O dinheiro derramado pelo “orçamento secreto” através dos deputados federais, somado às mudanças nas regras eleitorais – entre elas encurtamento do período de campanha para apenas 7 semanas – foram apontadas como favoráveis aos parlamentares que já possuem mandato, dificultando a renovação das casas legislativas. No entanto, em Pernambuco isso não se concretizou. Entre os 25 deputados federais eleitos, apenas 13 foram reeleitos e 12 não tinham mandato na Câmara.
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Confira a lista dos 25 deputados federais eleitos por Pernambuco para a Câmara dos Deputados
Os doze “novatos”, por partido, são: Pedro Campos (PSB), Eriberto Medeiros (PSB), Lucas Ramos (PSB), Guilherme Uchôa Junior (PSB), Clodoaldo Magalhães (PV), Maria Arraes (SD), Iza Arruda (MDB), Waldemar Oliveira (AVA), Clarissa Tércio (PP), Lula da Fonte (PP), Coronel Meira (PL), além do retorno de Mendonça Filho (UB), que perdeu a disputa de 2018 e agora recupera a vaga em Brasília.
O campo progressista, que conta atualmente com 9 federais pernambucanos, terá os mesmos 9 a partir de janeiro, com algumas mudanças de nomes, como a saída de Wolney Queiroz (PDT) e a chegada de Clodoaldo Magalhães (PV), além da troca de nomes do PSB. No campo à direita, o Cidadania, o PSD e o Podemos perderam suas cadeiras, que agora serão ocupadas por PL, União Brasil e PP.
PSB mantém tamanho, mas troca nomes
Para o quadriênio 2023-26 o Partido Socialista Brasileiro (PSB) elegeu cinco federais por Pernambuco, mesmo número de cadeiras que possui atualmente. Se em 2018 o mais votado foi João Campos (PSB), que hoje é prefeito do Recife, desta vez o mais votado do partido (e 3º do estado) foi seu irmão Pedro Campos, de 27 anos, que teve 172,5 mil votos e assumirá seu primeiro cargo político.
Outros “estreantes” em Brasília são atualmente deputados estaduais que conseguiram subir um degrau para a esfera nacional. São eles o atual presidente da Assembleia Legislativa, Eriberto Medeiros (99 mil votos); o petrolinense Lucas Ramos (85,5 mil), representante dos empresários da fruticultura irrigada; e Guilherme Uchôa Junior (84,6 mil), herdeiro político do falecido ex-presidente da Alepe.
O deputado Felipe Carreras teve 76,5 mil votos (em 2018 foram 114 mil) e foi o único do PSB pernambucano a conseguir reeleição. Os atuais deputados federais do Gonzaga Patriota, Tadeu Alencar e Milton Coelho ficaram, respectivamente, como 1ª, 2ª e 3ª suplências do partido.
Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) ganha +1 assento
A federação partidária formada por Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Verde (PV) alcançou 535,8 mil votos e garantiu três cadeiras. Os partidos, juntos, possuem atualmente duas cadeiras: Carlos Veras (PT) e Renildo Calheiros (PCdoB). Ambos foram reeleitos e ganham a companhia de Clodoaldo Magalhães (PV). Natural de Palmares, na zona da mata sul, Magalhães é médico, gay e deputado estadual em 3º mandato.
Veras (PT) saltou de 72 mil votos (2018) para 127,5 mil votos (2022) e foi o mais votado do grupo. Clodoaldo (PV) fez 110 mil votos e Renildo Calheiros (PCdoB) subiu pouco, de 57,9 mil (2018) para 59,7 mil (2022).
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Em busca da vitória no segundo turno, Marília Arraes fala em diálogo com forças progressistas
Na federação o PCdoB fez 63,8 mil votos e o PV fez 116,4 mil, de modo que seus parlamentares não teriam sido eleitos sem a aliança com o PT. Este, por sua vez, teve 355,6 mil votos, sendo o 6º partido com mais votos no estado, e poderia ter eleito dois federais caso não estivesse em federação. Os três primeiros suplentes da federação são do PT: a vereadora e professora de direito Liana Cirne (57,3 mil), o engenheiro elétrico e ex-deputado federal Fernando Ferro (38,9 mil) e a professora e deputada estadual Dulci Amorim (22 mil).
Rede-PSOL mantém espaço
A federação Rede-PSOL atualmente possui uma das cadeiras pernambucanas na Câmara Federal e, neste domingo (2), Túlio Gadêlha (Rede) conseguiu manter a cadeira após conquistar 134 mil votos (em 2018 foram 75 mil). Ainda na federação, Robeyoncé Lima (PSOL) foi um fenômeno deste pleito. Codeputada estadual no mandato coletivo das Juntas, a advogada recebeu 80,7 mil votos e ficou como primeira suplente de Túlio. A federação Rede-PSOL somou 266,8 mil votos, sendo 151 mil da Rede e 115 mil do PSOL. Se o grupo obtivesse cerca de 30 mil votos a mais, Robeyoncé seria mais uma transexual – e negra – na Câmara Federal.
Marília elege irmã estreante na política
Em meados de abril, quando Marília Arraes deixou o PT para assumir a candidatura ao Governo do Estado pelo partido Solidariedade, também ficou definido que ela tentaria “manter” a cadeira da Câmara Federal, agora com sua irmã mais nova, a advogada Maria Arraes, de 28 anos e que nunca havia se candidatado. Apesar de uma chapa com apenas 13 candidaturas do Solidariedade, a dobradinha Marília-Maria deu certo: o partido alcançou 196 mil votos, sendo 104,5 mil de Maria Arraes, 12ª mais votada do estado. A primeira suplente do SD é Fabíola Cabral, que teve 40,6 mil votos.
