Pernambuco

eleições 2022

“Há uma ditadura do silêncio imposta às nossas candidaturas”, denuncia Cláudia Ribeiro, do PSTU

Sem tempo de TV, a candidata a governadora de Pernambuco, professora e sindicalista não tem sido convidada para debates

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Cláudia tem 41 anos, é educadora da rede pública municipal e atua no Sindicato dos professores do Recife (Simpere). - Divulgação PSTU

Candidata do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), a educadora Cláudia Ribeiro assume mais uma vez a tarefa de competir sem alianças, desta vez visando o Governo do Estado. Ela reclama do “silenciamento” que sua candidatura e de sua colega Vera Lúcia, que disputa a Presidência da República. “Isso não é democrático. E muitos canais de TV repetem isso, alegando que não temos representação na Câmara. E como teremos, se não temos espaço para apresentar nosso programa político?”, critica.

Cláudia foi a quarta candidata da série de entrevistas que o BdF Pernambuco está realizando com os candidatos ao Governo do Estado. Ribeiro é pedagoga, professora concursada da rede pública municipal do Recife e que por muito tempo atuou no Sindicato dos Trabalhadores da Educação da capital pernambucana, o Simpere. Seu vice é o também educador Mariano Macedo. No vídeo acima está a entrevista na íntegra. Ou leia trechos sobre os temas abordados.

Além dela, já foram entrevistados Danilo Cabral (PSB), João Arnaldo (PSOL) e Jones Manoel (PCB). A ordem das entrevistas foi definida de acordo com a disponibilidade dos candidatos. Foram convidados os oito candidatos que alcançaram ao menos 1% nas intenções de voto da pesquisa do instituto Ipec do último dia 15 de agosto. Até o momento Marília Arraes (SD), Raquel Lyra (PSDB), Anderson Ferreira (PL) e Miguel Coelho (UB) não nos responderam.

Sem espaço na mídia

"É lamentável essa política de isolamento e silenciamento. Essa “festa da democracia” é uma hipocrisia, porque não é democrática. A cláusula de barreira aprovada no Congresso impede que a população tenha acesso a todas as formas de expressão, tira da população o direito de conhecer e decidir em que programa quer votar. Os canais de TV também se utilizam dessa deixa para fazer a mesma coisa. Eles não são impedidos de nos chamar. Afirmam que é porque não temos representação. Ora, se a gente não tem espaço… acaba sendo um ciclo vicioso, uma ditadura do silêncio em relação às nossas candidaturas."

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"O que impulsiona a nossa campanha é o nosso programa, que tem que ser feito junto com a classe trabalhadora, mulheres, jovens, LGBTs, negros… nenhum outro programa ataca a lógica que impõe essa vida de miséria, em que os ricos ficam mais ricos e os pobres ficam mais pobres. Queremos construir junto com aqueles e aquelas que constroem a riqueza do país, decidir com eles sobre essa riqueza, decidir as prioridades."

Cenário nacional

"Bolsonaro acelerou essa ideia e precisa ser derrotado. É um genocida. E com relação a Lula… nós não achamos que é possível atender as necessidades da classe trabalhadora, da juventude pobre e negra, das mulheres e LGBTs, não é possível atender num governo com Alckmin e a burguesia que ele representa. É conhecido como ladrão de merenda. Como governador ele aplicou um massacre na ocupação de Pinheirinho, colocando sua polícia por cima da população que luta por moradia. Como vamos falar em direito à moradia nesse governo?!"

"Qualquer um que esteja lá, seremos oposição. Qualquer um que assuma a Presidência e não rompa com a estrutura que impõe essa vida de miséria para a população. Porque a gente entende que quem deve decidir as prioridades são os trabalhadores, através dos conselhos populares, organizações de base, seja nos locais de trabalho ou de moradia."

Educação


Por muitos anos Cláudia Ribeiro foi dirigente do Simpere / Divulgação/ Simpere

"O Ideb é muito questionável. A educação pública do estado vai muito mal. Apenas 4,4% do orçamento estadual é repassado para a educação. Temos visto muitos estudantes se queixando da merenda. O meu vice é professor de educação física, mas trabalha numa escola que não tem quadra poliesportiva, então tem que dar aula na sala, aula teórica de educação física. As gestões do PSB trabalham com muito marketing, muita propaganda, mas no chão da escola a realidade é oposta. E ainda há 40% dos trabalhadores com contratos temporários, precarizados, sem continuidade."

