No mês de agosto, as famílias atingidas pela Barragem de Acauã, na Paraíba, realizaram a primeira Colheita Agroecológica nas terras conquistadas pela luta histórica no estado. A atividade aconteceu na área desapropriada para a construção do reassentamento de cerca de 100 famílias das mil que perderam suas casas quando a barragem transbordou, em 2004.
Aline Araújo foi uma das atingidas pela barragem. Segundo ela, naquele momento, as famílias que residiam na localidade ficaram completamente desassistidas.
“Eu fui expulsa da minha terra e o Estado foi muito omisso com todas as famílias. Não houve um plano de evacuação, de sair, ninguém foi informado de nada. Simplesmente a barragem começou a encher e as famílias tiveram que sair porque a água estava chegando e entrando nas casas. Teve família que perdeu móveis que a água entrou na casa e ficou embaixo de chuva, então não houve nenhuma informação. Tudo foi assim, em cima da hora”, relatou Aline.
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O início da construção da barragem, sob responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), remonta aos anos 80. Sua fase final somente ocorreu por volta de 1999, sendo efetivamente concluída em agosto de 2002. Devido a fortes chuvas, após dois anos de construída, a barragem transbordou, inundando completamente seis povoados e 115 imóveis rurais.
“A vida das famílias mudou completamente, porque as famílias trabalhavam com a terra e a partir do momento que saíram de suas localidades elas perderam o acesso à terra. Então nos unimos no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e fomos lutar pelos nossos direitos. Porque perdemos terra, perdemos educação, saúde, posto de saúde, escolas, e travamos essa luta com o movimento para conseguir esses direitos de volta”, complementou Aline.
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Após 18 anos de muita luta as famílias conquistaram a desapropriação de cinco imóveis rurais em 2020, através de uma medida do governo da Paraíba. As áreas, de aproximadamente 330 hectares, foram destinadas à construção da Agrovila Águas de Acauã, na zona rural do município de Itatuba, no Agreste Paraibano, onde fica a barragem.
“Essa Agrovila representa a volta da soberania, autonomia e segurança alimentar para as famílias. Ela é muito importante e representa a devolução do bem mais precioso para o camponês, que é a terra”, conclui Aline. Cerca de 800 famílias ainda aguardam reassentamento.
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Edição: Vanessa Gonzaga