Clã Oliveira também mantém cadeira
Em estratégia similar à de Marília Arraes, o seu candidato a vice-governador Sebastião Oliveira (Avante) também obteve sucesso ao colocar o irmão na disputa pela Câmara Federal. Com 26 candidaturas, o Avante fez 225 mil votos e garantiu a vaga de Waldemar Oliveira (141 mil votos) na Câmara Federal. Sebastião e Waldemar são os herdeiros políticos de Inocêncio Oliveira, que teve nada menos que 10 mandatos federais consecutivos, de 1975 a 2014, quando Sebastião foi eleito para seu lugar. A base eleitoral da família é Serra Talhada.
Republicanos com menos IURD e mais Centrão
O partido Republicanos, fundado e controlado pela Igreja Universal do Reino de Deus, manteve suas duas cadeiras por Pernambuco. Silvio Costa Filho, que não tem vínculo religioso com a IURD, se filiou em 2018 como estratégia eleitoral e conseguiu se reeleger, subindo de 109 mil votos (2018) para 162 mil (2022). O outro federal do partido é o líder religioso bispo Ossésio Silva, mas que acabou derrotado, com 72 mil votos, ficando na 1ª suplência. Sua cadeira será ocupada por Augusto Coutinho (101 mil votos), tradicional figura do centrão, com passagens por DEM e Solidariedade, mas que se filiou ao Republicanos como estratégia eleitoral.
Raul Henry perde mandato para estreante
Figura tradicional do MDB pernambucano, o “jarbista” Raul Henry foi derrotado em sua tentativa de conquistar o 4º mandato na Câmara Federal. O seu partido conseguiu com folga superar o coeficiente eleitoral, mas garantiu apenas uma vaga. E os 72,3 mil votos de Henry permitiram que ele fosse superado por Iza Arruda, jovem fisioterapeuta de 35 anos, filha do prefeito de Vitória de Santo Antão. O município não elegia um deputado federal havia décadas. Iza Arruda teve 104 mil votos. O 1º suplente é Raul Henry e o 2º suplente é Elias Gomes, ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho.
PP dobra número de cadeiras
O PP de Eduardo da Fonte subiu de dois para quatro o número de deputados federais eleitos por Pernambuco. Com 680 mil votos, o partido além de reeleger Fernando Monteiro (9,7 mil votos) e Eduardo da Fonte (124 mil), ainda elegeu o filho de Eduardo, o estreante Lula da Fonte (94 mil votos) e a mais votada da bancada, a bolsonarista Clarissa Tércio, com 240 mil votos, ficando com o posto de 2ª mais votada de Pernambuco. A 1ª suplente da bancada é a missionária Michele Collins, vereadora do Recife e tradicional nome do conservadorismo local.
Atual deputada estadual, a bolsonarista Clarissa Tércio faz vídeos ao vivo provocando adversários, publicações com notícias falsas nas redes sociais, mas vai muito além: administra a franquia religiosa Assembleia de Deus Ministério Novas de Paz, com centenas de templos no estado, além de uma rádio (Novas de Paz), que é a mais ouvida da Região Metropolitana do Recife, utilizada como disseminador de ideias similares às que publica em suas redes.
União Brasil ganha +1 cadeira
Surgido da fusão entre Democratas e PSL, o União Brasil (UB) teve 461 mil votos e ganhou mais uma vaga por Pernambuco em Brasília. Seus dois federais atuais foram reeleitos: Fernando Bezerra Coelho Filho obteve 155 mil votos e Luciano Bivar 74 mil. O partido também elegeu outra figura tradicional da direita no estado: o ex-governador Mendonça Filho, que foi deputado federal por dois mandatos (2010-18), foi ministro da Educação do governo Temer e, em resposta, acabou derrotado no pleito de 2018, quando tentou vaga para o Senado. Agora bolsonarista, Mendonça teve 76 mil votos e está de volta a Brasília a partir de 2023.
PL cresce em +1
O Partido Liberal (PL), nova casa partidária do bolsonarismo, foi o 3º partido mais votado de Pernambuco, com 636 mil votos, o que lhe garantiu quatro deputados federais eleitos, um a mais do que possuía. Irmão do “candidato de Bolsonaro” para o Governo do Estado, o federal André Ferreira foi o candidato mais votado do estado, com 273 mil votos. Também foram reeleitos o Pastor Eurico (100 mil votos) e Fernando Rodolfo (60 mil). O partido também elegeu o Coronel Meira (79 mil), que pela primeira vez sai vitorioso de uma disputa eleitoral. Em 2018 teve 12,7 mil votos para federal e em 2020 apenas 2 mil para vereador do Recife. Antes, como coronel da Polícia Militar de Pernambuco, era conhecido por comandar ações violentas.
Outros derrotados
Também perderam mandato, por sequer atingirem o coeficiente eleitoral, os deputados federais Daniel Coelho (CD), Ricardo Teobaldo (Podemos) e Wolney Queiroz (PDT). Daniel está concluindo seu 2º mandato na Câmara e foi o 11º mais votado de Pernambuco este ano, com 110,5 mil votos. Mas a federação composta pelo seu Cidadania e pelo PSDB somou 141 mil votos (o índice mínimo para eleger um foi de aproximadamente 160 mil) e Coelho ficou de fora.
O Podemos de Ricardo Teobaldo fez melhor: somou 156 mil votos, chegando muito perto do coeficiente, mas ainda abaixo. Outro que perdeu espaço foi o PSD de André de Paula, já que este tentou uma vaga no Senado e acabou derrotado. No campo progressista, o caruaruense Wolney Queiroz (PDT) teve 63 mil votos e o PDT somou 140 mil, insuficiente para renovar o mandato do pedetista, que encerra em dezembro seu 5º mandato federal.
Edição: Vanessa Gonzaga