Reforma Agrária e combate à fome

"Em Pernambuco há 1,8 milhão de pessoas em Pernambuco sem ter o que comer. E não é por falta de alimentos, mas para onde estão escoando isso?! Precisamos urgentemente de uma reforma agrária para que os trabalhadores do campo possam viver e sobreviver do campo, produzindo alimento de verdade, não deixar nas mãos do latifúndio, que persegue e mata trabalhadores."

Moradia

"No bairro de Santo Antônio, centro do Recife, 40% dos imóveis estão fechados para especulação imobiliária. Isso antes das chuvas. Por que esses imóveis não serviram para alojar as pessoas que perderam as casas nas chuvas? Esses imóveis devem ser expropriados, ficar à disposição do Estado para servir de forma imediata a estas pessoas. É inadmissível que essas pessoas não tenham um teto sobre suas cabeças. Se tem dinheiro para reformar quiosques em Boa Viagem, se tem terra para condomínios de luxo, por que não se constrói moradia popular? A lógica precisa mudar."

Emprego

"Precisamos de um plano de obras públicas, para resolver o problema imediato do emprego. A prioridade é expandir a rede de educação, escolas completas, com quadra poliesportiva, escolas politécnicas, formação teórica e técnica, integrais, mas diferente das atuais. Construção de casas, para sanar o déficit de moradias, que hoje está em 350 mil unidades. São milhões de pessoas sem ter onde morar. Atender às necessidades enquanto gera emprego."

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"Outra coisa que podemos fazer é diminuir a jornada de trabalho. Comemoramos os avanços tecnológicos, a rede 5G… hoje não é necessário um trabalhador ter uma jornada de 40 horas semanais. Os avanços tecnológicos devem estar a serviço de melhorar a qualidade de vida das pessoas, não para aumentar o desemprego. É preciso reduzir as jornadas, para as pessoas terem mais tempo para a cultura e lazer, mas mantendo os salários. Assim você amplia as vagas."

Economia

"A política econômica tem que ser transformada. A Lei de Responsabilidade Fiscal só tem servido para limitar o orçamento para as áreas sociais, mas não impede os militares de aumentarem seus salários. Queremos substituí-la pela lei de responsabilidade social, inverter a lógica do imposto. É um conjunto de medidas para apresentarmos uma outra sociedade, voltada para a maioria da população, visando acabar o desemprego, a fome, o déficit de moradia e essa falta de acesso à cultura e lazer para a juventude."

Segurança

"Não é todo o povo pernambucano que se sente inseguro. Quem tem dinheiro tem segurança privada, carros blindados, estrutura para proteger seu patrimônio, diferente da grande maioria da população, que está  à mercê de todo tipo de violência e mazelas. E quando aumenta a miséria, aumenta a violência, porque as vidas se deterioram em todos os sentidos. O Pacto Pela Vida é um fracasso, só serve para reprimir a população pobre e as lutas dos trabalhadores, como fizeram com as trabalhadoras da saúde em frente à Restauração, como fizeram no ato contra o governo Bolsonaro."

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Eleitor médio de Pernambuco é mulher, adulta, de nível educacional básico e metropolitana

"Achamos que essa polícia não serve. Defendemos a desmilitarização da PM e a criação de uma polícia unificada, com foco nas investigações e próxima às comunidades. E que a população possa eleger seus comandantes, com cargos revogáveis caso ele descumpra os acordos coletivos firmados com a comunidade. E que esses trabalhadores da segurança possam se sindicalizar, fazer greve para garantir melhores condições de trabalho."

"Mas também acho que temos o direito à autodefesa. Temos vivido um nível de violência elevado. A juventude, as mulheres, temos sofrido muita violência. Acho importante termos um debate sobre autodefesa, para defendermos nossas vidas, tendo a segurança de que numa situação de iminente ataque, possamos ter o direito à legítima defesa, talvez armada."

Edição: Vanessa Gonzaga