado ao PSB há 32 anos e sou disciplinado. Já tive embates em que minha posição foi derrotada, mas estou no partido em função de um projeto político, não um projeto pessoal. Tem gente que quando sofre derrotas dentro do partido, já sai para outro partido, achando que só o caminho dela pode prevalecer."
"O PSB cometeu esse equívoco, mas no Congresso Nacional eu fiz oposição ferrenha ao governo Temer, votei contra a reforma trabalhista, a da previdência, a PEC do Teto de Gastos, contra as privatizações, sou presidente das frentes parlamentares em defesa da Chesf e da Assistência Social, sou da comissão da educação, vice na comissão do Fundeb. Essas são minhas posições. Tivemos um equívoco claro lá atrás, foi um erro, mas veja o que fizemos desde lá."
"Neste momento temos uma compreensão de que precisamos construir uma unidade verdadeira. 'Unir os divergentes para enfrentar os antagônicos', como disse o presidente Lula, citando Paulo Freire. Hoje é democracia contra o estado de exceção, é a civilização contra a barbárie. O momento não era de dividir, mas de juntar. Só que Marília optou mais uma vez pelo projeto pessoal. A trajetória dela é essa: quando saiu do PSB e agora quando saiu do PT, foi pelo projeto individual".
Marília Arraes
"Olhe a nossa chapa: Danilo; Luciana Santos, presidenta do PCdoB; Teresa Leitão, educadora e cinco vezes deputada pelo PT. É a chapa que tem a cara de Lula em Pernambuco, que tem a defesa das lutas dos trabalhadores. Agora olhe a chapa de Marília Arraes. Como se posicionaram André de Paula (PDS) e Sebastião Oliveira (Avante), componentes da chapa dela, nas votações da reforma da previdência?"
"Onde estava Marília quando as universidades sofreram cortes no orçamento? Quando as vacinas estavam sendo votadas, com alguns defendendo que setores privados pudessem adquirir as vacinas antes do público, ela se ausentou da votação. Ela está envolvida com orçamento secreto, que o presidente Lula disse ser safadeza. Marília se aliou a Arthur Lira e traiu o PT na eleição da Mesa Diretora da Câmara. Ela precisa esclarecer essas posições, mas está fugindo do debate, um ato de despreparo ou de arrogância."
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Imagem de Lula
"Que bom que muitos candidatos usam a imagem dele. Todo apoio que ele tiver, é bom, pois essa é uma eleição plebiscitária. Mas o inverso não é verdadeiro: alguns apoiam Lula, mas não são apoiados por ele. Aqui em Pernambuco ele pede voto para a minha candidatura. Tem gente que fica usando Lula com uma “fake news”, tentando induzir a população ao erro, como se ela pertencesse ao partido de Lula ou tivesse o apoio dele. Mas mentira tem perna curta."
Baixo percentual nas pesquisas
"O jogo está começando agora. O guia eleitoral acabou de começar. Sou um candidato que nunca disputou eleição majoritária, só proporcionais. A candidatura da Frente Popular sempre largou atrás. Foi assim com Eduardo Campos, com Paulo Câmara, com Geraldo Julio e João Campos. Mas durante a campanha temos a oportunidade de dialogar com o povo. Nós vamos estar no 2º turno e vamos ganhar essa eleição."
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Fome
"Essa é a pauta mais urgente. Nós vamos criar em Pernambuco a maior rede de proteção e segurança alimentar do Nordeste. No programa “Tá na mesa” eu quero fazer chegar a todos os 184 municípios de Pernambuco um dos dois equipamentos. Nos municípios menores são as cozinhas comunitárias: o estado em parceria com os municípios garantirão a produção de no mínimo 200 refeições diárias em cada cozinha, podendo chegar a 600 a depender da situação do município."
"São refeições gratuitas para a população em vulnerabilidade nessas cidades. Nas 15 cidades maiores, com mais de 100 mil habitantes, vamos implantar restaurantes populares, que servirão mil refeições por dia. Somando as duas iniciativas, são cerca de 50 mil refeições servidas diariamente de forma gratuita."
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O custo da cesta básica está subindo muito e nós precisamos garantir que a população adquira alimentos a preços mais baratos. Já temos no Recife a Ceasa, onde quem produz pode vender diretamente a quem consome. Queremos levar isso também para o interior, instalando uma Ceasa em cada uma das 11 unidades administrativas, incorporando a agricultura familiar nessa venda direta ao consumidor, que poderá comprar a preços mais baratos.
Desemprego
"Nos próximos quatro anos meu governo vai fazer um investimento de no mínimo R$15 bilhões só com receitas próprias e captação de empréstimos, já que o estado está numa situação equilibrada do ponto de vista fiscal. Além disso, há recursos federais que o presidente Lula pode enviar. Isso vai atrair novas empresas e gerar novos empregos."
"E qual será o nosso estímulo direto para quem quer empreender? Vamos criar um programa chamado “Emprego Novo”: eu vou dividir a conta de qualquer novo posto de trabalho criado por qualquer setor da economia, em qualquer região do estado. Se você abrir um novo posto de trabalho - não vale substituição -, você vai receber de R$600 a R$1 mil, a depender do tempo mínimo que você pretende manter o trabalhador na empresa. É uma forma de estimular o empreendedor que está com dificuldades."
"Esse programa de estímulo ao emprego, por exemplo, vai custar R$148 milhões, com a possibilidade de gerar 45 mil novos postos de trabalho. Em 2021, para comparar, Pernambuco gerou 90 mil empregos de acordo com o Caged. Então só com esse programa eu vou gerar metade disso."
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"E também quero melhorar o ambiente de negócios. Vamos igualar qualquer carga tributária de qualquer estado do Nordeste. Ninguém na região terá uma política tributária melhor que Pernambuco. Se um estado reduzir alguma alíquota, nós vamos igualar."
Contas públicas
"O governo Paulo Câmara (PSB) está deixando as contas equilibradas. Ele passou um período com muita dificuldade, sem ajuda federal. A Secretaria do Tesouro Nacional avalia o nível de endividamento dos estados e sua capacidade de gasto. Pernambuco está com ranking B, o que nos permite fazer investimentos de até 8% da nossa receita corrente líquida. Como temos R$30 bilhões de receita corrente líquida, 8% dá R$2 bilhões e 400 mil mais ou menos. Então faremos esse duplo movimento: de reequilibrar a carga tributária e investir nas ações estruturantes."
Obras prioritárias
"Há três projetos que são estruturantes para Pernambuco. Um é a duplicação da BR-232, para o desenvolvimento chegar também ao interior, trazendo equilíbrio nas oportunidades. Queremos fazer a duplicação da BR-232 até Serra Talhada, que é um polo médico, de serviços. Essa obra custa R$3 bilhões. Também precisamos recuperar essa BR no trecho do Recife a São Caetano, que está degradado, ao custo de R$300 milhões."
"Outra obra é a Transnordestina, interligando Salgueiro até o Porto de Suape, possibilitando que a produção possa circular também através da ferrovia. O trem que vier trazendo carga, ele também leva carga de volta. Também é importante devolver a autonomia do Porto de Suape, para dinamizar a atividade. Uma terceira obra muito importante é o Arco Metropolitano. Hoje, quem vem de Fortaleza (CE) para chegar em Salvador (BA), o gargalo é aqui no Recife, onde a BR-101 fica travada. Esse arco vai ajudar a desafogar o que é produzido no Nordeste e facilitar o trânsito de pessoas."
Reforma Agrária
"Precisamos avançar na questão da reforma agrária. Precisamos fazer uma melhor distribuição de terras no Brasil e em Pernambuco também. Temos que ter a capacidade de dialogar. Já procurei todos os movimentos sociais ligados à questão do campo: como o Movimento dos Sem Terra (MST), a Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Pernambuco (Fetape)... esses movimentos sabem que podem encontrar no nosso governo um canal de diálogo."
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Relação com o Governo Federal
"Tenho a expectativa positiva de ver o Brasil ser devolvido aos brasileiros, com a eleição do presidente Lula. Isso é importante para voltar a girar o motor da economia, voltar a realizar investimentos públicos e atrair investimentos privados. O privado não tem interesse em investir num país onde o presidente da República sequer reconhece o resultado da eleição."
"Precisamos virar essa página, garantir respeito, estabilidade e confiança para que voltem a investir no país. Em Pernambuco teremos novamente a oportunidade de ter uma relação harmônica com o Governo Federal, porque Bolsonaro foi o presidente que mais perseguiu nosso estado em toda a história da república brasileira."
"Hoje não existe diálogo com o Governo Federal. Quando houve aquelas chuvas, Bolsonaro veio aqui sem dialogar com governo ou com prefeituras, não deu um telefonema, só fez dar um passeio de helicóptero. Prometeu R$1 bilhão, mas não deixou nada e foi embora. Mas com Lula será diferente."
Edição: Vanessa Gonzaga