Neste bicentenário da independência marcado por atos do 28º Grito dos Excluídos, as ruas do centro do Recife foram ocupadas por milhares de pessoas sob o lema “200 anos de independência. Para quem?” no ato organizado por pastorais sociais, movimentos populares do campo e urbanos, organizações sociais, sindicatos, entre diversos outros grupos.
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Com a tônica da denúncia dos retrocessos que afetam o povo brasileiro, Marcus Silvestre, um dos organizadores do grito, relembra que a mobilização faz parte do calendário de lutas do Recife “Nós viemos, há 28 anos, denunciar as desigualdades históricas, porque o tempo vai passando e essas desigualdades muitas vezes vão aumentando, como aconteceu agora com a pandemia, onde os mais ricos continuaram com sua exploração e ‘passando a boiada’”, afirma.
A mística de abertura do Grito dos Excluídos homenageou o padre Reginaldo Veloso, relembrando sua atuação no bairro de Casa Amarela, na construção do Grito e nas Comunidades Eclesiais de Base. Além de religioso, Reginaldo militou contra a ditadura junto com Dom Hélder Câmara, e construiu diversas outras lutas através das pastorais sociais e recebeu recentemente o título de cidadão pernambucano in memoriam.
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A poucos dias das eleições, o ato também foi marcado pela presença de diversas candidaturas de esquerda que estão na disputa pelos cargos ao legislativo estadual e federal. Apesar dessa diversidade de candidaturas proporcionais, o coro de "olê, olê, olê olá Lula, Lula" foi uníssono durante todo o trajeto. Também estiveram presentes no ato os candidatos ao governo de Pernambuco João Arnaldo (PSOL), Jones Manoel (PCB) e Marília Arraes (SD).
Luiz Lourenzon, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo de Pernambuco e da Paraíba (Sindipetro), reafirma a necessidade de unidade das forças populares: “É uma data, além de simbólica, para mostrar as bandeiras de luta que nós temos e trazemos pra rua como forma de expressão, de mostrar nosso descontentamento e a unidade da classe trabalhadora. Estamos na luta, esperamos que dias melhores virão e que derrotaremos esse governo que tem feito retrocessos em toda a sociedade”.
A participação da juventude de diversas organizações foi um dos destaques do grito. Isa Sena, do Levante Popular da Juventude, ressalta o papel das lutas populares para a independência. “Estamos aqui pra mostrar quem é esse povo e o que é essa independência com as mulheres, é o povo preto, é o povo LGBT, é a juventude… Esse Brasil é nosso e a gente vai tomar ele pelas mãos nesse ano tão importante de eleições. A gente está sempre no Sete de Setembro nas ruas pra reafirmar que esse país é nosso e a independência é a gente quem faz” afirma.
Diversos grupos percussivos formado pelas organizações que organizam o ato também agitaram as ruas com palavras de ordem diversas e o encerramento do Grito aconteceu na praça da Independência, mais conhecida como Praça do Diário, onde três grandes rodas de ciranda foram criadas.
Ações de Solidariedade
O Grito dos Excluídos em Petrolina, no sertão pernambucano, aconteceu com um café solidário no bairro João de Deus, na periferia da cidade. O ato simbólico denuncia a situação de fome no município e no país.
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A mobilização foi organizada por várias entidades e movimentos populares que constroem o projeto Mãos Solidárias e atendeu cerca de 80 famílias, que receberam o café da manhã e kits de higiene que foram distribuídos. A prioridade foi para famílias que são chefiadas por mães solo e com pessoas idosas.
A moradora Mauricélia participou do evento e levou seu filho para o café. Ela reforça a importância do projeto: "eu frequento o Mãos Solidárias há muito tempo. Eles me ajudam quando eu preciso, e é importante porque ajudam pessoas necessitadas, que não tem uma condição melhor".
Jucy Carvalho, educadora popular e coordenadora do Mãos Solidárias no município, afirma que basta visitar a periferia para perceber o aumento da fome na cidade. "As pessoas duvidam que existe fome. Há, ainda, pessoas que pensam que o fato de uma família receber um auxílio não passa fome. Ela passa fome, porque esse dinheiro não é suficiente. Nós identificamos inúmeras famílias em Petrolina que, mesmo estando no programa social, mesmo com um salário mínimo ou um benefício de saúde ou uma aposentaria, passam fome, porque o aumento [do preço] dos alimentos é gritante", denuncia.
O evento aconteceu com a parceira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Igreja Anglicana do Nordeste, a Rede de Médicas e Médicos Populares, movimentos da juventude como o Levante Popular da Juventude e a União da Juventude Comunista (UJC), além de organizações de mulheres como a Associação de Mulheres Rendeiras e instituições parceiras como escolas municipais e universidades públicas.
Edição: Vanessa Gonzaga