Pernambuco

Coluna

Refundar a Política

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"No Brasil, as eleições nacionais mais do que apenas representar a escolha de candidatos, significa a possibilidade de optar por um projeto de país para todas as pessoas" - Carol Ferraz/ ATBr
A maioria do povo sente a necessidade de retomar a dignidade da política

No mundo inteiro, cresce o número de pessoas e grupos que sentem a necessidade de restituir à Política um espírito e modo de atuar que parecem esquecidos ou desvalorizados. No Brasil, as pastorais sociais ligadas à Igreja Católica e a algumas confissões evangélicas desenvolveram o projeto “Reencantar a Política”. Isso significa aprofundar a ação Política como caminho de participação de toda sociedade na construção do bem comum. A Política parlamentar e representativa supõe um trabalho político de base que vai suscitando uma Política participativa e, o quanto possível, mais direta.  

Na Itália, no início de setembro, na Città di Castelo, um congresso de organizações sociais teve como tema: “A urgência da Política”. Apesar disso, no domingo, 25 de setembro, o povo italiano elegeu como governo uma coalizão de direita, populista e com ideias neofascistas, que apontam no sentido contrário ao da construção de uma sociedade mais inclusiva.  

No Brasil, as eleições nacionais mais do que apenas representar a escolha de candidatos, significa a possibilidade de optar por um projeto de país para todas as pessoas. O voto contra o atual ocupante da presidência revela que a maioria do povo sente a necessidade de retomar a dignidade da Política, como campo no qual pessoas e grupos das mais diferentes correntes sociais debatem com liberdade e respeito ao diferente sobre a construção de uma pátria comum que cuide da mãe Terra e promova a justiça eco-social, a mais integral possível. 

Neste caminho, a Política se exerce como em duas dimensões: A mais imediata é restabelecer a humanização da convivência Política na pluralidade de partidos e de tendências humanas, sem demonizar o diferente. Isso supõe o embate entre propostas e projetos políticos, nos quais dos dois lados, as pessoas respeitem a Ética e o caráter laical da sociedade, sem dar lugar ao ódio, à intolerância e desumanização do outro. 

Ao mesmo tempo que a Política é a arte de construir o que é possível nas condições atuais, tem como vocação apontar para a ousadia de promover a justiça eco-social, baseada em maior igualdade entre as pessoas e o respeito aos direitos individuais e comunitários de toda pessoa humana e dos povos como sujeitos coletivos. 

Essa Política com P maiúsculo é a grande Política que traduz mais profundamente a solidariedade que, como Pedro Casaldáliga dizia, expressa a ternura no nível coletivo e comunitário. Este patamar da Política abre a porta para outro horizonte que responde à vocação humana de construir a utopia.

Nos mais diversos caminhos de espiritualidade, a fé se vive na adesão ao projeto de amor social e bem-viver. Cada tradição expressa da sua forma e com nomes diversos: Compaixão no Budismo. Misericórdia na fé muçulmana. Reinado divino na tradição judaico-cristã. Axé para a espiritualidade afro. Bem-viver nas culturas dos povos originários. 

Trata-se sempre de construir um mundo de Paz, Justiça e Amor. Nos evangelhos, Jesus propõe que peçamos a Deus que “o seu reino venha” e nos encarrega de sermos testemunhas do reinado divino na construção social e política de um mundo novo possível. Que nossa inserção na Política seja expressão desta esperança maior.

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga