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Eleições e espiritualidade

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"Quem é de Deus deve colaborar para construir uma sociedade mais justa e não favorecer quem prega ódio e intolerância" - Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República/Divulgação
Quem favorece armas e violência não tem nada a ver com Deus

Há menos de um mês das eleições para presidente da República, governadores dos estados, senadores e deputados, um fator que todos sabem que terá grande peso será a questão religiosa. Infelizmente, a fé e a espiritualidade estão sendo usadas de forma desonesta e não para tornar o mundo melhor e mais justo e amoroso. 

Conforme o evangelho, Jesus denunciou como errados os fariseus e doutores da lei que se achavam de Deus e desprezavam os outros. Grupos religiosos tradicionalistas, padres católicos e pastores evangélicos ou pentecostais que apregoam notícias falsas, provocam medo nas pessoas e inventam perigos que não existem, não têm nada a ver com Jesus e o seu evangelho. 

Há ministros desonestos que afirmam publicamente que se Lula ganhar, vai fechar Igrejas. Ao lado disso, a atual mulher do presidente da República convoca evangélicos para um jejum para pedir a Deus a vitória contra o inimigo como se a campanha eleitoral fosse um combate entre crentes e ateus. 

Ao contrário desse procedimento desonesto, nestes dias, uma carta aberta ao povo brasileiro, assinada por centenas de padres de todo o país pede que não permitamos que o nome de Deus seja usado para interesses partidários e eleitorais. É preciso sempre lembrar que Jesus afirmou: “Não são as pessoas que ficam gritando Senhor, Senhor que entram no reino dos céus e sim as pessoas que fazem a vontade do Pai que está nos céus” (Mt 7, 21). 

De fato, a política não deve depender de padres e pastores. A espiritualidade deve influir na política de modo positivo: ao valorizar o compromisso político com o bem comum e a proteção da vida na natureza e da justiça para todas as pessoas, principalmente as mais vulneráveis. Ama a Deus quem testemunha que Deus é amor e inclusão. O deus que favorece amigos e abandona a outros não é o Deus de Jesus. É um ídolo. 

Na primeira metade do século XX, Simone Weil, espiritual francesa afirmava: “Eu reconheço quem é de Deus não por falar de Deus e sim pelo seu modo de viver e de se relacionar com as outras pessoas”.  

Quem é de Deus deve colaborar para construir uma sociedade mais justa e não favorecer quem prega ódio e intolerância. Quem favorece armas e violência não tem nada a ver com Deus. O evangelho diz que devemos julgar as pessoas e partidos conforme a prática e pelos seus resultados. “Pelos frutos bons, vocês podem discernir que a árvore é boa, assim como pelos maus frutos, verão que uma árvore é má. Pelos frutos, vocês podem discernir se a árvore é boa ou má” (Mt 7, 18).

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga